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SAÚDE PUBLICA | Casos de dengue se multiplicam no Distrito Federal: problema histórico e não resolvido por interesse do Estado

Assim como a infestação da COVID-19, a dengue tende a fazer mais vítimas onde impera a precariedade das condições de vida e no atual momento as duas enfermidades fazem concorrência em leitos e recursos de atendimento à saúde em vários pontos da região. Abordaremos também a dengue como doença social e, por fim, a necessidade do controle operário como solução. Nossas vidas valem mais que seus lucros!

quinta-feira 30 de abril de 2020 | Edição do dia

Atualidade da dengue no Distrito Federal

São pelo menos onze pessoas mortas pelo vírus da dengue no Distrito Federal nesses quatro meses de 2020, segundo a Secretaria de Saúde. A capital do país totaliza no mínimo 18.191 casos desde 29 de dezembro de 2019 até 04 de abril presente ano. No mesmo período do ano passado foram registrados 11.109 casos, o que significa um aumento de 63,75% de uma doença que deveria ser de fácil erradicação.

Desses mais de 18 mil infectados por dengue, 22 pessoas estão em estado grave e mais de 300 apresentam sinais de alarme. Os casos confirmados e as onze mortes se distribuem pelas cidades satélites com índices que confirmam as consequências da segregação espacial e escala de saneamento básico em voga no distrito. Ceilândia tem 2.276 casos e duas mortes, Gama apresenta 1.919 casos e duas mortes, Santa Maria 1.485 casos e uma morte. Outras regiões administrativas também afetadas por essa mazela de ordem social são Riacho Fundo II, Sobradinho I, Sobradinho II, Fercal e Guará.

A dengue como questão social

A dengue é um problema que se arrasta no Distrito Federal há mais de 20 anos e nenhum governo do distrito até agora se mobilizou para combater de fato. O descaso com uma doença que poderia ser facilmente erradicada é na verdade um sintoma daquilo que é mais doentio e penoso em nossa sociedade: os fundamentos de sua organização, ou seja, a lógica de suas relações em torno do acúmulo de capital. Essa lógica de relações é articulada pela conflitante divisão social do trabalho e, consequentemente, por classes sociais. Uma doença que acompanha décadas e gerações causando sofrimento, mortes e dívidas e, justamente por esses motivos, se mantém segundo os interesses do Estado e da classe burguesa dominante.

O Estado gasta milhões em campanha publicitária contra o Aedes aegypti, como se o mosquito em si fosse o problema e iniciativas de tratamentos superficiais e paliativos, mas são incompetentes para prover repelente natural atóxico ou telas mosquiteiras para a população de risco. A tática de prevenção oferecida é medíocre e parte do princípio de que é possível matar um mosquito de cada vez, cobrir um foco de cada vez, e esperar que um dia o problema seja superado. Logo o mosquito se reproduz e os focos se reabrem porque as condições materiais são cada vez mais precárias por conta da devastação ambiental e gentrificação (expulsão de populações de baixa renda para dar lugar à estabelecimentos ricos) que reina na capital do país.

A dengue é um fator da natureza comum ao ambiente tropical, mas sua disseminação caótica é, em todos os sentidos, de inteira responsabilidade do Estado e da gestão capitalista que detém de forma privada os recursos capazes de satisfazer as urgências da população. A forma de como Brasília foi planejada e construída é um grotesco exemplo de como a elite política e econômica que domina a hierarquia da sociedade brasileira executa a divisão social do trabalho com tradição escravocrata. Com esse princípio, Brasília foi construída por operários nordestinos que calejaram as mãos para edificar a poderosa arquitetura do centro e, em seguida, foram expulsos formando a periferia. Mitos de puro cinismo como a “cidade moderna e planejada” são enterrados pela realidade segregacionista da capital.

Dentro dessa lógica, a solução para a dengue nunca vai ser prioridade; na verdade se torna um vínculo de controle e manutenção social. Detendo tanto poder sobre a saúde, a vida e a espoliação do povo, os poderosos são capazes de ditar regras e comportamentos institucionais, o que lhes garante impor meios de alienação e submissão para manter a rotina do fluxo de exploração de Brasília; uma marcha de proletários que diariamente se deslocam em péssimo transporte público para abastecer os serviços do Plano Piloto e no fim da tarde retornam para suas casas nas “cidades-dormitórios”.

Gestão operária contra a crise hospitalar

Uma contradição tipicamente brasileira é o fato de tamanha calamidade e miséria se dar num país de vastos recursos e se posicionar entre as dez nações mais ricas do mundo. Isso mostra que a prioridade de quem governa é apenas garantia de acumulação de lucros para uma elite minoritária. A conjuntura capitalista de um país condenado à periferia do sistema é incapaz de oferecer soluções definitivas e que transformem pontos estruturais. No plano ideal medidas como reforma agraria e urbana deveriam ser pautas do próprio desenvolvimento burguês para lidar com várias doenças tão perigosas quanto banais. A lógica de acumulação da propriedade privada se mostra absolutamente incapaz para combater as más condições sanitárias que favorecem o nascimento do mosquito.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), entrou no ano de 2020 com um projeto que mutila ainda mais a rede de saúde; trata-se de implementar um regime de “escolha pública” (generalização da ética privada no sistema público) e meritocracia na administração do sistema sanitário, medidas que aprofundam o caráter mercadológico do serviço de saúde. Essas são as condições preexistentes em Brasília no momento em que passamos a lidar com o coronavírus. Diante de tamanha crise, o Esquerda Diário reivindica a urgência do controle operário para de fato encarar doenças virais como uma questão social a ser resolvida. Somente com a autonomia de organização dos trabalhadores da saúde é possível levar um combate às doenças sociais e à ordem social que as mantém.

Nossas vidas valem mais que seus lucros!




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