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BLACK LIVES MATTER | Caem as estátuas e o povo se levanta: Os protestos de Juneteenth nos Estados Unidos

Nesta sexta-feira ocorreram protestos em larga escala nos Estados Unidos no dia da comemoração do fim da escravidão. Se somaram a esses protestos alguns sindicatos e ativistas de outros movimentos, que estão começando a unificar a luta contra a violência policial contra afro-americanos com as lutas que realizam em seus locais de trabalho.

segunda-feira 22 de junho de 2020 | Edição do dia

Sexta-feira, 19 de junho, foi um dia importante para os atuais protestos contra a violência racista da polícia. Três semanas já se passaram e poderia se imaginar que as pessoas estariam começando a se cansar de tomar ações todos os dias, mas neste Juneteenth (19 de junho) houve uma explosão de protestos em todo o país.

Juneteenth é o dia em que se comemora o fim da escravidão, quando escravos no Texas, o território confederado mais ocidental, foram libertados. Historicamente, essa data tem sido amplamente comemorada pela comunidade negra e por setores da esquerda, mas este ano foi diferente. Pode ter sido o dia com os maiores protestos em todo o país. Além disso, na sexta-feira também houve a maior intervenção do movimento sindical até o momento. Em todo o país, um número crescente de trabalhadores começa a unificar suas lutas individuais com os atuais protestos contra o racismo institucional. Algo que durante anos eles tentaram separar e mostrar como lutas diferenciadas e que não precisavam ficar juntas, agora começam a se unir sob a luta contra esse sistema capitalista racista.

Na cidade de Nova York, foram realizadas mais de 40 ações, incluindo uma caravana de carros de trabalhadores essenciais que se unificaram a luta Black Lives Matter com uma ação de protesto nos armazéns da gigante Amazon (que durante toda a pandemia forçou trabalhadores a desempenhar suas tarefas sem elementos de segurança ou licença médica remunerada). Mais de 6.000 manifestantes tomaram a ponte do Brooklyn enquanto atravessavam a cidade e mantinham vigílias por mulheres afro-americanas assassinadas.

Na costa oeste, os trabalhadores portuários se organizaram com o sindicato da ILWU para fechar os portos durante um dia de ação. A mais importante dessas ações ocorreu no porto de Oakland. Milhares se reuniram lá para marchar em solidariedade e ouvir discursos de, entre outros, a renomada ativista Angela Davis. O fechamento dos portos foi a maior ação da classe trabalhadora em apoio ao movimento Black Lives Matter até o momento. Em seu discurso, Davis notou a importância da ação dos trabalhadores e chamou outros sindicatos a se unirem ao movimento. Outro discurso poderoso veio do artista e ativista Boots Riley, que disse: "Qual é o nosso poder? Encontramos hoje essa resposta [com a paralisação]. Nosso poder vem do fato de que somos nós que criamos riqueza. Riqueza é poder. Temos a capacidade de tomar esse poder. Temos a capacidade de freiar nosso trabalho e congelar essa merda". Riley também pediu uma greve até que as demandas do movimento sejam atendidas.

No entanto, os protestos não se limitaram apenas às principais cidades costeiras. Na Carolina do Norte, manifestantes protestaram contra o racismo contra afro-americanos e derrubaram duas estátuas confederadas. Durante anos, ativistas na Carolina do Norte pressionam os líderes eleitos a derrubar as estátuas e, durante anos, os políticos se recusam ou atrasam a ação. Fica claro o enorme poder simbólico dos manifestantes, fazendo o que os políticos não estão dispostos a fazer há anos.

Em Atlanta, milhares de pessoas se mobilizaram por toda a cidade. A tensão aumentou nessa cidade após o recente assassinato de Rayshard Brooks, um afro-americano, por policiais brancos que o mataram a tiros em frente a uma lanchonete. Quando souberam que as acusações deviam ser apresentadas contra os dois policiais, muitos policiais começaram a sair e afirmar que estavam doentes como forma de protesto e extorsão. Por exemplo, na sexta-feira, em uma das áreas da cidade, todos os policiais, exceto os supervisores, telefonaram dizendo que estavam doentes e não se apresentaram em seus postos. Isso gerou mais tensão, como por exemplo o que se viu na na sexta-feira em um protesto do lado de fora do restaurante Wendy’s, onde Brooks foi morto, quando um motorista que estava zangado com os manifestantes bloqueando a estrada puxou uma metralhadora AR-15 e apontou para os manifestantes. A situação piorou quando um manifestante também sacou uma arma de fogo e tiros foram trocados, deixando um manifestante ferido. Claro que apenas o manifestante foi preso.

Washington, DC, também foi um dos lugares onde houve várias ações importantes, incluindo uma marcha para o Departamento de Educação. Naquela marcha, o canto foi "1, 2, 3, 4, crianças negras merecem mais", unindo a luta pela igualdade na educação com a luta contra a violência policial racista. Os manifestantes também derrubaram e queimaram a única estátua confederada em DC. Muitos grupos participaram da organização de marchas e ações ao longo do dia, incluindo ativistas climáticos. Nessa mesma marcha, faixas e cânticos também mostraram solidariedade entre trabalhadores sindicalizados e o movimento Black Lives Matter.

Outras cidades fizeram protestos massivos. Em Tulsa, milhares de pessoas se reuniram para protestar contra a violência policial contra negros, bem como contra o ato de campanha racista que Trump iria realizar no dia seguinte. O distrito de Greenwood, em Tulsa, foi o pior massacre racista de 1921, quando um grupo de brancos incendiou 1.200 prédios naquele distrito, matando quase 300 afro-americanos.

Em Minneapolis, houve um ato em frente ao Capitólio do Estado e na Filadélfia, uma marcha de silêncio foi realizada.

Essas ações em todo o país nos mostram duas coisas: primeiro, que os protestos ainda estão muito longe de parar, mesmo que mais e mais concessões sejam concedidas aos manifestantes. E segundo, que mais e mais pessoas estão se unindo a suas lutas particulares na luta contra a violência do Estado contra os negros. Isso pode ser observado nas ações de sindicatos como ILWU (portuários), UAW (automotivos) e SEIU (serviços, comércio e hotéis), bem como na presença de um amplo espectro de grupos ativistas por diferentes causas. A unidade dessas lutas é um avanço importante que aprofundará e fortalecerá o movimento. O próximo passo no desenvolvimento dessas ações é vinculá-las à luta contra o capitalismo.




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