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VIOLÊNCIA POLICIAL FRANÇA | Contra os violadores de Théo. Nova noite de tensões em Seine-Saint-Denis

Uma nova vez desde domingo, a noite de terça-feira para quarta-feira foi marcada por um cerco policial de Aulnay-Sous-Bois a Aulnay. Evidência de que as declarações de Hollande sobre uma “justiça que faz seu trabalho” e os apelos à calma, são hipócritas.

quarta-feira 8 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Visita ao hospital

Ciente da situação explosiva em Aulnay e para evitar que o conjunto da periferia norte de Paris se transforme num cenário como o de 2005, o executivo mudou de postura e tomou direção diferente do que foi feito na época dos assassinatos de Zyed e Bouna. Em 2005, o prefeito de Seine-Saint-Denis e o diretor departamental da segurança pública estavam zelosos em afirmar que não tinham ocorrido falhas da parte dos policiais, enquanto que o governo não tinha demonstrado nenhuma prova de compaixão com a família dos adolescentes mortos eletrocutados.

Diferentemente, após a noite de confrontos de segunda para terça-feira, Hollande mesmo visitou Théo, que segue internado no Hospital Robert-Ballanger desde a violação que sofreu por quatro policiais durante um controle de identidade, na quinta-feira passada. Paralelamente, Bruno Le Roux, ministro do interior, saindo de sua reserva habitual, em nome da “presunção de inocência” condenou na Assembleia os “fatos de uma gravidade evidente”. É claro para todo o mundo que as violências sofridas por Théo, mostradas no BFM e reproduzidas no Le Parisien, são de uma brutalidade desconhecida. Entretanto, o Eliseu (sede do governo francês) se encarregou de difundir largamente o vídeo do presidente em companhia de Théo, visivelmente chocado, o convidando a lançar um apelo à calma para os jovens de Aulnay. Mas enquanto tratam a questão como uma operação de comunicação, e apesar dessa visita mostrar suposta compaixão presidencial, a situação in loco é outra.

Cerco de Aulnay-Sous-Bois

Na terça-feira, um helicóptero da polícia munido de holofotes recomeçou a rondar na noite sobre uma cidade semi-mergulhada na escuridão, enquanto os CRS (força especial da polícia nacional francesa) continuavam a patrulhar, seguidos por efetivos da polícia montada, enviados em grande número. Apesar dos gestos de apaziguamento e das promessas de justiça do governo, que Théo foi convidado a apoiar, 17 jovens serão a partir de hoje levados à justiça de Bobigny dentre os 25 presos na noite de segunda para terça-feira, aos quais é preciso juntar ainda os cinco detidos na noite de domingo. Os jovens presos, dos quais onze são menores de idade, serão julgados por “emboscada” e “multidão com arma e violências voluntárias” lá onde os únicos reais culpados por armadilhas e por multidões armadas e perigosas, em Seine-Saint-Denis, são a polícia.

In loco, portanto, a violência contra os jovens continua. A estratégia do Eliseu não é somente de uma hipocrisia sem nome: ele faz de tudo para apagar o incêndio antes que se espalhe, através do envio de sinais de boa vontade e ao dar carta branca no local para um grande golpe. Ele não pode, caso contrário, explicar como duas equipes da BAC (Brigada Anti-Criminalidade) foram capazes de usar suas armas de punho atirando “em direção ao céu”, segundo a direção da polícia, ter gasto granadas de gás lacrimogêneo e de ter esgotado suas reservas de cartuchos Flashball LBD40. É o duplo clima de impunidade, que reina após as manifestações de policiais, e do apoio tácito do governo “tanto que não haja rebarbas”, segundo a comitiva de Cazeneuve (primeiro-ministro francês), que criou essa situação totalmente intolerável em Aulnay. Na noite de terça para quarta-feira, novamente, os confrontos continuaram.

Fazer frente para impor a justiça e a saída das forças de repressão

Desde que seja possível as hierarquizar, as violências sofridas por Théo são de uma extrema gravidade. Nesse sentido, a reação dos jovens de Aulnay é absolutamente legítima e é por isso que, todos juntos, deveríamos apoiá-la. As manifestações localizadas que aconteceram em Paris ou em Toulouse, na terça-feira à noite, são um primeiro passo, mas não são suficientes se queremos apoiar esse combate contra as violências policiais e a repressão.

O único modo de desatar a mobilização, o que o governo tem medo, seria permitindo sair do face-a-face noturno e local com as forças de repressão. Para não repetir o cenário de 2005, que foi de isolamento das revoltas e silêncio passivo das organizações da nossa classe, deveria o conjunto das correntes sindicais e políticas do movimento operário, da juventude e das classes populares denunciar o que está acontecendo, fazer ecoar as exigências de justiça dos jovens do bairro Rose-des-Vents e exigir o fim do cerco militar da cidade e do bairro pela polícia.

Os sindicatos de docentes dos estabelecimentos de Aulnay e do departamento deveriam convocar para paralisar o trabalho em solidariedade a uma juventude caçada e perseguida pela polícia; as uniões locais e departamentais dos sindicatos, a começar pela CGT, Solidaires e a FSU, deveriam chamar a se solidarizar para que cesse essa situação de ocupação militar dos bairros. Se Le Pen tem seu “princípio de base”, a saber, de “apoiar os policiais”, nós não podemos não ter os nossos.

Cercar-se do movimento atual, o divulgar e apoiar poderia cumprir um papel fundamental para que nós possamos fazer frente contra o racismo institucional dos controles de identidade e contra as violências policiais. Não é nem o governo, nem o presidente, nem o prefeito de Aulnay, que permitirão que toda a luz recaia sobre o “caso Théo”. Se todos, de direita como de esquerda, temem um incêndio da juventude às vésperas de uma “eleição presidencial tobogã”, isto é porque, todos juntos, teríamos a força para impor que justiça seja feita e que as forças da polícia se retirem dos bairros ocupados.




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