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GREVE DOS PROFESSORES DO PARANÁ | Com bombas e sangue dos professores, Beto Richa ataca aposentadoria no Paraná

Simone IshibashiRio de Janeiro

quinta-feira 30 de abril de 2015 | 04:00

Os professores do Paraná foram alvo de um verdadeiro aparato de guerra, comandado pelo governador Beto Richa, do PSDB. Foram mobilizados mais de 2000 policiais, além de helicópteros que atiravam bombas de gás na multidão, cães, balas de borracha incessantes e carros blindados. O canhão de água, que havia sido comprado para a Copa do Mundo, foi usado no Paraná contra os professores.

O resultado foram cenas que estão chocando o país. Professoras já na idade de se aposentar com ferimentos graves. Outros com marcas de tiros de bala de borracha no meio dos olhos, o que mostra que a polícia mirou no rosto dos professores.

Os números oficiais relatam 200 feridos. Mas é provável que haja muitos mais. Um verdadeiro massacre, que a própria grande mídia é obrigada a reconhecer frente às cenas que se divulgam amplamente na internet. Beto Richa transformou as imediações da ALEP, Assembleia Legislativa do Paraná, numa verdadeira praça de guerra.

Tudo para garantir a votação de um projeto que altera as aposentadorias, de modo a diminuir a contribuição do estado. Algo que prejudicará 33 mil aposentados com mais de 73 anos. Tendo como trilha sonora a saraivada de bombas e tiros, os parlamentares paranaenses votaram a emenda, por 31 votos a 20. E não contente, membros do PSDB do Paraná, como o deputado Rossoni tentaram desqualificar os professores afirmando que “O Poder Legislativo [do Paraná], há mais de uma semana, tenta votar o projeto de autoria do Executivo e alguns, vestidos de sindicalistas, não permitem a votação.”

Chorando e com dificuldade de abrir os olhos por causa da nuvem de gás que tomou conta do local após a repressão, uma professora indaga às câmeras: “É isso o que eu mereço? Sou professora há 23 anos, e é assim que me tratam? Com bomba na cara?”. Essa questão lançada pela professora paranaense indignada tem que repercutir em todo o país. E não apenas entre os professores, mas entre todos os setores da classe trabalhadora, juventude e do povo. De que maneira os professores são tratados hoje?

Frente ao que houve com os professores do Paraná em 29 de abril, a resposta a essa pergunta é clara. O professor, apesar de ser considerado como uma profissão crucial para a sociedade, recebe valorização inversamente proporcional ao seu papel social. É o mais mal pago dentre as carreiras públicas com ensino superior. Frequentemente é alvo do cinismo dos governos e da grande mídia, que o culpa a má qualidade da Educação, criada e reproduzida como política de Estado. Encaram jornadas de trabalho exaustivas, em péssimas condições. E quando se manifestam pelos seus direitos, e pelos interesses de todos os trabalhadores e seus filhos de que haja uma Educação pública, gratuita e de qualidade, não raro são atacados duramente, seja com perseguição e assédio moral nas escolas, seja com repressão como a ocorrida hoje.

Enquanto essas linhas são elaboradas há diversas greves de professores ocorrendo no país. São Paulo, com quase 50 dias, Santa Catarina, Macapá contra um governo do PSOL, Betim, Pará, Pernambuco, Goiânia são algumas delas, enquanto há indicativos de muitas outras. Mas a greve do Paraná desde que fora anunciada no dia 25 de abril já era a mais emblemática. Foram os professores do Paraná os que demonstraram em fevereiro desse ano a força que podem ter. Naquela ocasião, apesar do cerco da grande mídia, todos seguiram como os determinados professores do Paraná ocuparam a ALEP, impediram a votação de uma série de ataques elaborados pelo governo de Beto Richa. E protagonizaram uma cena carregada de alto grau de simbolismo ao obrigarem os políticos a saírem escoltados de camburão. Essa força da mobilização dos professores do Paraná serviu como inspiração para todos os educadores.

Com a ferocidade da repressão de hoje, o governador tucano do Paraná não quer apenas garantir a aprovação do ataque à aposentadoria. Quer derrotar pela força física a greve mais emblemática que houve entre os professores em muito tempo. E dessa maneira contribuir para que não haja uma unidade entre todas essas lutas, tão necessária para reverter a precariedade da Educação e dos professores que reina atualmente.

Enquanto os professores paraenses apanham, a corrupção corre solta

O governo tucano de Beto Richa é implacável contra os professores. Mas complacente com os escândalos de corrupção. No início desse ano veio à tona uma série de evidências, que comprovam que a administração de Beto Richa está marcada por um esquema de desvio de verbas públicas, e fraudes de licitações para contratos de manutenção da frota de veículos do governo. Todos os envolvidos eram bastante próximos do governador tucano. Dentre eles estava Luiz Abi Antoun, primo do governador, e nomeado por ele para o cargo de assessor de seu gabinete. Como se isso não bastasse, há até escândalos envolvendo formação de quadrilha de exploração e abuso sexual de menores de idade, chefiado por Marcelo Caramori, assessor da governadoria do Estado, e que carrega em seu braço uma tatuagem com os dizeres “100% Beto Richa”.

Essa é a verdadeira face do governo do estado paranaense. Tal como no resto do país, isso é mais uma demonstração de que enquanto os governos buscam cortar orçamentos da Educação sob o argumento de manter a “responsabilidade fiscal”, a verba continua fluindo tranquilamente para os bolsos dos seus apadrinhados, dos empresários e funcionários de alto escalão. Isso ocorre tanto no âmbito do governo federal, como nos estados e municípios. Por isso, é preciso ligar as lutas dos professores e demais em defesa da Educação que já estão ocorrendo, com a demanda de que todos os políticos ganhem o mesmo que um professor. E que cada professor tenha como piso mínimo o equivalente àquilo que receberia com uma carreira de dez anos.

Unir e coordenar as greves em curso

A profusão das greves de professores que assolam o país mostra que a Educação é um tema candente no cenário nacional atual. O corte promovido por Dilma de 7 bilhões de reais no orçamento nacional dessa pasta, o fato de que em um governo como o de Pimentel em MG o piso nacional não é implementado, e a maneira como os governos de Beto Richa, ou Geraldo Alckmin tratam os professores, demonstra que no quesito ataque à Educação não existe polarização entre PT e PSDB. Pelo contrário.

Por isso, é preciso que se lute seriamente pela unidade das greves e mobilizações em curso, partindo de rodear de solidariedade ativa os professores do Paraná, e repudiar ativamente o inadmissível ataque sofrido por eles pela polícia de Beto Richa.

A coordenação de todos os setores que hoje se levantam contra os ataques à Educação, e pela melhoria das condições de trabalho do professor é urgente, e a chave para golpear os planos que os partidos da burguesia estão levando a cabo. Os sindicatos de professores em sua maioria dirigidos por setores da CUT não podem, nem querem atuar nessa perspectiva. As oposições que atuam nos sindicatos de professores e trabalhadores da Educação devem impulsionar a mobilização pela base, buscando romper o corporativismo, e organizando um encontro de todos os setores em luta, em que se possa votar um plano de mobilização comum capaz de arrancar as reivindicações postas em pauta. Qualquer oposição sindical hoje que não se coloque a serviço disso, não merece ser considerada como tal.

Foto: Agência Paraná.




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