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MOVIMENTO ESTUDANTIL UNESP | Movimento estudantil em Araraquara: Balanço e perspectivas rumo ao CEEUF!

No inicio do mês passado, os estudantes da UNESP conquistaram uma importante vitória, mesmo que parcial. Fizeram a REItoria recuar na decisão de expulsar 17 estudantes da UNESP Araraquara que se mobilizaram contra os cortes na educação que afetam diretamente a permanência estudantil e desmontam o tripé universitário de pesquisa, ensino e extensão.

G. P.Araraquara

quinta-feira 18 de junho de 2015 | 00:00

No inicio do mês passado, os estudantes da UNESP conquistaram uma importante vitória, mesmo que parcial. Fizeram a REItoria recuar na decisão de expulsar 17 estudantes da UNESP Araraquara que se mobilizaram contra os cortes na educação que afetam diretamente a permanência estudantil e desmontam o tripé universitário de pesquisa, ensino e extensão.

Durante mais de 3 meses a contar do anúncio das expulsões, mas inclusive desde antes com a luta contra o processo de sindicância, o movimento estudantil se dedicou na campanha pela reintegração dos 17 expulsos, entendendo as expulsões e a repressão aos lutadores como parte essencial do projeto dos governos e REItorias de implementar duros cortes na educação como “solução” para crise econômica do país, cujos efeitos estão cada vez mais sendo sentidos pela juventude e pelos trabalhadores.

Em resposta aos 300 milhões de reais cortados nas Universidades Federais, aos 200 milhões na USP, UNESP e UNICAMP, aos 9 bilhões cortados no Ministério de Educação, ao fechamento de 3900 salas de aula da rede estadual, aos cortes do FIES que afetaram milhares de estudantes das faculdades privadas, estudantes universitários e secundaristas, professores e trabalhadores da educação estão travando lutas duríssimas em todo país.

Os governos e REItorias querem nos calar! Querem calar os professores de São Paulo com corte dos dias em greve, querem calar os professores do Paraná com bala de borracha e gás lacrimogêneo, querem calar os estudantes da UERJ que, há algumas semanas atrás, foram duramente reprimidos, querem calar os estudantes da UNESP de Rio Claro que sofrem nesse momento sindicâncias por lutarem por permanência estudantil.

Conquistamos a revogação das 17 expulsões, buscando nos unir à luta com todos aqueles que não se calaram frente aos ataques a educação. Só nos entendendo como parte da luta nacional contra os cortes da educação é que foi possível construir a correlação de forças necessária pra fazer recuar a REItoria! Nossa tarefa agora é como amplificar essa perspectiva e fazer com que a UNESP de Araraquara seja parte de uma resposta necessária contra os cortes.

Segue o link de um balanço mais completo sobre a campanha contra as 17 expulsões e página da reintegração impulsionada por diversos estudantes e que recebeu apoio de todo país.

Para isso, precisamos aprofundar uma caracterização e o balanço do movimento estudantil de Araraquara para avançarmos juntos na luta!

Existe um refluxo em Araraquara? Como fica o bandejão?

Existe um discurso recorrente no Movimento Estudantil de Araraquara que diz que estamos num “refluxo”, ou seja, que os espaços de organização e mobilização estão esvaziados porque os estudantes estão “desinteressados” das pautas. A conclusão lógica disso é que não podemos avançar muito e, portanto, deveríamos nos contentar com o que a diretoria - em crise aberta -, tem a nos oferecer, ou seja, nada além de miséria, mais cortes e repressão!

Com certeza existe uma relação dialética dos motivos pelos quais o movimento pode encontrar-se em refluxo. Por um lado, a falta de tradição política do movimento - resultado da política de passividade construída pelo governismo e setores populistas -, o desgaste e cansaço dos estudantes após um período de mobilização intensa na greve do ano passado e na campanha contra as 17 expulsões são elementos bem concretos.

