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CONTAGEM REGRESSIVA 8 DE MARÇO | Carta de uma mulher trabalhadora ao secretário (machista) da previdência

Em matéria publicada hoje na Folha de São Paulo, o secretário da previdência Marcelo Caetano afirma que “Se somos [machistas], então o mundo inteiro é”, a respeito da reforma da previdência.

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

terça-feira 14 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Caro senhor,

Vivemos em um mundo machista e isso é bem claro para nós e embora exista ironia na sua afirmação, seria ingênuo da sua parte admitir o contrário. Também é verdade que o machismo não é invenção de um ou outro governo (machista), ele existe há milênios e na mesma medida existe resistência e luta contra o patriarcado.

Partindo do que é óbvio, me parece igualmente imerso nessa obviedade que, se os governos atuais não inventaram o machismo, o governo do golpista Temer incluso, eles se utilizam do machismo para melhor explorar as mulheres e a classe trabalhadora de conjunto. Prova disso é a reforma da previdência que o senhor chefia a mando do presidente golpista.

Mas eu vou desenhar pra você:

Na sociedade patriarcal que vivemos, as mulheres são quase que automaticamente levadas ao trabalho doméstico desde muito cedo. Lavar, passar, cozinhar, cuidar da limpeza e cuidar dos filhos ainda hoje são tarefas quase exclusivas da mulher. Tarefas extremamente necessárias que fazemos de graça. Só é possível “sair para trabalhar” se o trabalho doméstico está em ordem, é ele quem cria condições para o trabalho. Segundo dados do PNAD de 2011 as mulheres trabalhadoras, além da jornada de trabalho, cumprem cerca de 21,8 horas a mais de jornada de trabalho somente com o trabalho doméstico em casa. Esse trabalho extra não remunerado também não é computado para fins de aposentadoria.

O mais interessante, senhor secretário, é que o IBGE, em pesquisa recente de 2014, afirma que as mulheres recebem cerca de 27% a menos que os homens, e as mulheres negras ganham 40% a menos que homens brancos. Ou seja, existe um abismo de desigualdade aí, que o senhor, homem branco, deveria saber.

Como se não bastasse, mesmo se aposentando depois de 49 anos de trabalho REMUNERADO, pasme, o trabalho doméstico continua! Ou seja, o trabalho doméstico começa desde cedo, não entra em nenhum cálculo maluco do governo para a aposentadoria e nunca acaba! É ou não é machismo, senhor secretário?

Minha amiga Diana Assunção já havia escrito um texto alertando sobre os ataques que você e seu chefe estavam lançando às mulheres ( clique aqui)

Então termino reforçando o que ela coloca como fundamental da luta das mulheres trabalhadoras:

“Precisamos lutar por todos os direitos da mulher trabalhadora como o fim da dupla jornada de trabalho, exigindo creches 24 horas, lavanderias e restaurantes públicos para que as mulheres não tenham que garantir esses serviços em suas casas. Lutar pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, dividindo as horas de trabalho para enfrentar o desemprego. Lutar pela efetivação de todas as trabalhadoras terceirizadas sem necessidade de concurso público. Lutar pela licença maternidade de 1 ano, com acesso a saúde de qualidade e direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Lutamos pelo não pagamento da dívida pública para que esse dinheiro seja revertido para os serviços públicos e também para a previdência social que deve ser 100% estatal e com administração democrática dos trabalhadores e usuários para garantir qualidade de vida para o conjunto da população trabalhadora.”

Espero que agora você finalmente entenda. Mas se for muito difícil deixo aqui uma resposta mais fácil pra você:




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