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TENSÕES NAS FRONTEIRAS | Confrontos mortais entre soldados chineses e indianos no Himalaia

A noite de segunda para terça-feira foi palco de um conflito violento entre soldados indianos e chineses. Esses confrontos, que mataram pelo menos 20 pessoas no lado indiano, são os mais graves em mais de quarenta anos. Os dois países se opõe em uma disputa territorial que dura desde o final da década de 1950 e é real o risco de escalada, exacerbado por diferentes nacionalismos.

quinta-feira 18 de junho de 2020 | Edição do dia

Crédito das foto: STRINGERS / REUTERS

No planalto de Ladakh, uma região de alta altitude localizada no norte da Índia, entre 200 e 300 soldados indianos e chineses colidiram violentamente com punhos, pedras e barras de ferro. O conflito matou 20 soldados indianos, incluindo um comandante, e deixou mais de 70 pessoas feridas. No lado chinês, nenhum número foi divulgado oficialmente, mas os fatos parecem indicar que as vítimas serão igualmente lamentadas. Este raro incidente violento marca o evento mais sério que ocorreu entre os dois países desde 1975.

No final da década de 1950, as relações entre China e Índia tornaram-se tensas nas fronteiras do Himalaia. Desenhadas por geógrafos britânicos e sujeitas aos caprichos de deslizamentos de terra frequentes nesses territórios de alta altitude, essas fronteiras são facilmente objeto de disputas ou mesmo de confrontos. Razões de política interior levaram a Índia a ser mais firme com a China nessa questão no início dos anos 60. Em 1962, uma guerra aberta de um mês estourou entre os dois países. A China comunista, fiel à sua doutrina defensiva não expansionista, finalmente se retirou apesar da clara vitória militar e da conquista do território de Aksai-chin, localizado a noroeste do platô tibetano. Em 1965, a China abertamente tomou partido do Paquistão em sua guerra contra a Índia. Embora a oposição oculta não tenha cessado durante a segunda metade do século XX, não houve derramamento de sangue desde 75.

Em 2005, os dois países pareciam querer chegar a um "acordo de princípios" para uma solução "definitiva" do conflito. Desde então, porém, a China e a Índia vêm construindo uma série de infraestruturas em ambos os lados da fronteira, facilitando notavelmente o movimento de tropas e equipamentos militares. Na realidade, a disputa territorial tem, no lado indiano, como causa interior a aliança histórica da China com o Paquistão. No lado chinês, a disputa de fronteira serve como pretexto para a instalação intransigente de uma hegemonia territorial, econômica e política. De fato, Pequim está tentando estabelecer um domínio duradouro sobre um imenso território ocidental, base e pilar de suas novas rotas da seda, mas em que o poder central ainda luta para se consolidar de fato.

A situação é grave e o risco de escalar é real. Assim explica o jornal Foreign Policy em seu artigo sobre os eventos de segunda-feira. As pressões nacionalistas de ambos os lados poderiam contribuir ao possível descontrole da situação. Embora o risco de guerra aberta entre as duas potências nucleares asiáticas ainda seja muito improvável, é possível que se testemunhe, no futuro próximo, a perigosa multiplicação de conflitos diretos entre militares.

Esse risco é um tanto mais sério com Pequim mudando profundamente sua doutrina sobre política externa desde a chegada ao poder de Xi-Jinping. Enquanto a China maoísta se baseou fundamentalmente em sua defesa e integridade territorial, a do novo presidente chinês está considerando de muito séria a possibilidade de expansão ativa, como evidenciado pelo conflito militar frio no mar do Sul da China. Do ponto de vista do Partido Comunista Chinês, sua política nas fronteiras não pode, neste contexto histórico muito incerto, mostrar suas fraquezas, correndo o risco de minar as bases de sua nova doutrina e de seu próprio poder.

Jean Beide ao Revolution Permanente.




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