Seria um erro passar por cima das condições objetivas do refluxo, pois isso pode gerar derrotas irreparáveis aos estudantes. Contudo, para além das condições objetivas que impedem a mobilização em períodos de refluxo, há também condições subjetivas nas quais devemos ter bastante responsabilidade.

Em primeiro lugar, precisamos nos perguntar: existe um contexto para construir lutas que, de fato, nos tragam vitórias?

Um primeiro fator para responder a essa pergunta está dado justamente pelos cortes na educação, quando as REItorias impõem seu projeto da maneira mais ofensiva, cortando verbas e bolsas de forma estrondosa, demitindo trabalhadores terceirizados, expulsando estudantes das moradias, perseguindo e reprimindo estudantes e trabalhadores. Apesar de termos conquistado a revogação das expulsões, os 17 foram suspensos por 6 meses. Ao mesmo tempo em que existem lutas ao redor do país, como as mais de 48 universidades federais em greve e com necessidade de lutar, como pudemos ver participando do congresso da ANEL.

Na UNESP, começa um processo de rearticulação estadual do movimento se recompondo da greve do ano passado. No ato do dia 7 de maio contra as expulsões, demos uma primeira mostra do potencial dessa articulação. No dia 28 de maio diversos campus da UNESP fizeram um dia de mobilização unificado contra a repressão de Rio Claro e por permanência estudantil. (Confira aqui mais sobre o ato do dia 28).

Outro elemento, relativo ao campus de Araraquara, é que estamos há quase 6 meses sem bandejão! E se por um lado isso dificulta nossa mobilização, pois estudantes não ficam mais tanto tempo no campus, por outro a falta de alimentação é um problema gravíssimo para muitos estudantes, que já sofrem com a falta de bolsas e o descaso com a permanência e que agora vêem claramente o papel que cumpre a diretoria da universidade, contrária aos interesses dos estudantes.

As últimas assembleias demonstraram isso. Tiveram, em média, 100 estudantes, que reivindicam mobilização, indignados com a falta de bandejão.

Esses elementos dão base para afirmarmos que existe espaço para que Araraquara seja parte de uma resposta real aos cortes no estado de SP, entretanto precisamos entender os verdadeiros motivos que limitam a construção dessa perspectiva no campus.

O papel das entidades nas lutas e espaços de autodeterminação dos estudantes

O ME pode usar de diversas táticas para conseguir suas pautas, que vão desde ações diretas (ocupações, atos, piquetes, greves) até utilização dos espaços institucionais da universidade. Entretanto, discordamos quando essas táticas se tornam a estratégia, ou seja, quando elas se transformam, ao invés de meios ou formas de conquistar nossas pautas, em fins em si mesmos.

A utilização dessas táticas deve estar condicionada a avaliação do contexto e inclusive podem ser utilizadas de maneira combinada, entretanto cada uma dessas táticas deve estar ligada a tarefa de fortalecimento e democratização dos espaços de autodeterminação dos estudantes, ou seja, das assembleias e das entidades estudantis, impulsionando a ação independente dos estudantes e lutando para que não tenham ilusões na burocracia das diretorias e REItoria.

Dessa maneira, o ME constrói a livre expressão e disputa das ideias, fazendo avançar tanto a experiência dos estudantes como do movimento de conjunto. As assembleias ainda possibilitam a força material e legitimidade necessárias para levar a cabo as diferentes táticas, neutralizando em parte a repressão, que busca individualizar o movimento.

O movimento estudantil e principalmente os Centros Acadêmicos tem o papel necessário de combater a lógica de refluxo do movimento, defendendo decididamente que lutemos contra os ataques à educação, fornecendo argumentos a que os estudantes confiem em suas próprias forças, sem ilusão de que a universidade em crise e com uma estrutura de poder com apenas 15% de voz para os estudantes pode responder as nossas demandas. O movimento, inclusive, precisa avançar e discutir as distintas formas de se organizar as entidades estudantis para torná-las cada vez mais democráticas e combativas, verdadeiros instrumentos dos estudantes na luta por educação. Nos limites dos objetivos desse texto, não vamos aprofundar essa discussão. Para saber mais, veja aqui.

