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FORD | Caoa desistiu de comprar FORD e trabalhadores continuam sem emprego

terça-feira 14 de janeiro de 2020 | Edição do dia

Conforme anúncio do próprio governador João Dória (PSDB), sua solução para o fechamento da montadora de caminhões da Ford no ABC paulista, que tirou o emprego direto de quase dois mil trabalhadores, caiu por terra. Nesta segunda feira, 13, Dória confirmou que a montadora brasileira Caoa, que o governador anunciava desde o ano passado que compraria a fábrica, desistiu do negócio.

A saga da fábrica do ABC transcorreu durante quase todo o ano de 2019, quando, tirando vantagem das facilidades proporcionada pelo desmantelamento de garantias trabalhistas e de controle governamental durante os governos Temer e Bolsonaro, grandes matrizes estrangeiras começaram a fechar operação no Brasil, alegando falta de “lucratividade”. Foi o caso da gráfica RR Donnelley, que, mesmo recebendo grandes somas em contratos com o governo federal para imprimir os cadernos de questões do Exame Nacional do Ensino Médio, declarou falência e fechou as portas de suas três fábricas no Brasil, deixando quase mil funcionários na rua, sem mesmo aviso prévio. A Ford logo seguiu, anunciando que fecharia as portas de sua fábrica em São Bernardo do Campo, pondo em risco mais de 2.000 empregos diretos e quase 24.000 famílias que dependem, indiretamente, da cadeia produtiva da Ford.

O governo Dória, previsivelmente, abriu caminho para a empreitada antioperária da sucursal imperialista. Para isso, teve auxílio do sindicato dos metalúrgicos do ABC. Como já viemos denunciando, desde o anúncio do fechamento, em fevereiro de 2019, o sindicato local, filiado à CUT, seguiu uma linha de negociar a portas fechadas com o governo e os patrões, insistindo na desarticulação dos trabalhadores que pudessem aspirar a lutar para proteger seus empregos. Ao mesmo tempo, Dória se cobria de demagogia, e com um discurso de “gestor” que iria “resolver o problema” usando o “livre mercado”, anunciou na época que a montadora brasileira Caoa compraria a fábrica. Ao tempo do fechamento, em outubro, a compra não havia saído do papel, e milhares de famílias perderam seu sustento.

Dos 2.350 funcionários da fábrica, agora só restam, praticamente, 1.000, em cargos de administrativos, que devem ser transferidos ainda no começo deste ano, com o fechamento total da unidade produtiva em SBC.

Dória seguiu com a história da venda para a Caoa mesmo depois do fechamento, só anunciando definitivamente que não aconteceria ontem. Consultadas pelo Globo, tanto Caoa quanto Ford confirmaram o anúncio do governador. Em troca, Dória agora fala de “duas compradoras potenciais” com quem estaria negociando, mas sem divulgar nomes. Também promete que a Caoa “deve anunciar agora em 2020 um novo e forte investimento com um fabricante chinês na indústria automobilística aqui em São Paulo.”

Enquanto Dória surfa na onda das grandes empresas que se aproveitam da deterioração dos direitos e condições de vida dos trabalhadores para cortar custos, e levam verdadeiras fortunas para o exterior, deixando milhares de famílias sem sustento, é vergonhosa a postura traidora do sindicato dos metalúrgicos. Com toda a tradição de luta do ABC, especialmente dos metalúrgicos, e filiado à maior central sindical do Brasil, o sindicato deveria ser a ferramenta de organização e luta dos trabalhadores por seus direitos, e contra os ataques dos capitalistas. Em vez disso, o sindicado dos metalúrgicos desde o início adota uma postura derrotista, de não se enfrentar diretamente com os patrões ou governo (e limitando-se, em exigência, a pedir que o BNDES dê financiamento à Ford para não fechar a fábrica) e dando o fechamento como certo. Esta atuação vai na contramão da organização dos trabalhadores com seus próprios métodos e ignora experiências de sucesso da classe operária frente a demissões em massa e fechamentos por “falta de lucratividade”, como a exigência da abertura dos livros de contas, e a ocupação de fábricas fechadas, colocando-as para funcionar sob gestão operária (pode-se ver na Argentina os exemplos da ceramista Zanon, e da gráfica Donnelley – mesma que fechou no brasil sem resistência por parte da CUT – para citar alguns). Sem agir orientado por estas valiosas lições, e organizando e incentivando os trabalhadores a confiarem em suas próprias forças, e tomarem em suas próprias mãos suas demandas, armou-se a derrota.

Enquanto segue-se avançando contra nossos direitos, torna-se cada vez mais fácil para grandes capitalistas atacarem os trabalhadores, e nos privarem das mais elementares condições para uma vida decente, como um emprego estável ou direitos trabalhistas. Grandes empresários seguem tendo a cara lavada em suas fraudes e ingerências por direitistas demagogos como Dória, e a gravidade dos ataques em curso, que seguem praticamente sem resistência, são evidência da urgência de retomar os sindicatos para as mãos dos trabalhadores, expondo a todos as traições e fraudes da burocracia conciliatória encastelada nas posições de representação, que negocia nosso futuro com nossos inimigos, por trás das costas dos que serão mais gravemente afetados, em troca de manterem seu privilégios.




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