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ARÁBIA SAUDITA - IRÃ | Choque entre Arábia Saudita e Irã acende o pavio no Oriente Médio

A Arábia Saudita rompeu relações diplomáticas com o Irã neste domingo, depois do incêndio de sua embaixada neste país, uma resposta ao fuzilamento do líder opositor xiita Nimr ao-Nimr. A escalada de enfrentamentos entre ambas potências acende o pavio no Oriente Médio.

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

terça-feira 5 de janeiro de 2016 | 00:33

Depois do fuzilamento do clérigo xiita Sheikh Nimr ao-Nimr no sábado, junto com outros 46 detidos na Arábia Saudita, a reação do Irã não se fez esperar. O Irã vem exigindo a libertação do clérigo. O rei saudita tinha o poder de suavizar a pena, mas decidiu seguir adiante com a execução, em um claro desafio a Teerã. Alguns dos condenados foram executados e outros enforcados, e em alguns casos foram exibidos publicamente os corpos pendurados.

O aiatolá Ali Jamenei, máximo líder religioso iraniano, expressou-se duramente: “A vingança divina cairá sobre os políticos sauditas”, disse. E questionou o “silêncio dos que supostamente defendem a liberdade, a democracia e os direitos humanos” sobre a execução. Em uma referência direta aos aliados ocidentais da Arábia Saudita, completou: “Porque estão calados aqueles que dizem defender os direitos humanos? Porque aqueles que dizem respaldar a liberdade e a democracia apoiam este governo?”

A execução do clérigo opositor gerou uma onda de protestos da comunidade xiita no Oriente Médio, assim como enfrentamentos com as forças policiais nas zonas da Arábia Saudita onde se concentra a minoria xiita.

No Irã um grupo de manifestantes incendiou a embaixada saudita, enquanto que em Bahrein, dezenas de pessoas ficaram feridas em choques com a polícia, com disparos de balas de borracha e gases lacrimogêneos. Os manifestantes entoaram cânticos como "abaixo o regime" e "morte a Al Saud (em referência à monarquia da Arábia Saudita)".

Em outros países como o Líbano, o Paquistão e a Índia também houve manifestações em repúdio ao fuzilamento do clérigo e outros opositores, entre os quais se encontram alguns jovens que foram condenados quando eram menores de idade, por participar em manifestações em oposição ao regime.

A ruptura de relações diplomáticas parece ser tão somente a ponta do iceberg de uma nova escalada entre as duas potências regionais, que se encontram enfrentadas em todos os conflitos que atravessam a região, com importantes repercussões globais.

Como assinala um artigo do New York Times neste domingo, a rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã foi um fator chave na região por longo tempo, mas seu enfrentamento se agudizou nos últimos anos, desde que a guerra do Iraque e o processo das primaveras árabes jogaram pelos ares todos os anteriores equilíbrios regionais.

Nas últimas conflagrações regionais os dois estados estiveram em grupos opostos. Em Bahrein, a Arábia Saudita apoiou militarmente a repressão da monarquia sunita frente ao levantamento popular e o movimento opositor encabeçado pela maioria xiita.

Na Síria, enquanto o Irã apoia seu aliado Bashar Al Assad, a monarquia saudita colaborou com o financiamento e armamento de grupos rebeldes sunitas que combatem contra o governo desde o começo da guerra civil neste país, há quatro anos.

No Iêmen, os sauditas estão levando adiante uma brutal campanha militar com bombardeios contra a população civil Houthi, rebeldes de influência xiita.

Mas o que terminou de provocar a escalada de tensões foi o acordo nuclear entre o Irã e os Estados Unidos, que abre a porta para que o Irã “saia do frio” do bloqueio, tente recuperar sua economia petroleira e brigar por maior influência econômica e política a nível regional.

Mais recentemente, a morte de 500 a 700 peregrinos iranianos entre os 2400 que morreram na explosão durante a peregrinação à Meca, jogou gasolina na conflitiva relação entre ambos países. Teerã responsabiliza os sauditas por este fato, devido a que eles são os responsáveis da organização e da segurança durante a mesma.

A questão síria mais longe de um acordo

A escalada entre Irã e Arábia Saudita põe em suspenso as tentativas de alcançar alguma solução “negociada” para a crise síria, tal como se apresentou na cúpula de Viena no fim de outubro passado, com representantes de Estados Unidos, Arábia Saudita, Irã, Rússia, Turquia, vários países do Oriente Médio, França, Reino Unido, Itália, Alemanha, a União Europeia, a ONU e a China.

A isto se soma a crise entre Turquia e Rússia, depois da derrubada de um avião russo pelo exército turco. Questões que mostram que a possibilidade de um acordo na Síria em 2016 será um objetivo muito difícil de alcançar.

Uma guerra civil que completará seu quinto ano, e onde morreram mais de 250.000 pessoas, provocando a maior crise de refugiados desde a segunda guerra mundial, que golpeia diretamente a Europa.




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