Desde o início, lutamos para construir esses espaços no ME, enquanto vemos por um lado uma esquerda - de PSOL e PSTU -, por outro, grupos governistas - como Levante Popular da Juventude e Juventude do PT - que, de conjunto, não se importam em construir as assembleias e nem levar a cabo suas deliberações, o que dificulta a sua construção e as deslegitima, porque aparece para os estudantes como um espaço formal, sem finalidade.

Na penúltima assembleia, votamos compor um ato estadual do ME contra as sindicâncias em Rio Claro, pelo Restaurante Universitário e por uma alternativa para os estudantes se alimentarem. Apesar de falas calorosas de estudantes organizados, centros acadêmicos e estudantes independentes sobre a necessidade de compor o ato, compareceram cerca de 10 estudantes.

A atuação dessas entidades e algumas destas organizações é respaldada e fortalecida pelo discurso de que esses espaços são opressores, inibem os estudantes, que são palco para as divergências “fratricidas” da esquerda e palanque dos mesmos militantes de sempre com seus “discursos”, ou seja, que esses espaços são desgastados.

Utilizam esse discurso para se localizar na sensibilidade dos estudantes que tem um sentimento de “unidade da esquerda” e, assim, rifam o único espaço em que se pode exercer a livre disputa de idéias, ou seja, a autodeterminação dos estudantes, e também que tem força material e legitimidade para impor as demandas do movimento, fazendo com que o movimento estudantil seja, de fato, um sujeito político. Esse discurso e atuação inviabiliza a ideia de que as soluções das demandas mais imediatas do estudantes, como o bandejão, está indissociavelmente ligada a luta nacional contra os cortes.

Por trás desse argumento, escondem sua própria incapacidade de fazer trabalho de base e de propor aos estudantes experiências reais, fazendo com que as assembleias e entidades estudantis sejam ferramentas da mobilização estudantil e “escolas de guerra”, no conceito de Lenin, para que façam avançar os questionamentos dos estudantes que iniciam seus combates a partir de suas próprias demandas.

Afinal, não existem atalhos: os espaços que criamos sejam eles salas de aula, assembleias, festas, não estão desligados da sociedade e do ambiente universitário. Pelo contrário, nesses espaços se expressam com bastante intensidade as opressões, as relações de poder, as disputas oportunistas etc. Entretanto, esses espaços permitem que nos organizemos para lutar num patamar superior contra as bases que sustentam essas relações de opressão e exploração; a estrutura de poder da universidade que nos reprime, a elitização da universidade colocada pelo filtro social do vestibular e o descaso com permanência estudantil etc. E, até o fim, colocam a possibilidade de atuarmos como sujeito político independente contra a crise na educação imposta pelas REItorias e governos e, portanto, ao lado daqueles que não se calam contra esses ataques em todo o país.

Próximos passos do movimento: a construção do CEEUF

Neste sentido, o primeiro passo de um movimento que busque ser parte da resposta á crise da educação, se somando ao movimento estadual e nacional na luta contra os cortes, por uma educação pública, que avance no questionamento dos grandes grupos privados do ensino e exija cotas raciais proporcionais nas públicas e estatização das vagas do FIES nas privadas, que arranque mais bolsas, creches, moradia e permanência para todos que precisem, por um outro projeto de educação a serviço dos trabalhadores, das mulheres, dos LGBTTs, do povo negro e do pobre, é construir um grande encontro entre os diversos campus da UNESP, o CEEUF (Conselho de Entidades Estudantis da Unesp e Fatec), marcado para fim de semana do dia 27 de junho na UNESP de Marília.

Nesse conselho vamos discutir permanência estudantil, os rumos da educação, a repressão e os cortes dos governos Estadual e Federal e nossa organização estadual, ou seja, como avançar para que os estudantes da UNESP sejam uma força que paute os problemas que sofrem os estudantes e trabalhadores da educação de todo o país.




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