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METRÔ | Central Sindical UGT divide os trabalhadores dos transportes no dia 20 e prepara traição

Larissa RibeiroMetroviária de SP e e militante do Mov. Nossa Classe e Pão e Rosas

sexta-feira 16 de abril de 2021 | Edição do dia

Foto: Valdevan Noventa, deputado federal (PL-SE) e presidente do Sindmotoristas de SP, ao lado de Bolsonaro.

Diante de uma situação de crise sanitária, política e econômica que afeta profundamente os trabalhadores e a população, trabalhadores do transporte em SP, como os metroviários e parte dos trabalhadores da ferrovia decidiram por entrar em greve por vacina para os trabalhadores no próximo dia 20 de abril, data para a qual dirigentes sindicais de rodoviários de SP também indicam paralisação de ônibus. Uma resposta às políticas negacionista por parte de Bolsonaro mas também demagógicas de governadores como João Doria em SP. Metroviários de Porto Alegre também aprovaram paralisação por vacinas e contra retirada de direitos para este mesmo dia, e do Distrido Federal para o dia 19. Mas os outros dois sindicatos de ferroviários também de São Paulo aprovaram greve para o dia 27 de abril e o sindicato que representa motoristas de aplicativos de SP (sindmoto-SP) chamou uma paralisação para o dia 16, dividindo a luta dos transportes.

Trata-se de uma política consciente de centrais sindicais patronais como a UGT, que dirige dois dos três sindicatos de ferroviários da CPTM em SP, o Sindmotoristas (rodoviários) e o Sindmoto (motoristas de aplicativos), e chamam greves em três datas diferentes nas três categorias de transportes que dirigem (16, 20 e 27/04), preparando o terreno para que não haja nenhuma ação mais radicalizada dos trabalhadores. Mostram que nunca apostam na força organizada e independente da classe trabalhadora pois essa burocracia sindical precisa garantir o seu lugar nesse regime e manter seus privilégios. Assim como já fizeram ao apoiar a MP 936 que rebaixou salários e suspendeu contratos em prol do patrão. Ou quando traíram greves nacionais como a de 2017 que culminou na aprovação da reforma trabalhista e a mesma coisa em 2019 quando foi aprovada a reforma da previdência

Há semanas vem ocorrendo diversas paralisações de rodoviários por todo o país contra os ataques da patronal e mortes por Covid. São todas reivindicações legítimas e em resposta às políticas de Bolsonaro e de governos locais como em SP com Doria que não disponibilizam EPIs adequados, testes e vacinas para estes trabalhadores na linha de frente, o que já resultou em centenas de mortes e milhares de afastamentos por Covid entre os trabalhadores do transporte. Além de governos e patronais se aproveitarem da pandemia para retirar direitos e avançar em ataques como o da terceirização de serviços que precariza o trabalho. Essa política resulta na precarização do serviço oferecido aos usuários que seguem expostos e se contaminando com a superlotação de vagões e ônibus por falta de contratação e investimento. 

Diante desse cenário é fácil de se perguntar se não seria mais forte um dia de luta nacional e unificado entre todos os setores dos transportes que teria também o potencial de ser um grande impulsionador para que outras categorias além dos transportes pudessem se levantar, já que também estão sofrendo com os ataques de Bolsonaro, governadores e prefeitos, com demissões e contaminações.
Essa política levada a frente pela UGT, de dividir os trabalhadores para garantir seus privilégios, fica mais clara quando vemos que Valdevan Noventa, presidente do Sindicato de Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano em SP (que é filiado à UGT), é deputado federal de Sergipe pelo PL (partido Liberal) e já votou a favor de 65% dos projetos de Bolsonaro. Foi apoiador de Arthur Lira (PP) para a presidência da câmara dos deputados, um representante do centrão e garantidor de mais ataques à classe trabalhadora. Até agora não convocou nenhuma assembleia de rodoviários para de fato votar uma greve e organizar desde a base os rodoviários para o dia 20, ficando apenas em palavras o suposto chamado à paralisação.

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Como mais uma prova da falta de independência de classe dessa central (e de outras como a CTB, ligada ao PCdoB), estão assinando uma carta articulada junto ao governador de SP João Doria (PSDB) onde exaltam o “esforço do Governo do Estado de SP para fornecer mais vacinas”, exigindo do governo Federal medidas de combate à pandemia. Um absurdo já que Doria só faz demagogia enquanto, ano após ano, só ataca os trabalhadores e tampouco garante vacinas para a maior parte da população ou medidas eficazes para o combate à pandemia.

Ao mesmo tempo, se encontra estampado na página do site da UGT o banner de chamado ao "dia nacional de luta e conscientização" no próximo dia 20, assinado pela UGT e outras centrais patronais como a Força Sindical, mas também as centrais CUT (ligada ao PT) e CTB, onde não citam nem sequer uma única vez Bolsonaro e protegem o governo, mesmo diante das mais de 360 mil mortes por Covid no país, demissões e desemprego generalizados. 

Ou seja, é um duplo movimento que a UGT faz. Frente ao governo estadual mostra disposição de boas intenções em negociar a pauta de vacinação com Doria, e em relação ao governo federal blinda Bolsonaro nas cartas conjuntas e materiais relacionados ao dia 20/04. Uma política típica de uma central ligada aos partidos do centrão, que são base tanto do governo Bolsonaro quanto do governo Doria, e que buscam se preservar no regime, se aliando às distintas frações burguesas nos momentos que lhe convém. 

Por tudo isso, fica evidente que não é de interesse desse tipo de direção, como UGT e Força Sindical, que a classe trabalhadora entre em cena de forma independente de governos e patrões e por isso seguem dividindo as mobilizações para as usarem em prol de seus próprios interesses. Ao mesmo tempo, as centrais sindicais como CUT e CTB, ligadas ao PT e o PCdoB, não tem sido alternativa para os trabalhadores e seguem coniventes com as traições das centrais sindicais patronais (assim como foram em 2019 com a traição da UGT diante da reforma da previdência), sem tomar ações nos sindicatos que dirigem ou um plano efetivo de lutas pela vacina e para barrar os ataques, enquanto esperam eleger Lula em 2022. Não a toa a CUT também assina esse material sobre o dia 20 que nem cita Bolsonaro, e a CTB, que é majoritária no sindicato dos metroviários de SP, assina tanto esse material quanto a carta de "unidade" articulada com Doria e entidades patronais.

Por isso nós da Chapa 4 Nossa Classe, que é minoria no sindicato dos metroviários de SP, temos dito que é preciso que as organizações de esquerda, como PSOL, PSTU e centrais sindicais como Conlutas - que é a única central que corretamente não assina nenhum desses materiais -, se organizem num polo antiburocrático para exigir dessas centrais que rompam com a sua paralisia e construam um plano nacional de lutas que comece pela unificação da greve nos transportes no dia 20. E que a CTB e CUT que conformam a maioria no sindicato dos metroviários de SP não podem se calar diante dessa traição da UGT. 




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