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MACHISMO INSTITUCIONAL | Com pena branda, USP permite formatura de estudante estuprador

Daniel Tarciso da Silva Cardoso, estudante de Medicina da USP e acusado de ao menos dois casos de estupro, está sendo investigado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e terá como pena apenas a indeferência do registro profissional, o CRM, "até acesso integral aos autos de sindicância e processo da faculdade."

Raíssa CampachiCoordenadora do Centro Acadêmico de Ciências Humanas (CACH)

quinta-feira 10 de novembro de 2016 | Edição do dia

Daniel Tarciso da Silva Cardoso, estudante de medicina da Universidade de São Paulo (USP), de 34 anos é acusado de estuprar aluna do curso de Enfermagem em uma festa da Universidade em 2012; o estudante também é acusado pelo estupro de pelo menos mais uma estudante em evento da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP).

Para além do fato de o estupro ter ocorrido quatro anos atrás, o estudante estuprador, que está sendo investigado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), terá como pena apenas a indeferência do registro profissional, o CRM, "até acesso integral aos autos de sindicância e processo da faculdade." A Superintendência Jurídica do órgão pediu à faculdade a cópia dos procedimentos administrativos a que o aluno foi submetido.

Segundo o Conselho, na decisão de indeferência na última quarta feira, dia 9, "o Cremesp não pode furtar-se à sua missão e responsabilidade legal de proteger a Medicina e a sociedade, como bens maiores e absolutamente indissociáveis"; porém, mesmo sem a obtenção do CRM, o assediador Daniel Cardoso poderá se formar e comemorar sua formatura com todos os outros alunos e alunas.

Na quarta-feira, alunas da universidade protestaram contra a formatura do aluno e os casos de violência sexual contra mulheres. A Faculdade de Medicina da USP informou que "o caso do estudante está em análise jurídica pela universidade para verificar se existe a obrigatoriedade de conceder a colação de grau ao aluno após ter cumprido a suspensão imposta" e ressaltou que o caso continua na Justiça. O advogado de Cardoso não foi localizado.

As REItorias de todas as Universidades são coniventes com os casos de estupros, assédios e machismo que acontecem de ano a ano, seja nos períodos de calourada, os primeiros meses de aula dos ingressantes na Universidades, seja em todo um ano letivo, em toda a graduação. Poucos são os casos de estupros e assédios que se tornam públicos, poucas são as respostas das Universidades.

Esse não é um caso isolado, mas um dos únicos publicizados nos últimos tempos, em que a Universidade, nesse caso, a USP, se viu obrigada a dar uma resposta, resposta esta que durou 4 anos para que se chegasse a uma decisão. Abriram uma sindicância contra o aluno e dalí discorreram quatro anos de impunidade de Daniel. Abriram a discussão sobre o machismo na Universidade? Não. Falaram sobre abusos de poder e assédios? Não. Investiram em iluminação nos lugares mais afastados, escuros, etc.?
Não. A polícia militar no campus em algum momento contribui de fato para a verdadeira segurança dos alunos? Não e nem pode, pois ela está a serviço da REItoria, que está a serviço do governo.

Qual então a resposta da Universidade diante de mais um caso de estupro? Pra além da sindicância que correu livre, impôs uma suspensão imediata ao aluno, que seguiu sua vida normalmente. Tal não é uma resposta; menos ainda consequente, mantendo o machismo e a violência sexual contra a mulher na Universidade. Uma punição branda e por fora da comunidade universitária; principalmente, por fora dos estudantes; por fora dos que sofrem essa violência dia a dia.

É necessario que os estudantes utilizem as suas entidades, principalmente o DCE (Diretório Central dos Estudantes), como resistência e combate ao machismo e todas as opressões na Universidade através de secretarias auto-organizadas que debatam e tenham planos consequentes de ação e discussão de combate às opressões.




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