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"Cadê a nota fiscal?" as marcas do racismo estrutural brasileiro

As redes sociais fizeram ecoar recentemente o caso do jovem negro do Rio de Janeiro que foi acusado injustamente por um casal de roubar a bicicleta que estava usando. Uma expressão do racismo que está arraigado na sociedade. Mesmo depois de provar que a bicicleta era sua, Matheus está sendo investigado e acusado de receptação de material roubado porque não tem a nota fiscal. Mas afinal, a nota fiscal atesta a compra ou o racismo?

sábado 26 de junho de 2021 | Edição do dia

As redes sociais fizeram ecoar o grito do jovem, instrutor de Surf, Matheus Ribeiro da Cruz, contra o racismo que sofreu ao ser acusado de roubar uma bicicleta no Rio de Janeiro, mesmo insistindo que a bicicleta era sua. Mas depois, mesmo provando que a bicicleta era sua, com fotos, com uma chave, com comprovante de que comprou a bicicleta, o jovem foi obrigado ainda a apresentar para a polícia uma nota fiscal.

Como Matheus comprou a bicicleta usada num site, o que ele comprovou, não adquiriu nota fiscal. Por isso, agora Matheus é investigado por receptação de material roubado e teve sua bicicleta apreendida. O que parece ser um protocolo padrão de investigação revela na verdade um profundo racismo que persiste no caso. Ou alguém tem alguma dúvida de que se fosse ao contrário, o casal não teria que ficar insistentemente provando que a bicicleta é sua.

O caso da bicicleta do Leblon expressa que no país marcado pela escravidão, e que hoje é governado pela extrema direita de Bolsonaro que odeia os negros e por um regime profundamente racista, os negros são ameaçados constantemente de morrer vítimas da covid, da bala da polícia e pelo desemprego e a fome, além disso, cotidianamente passam por situações como a que passou Matheus, o que revela um profundo racismo também nas relações sociais.

Porque o racismo é parte desse sistema capitalista, que nasceu junto com a opressão racial aos negros, e que precisa dele para melhor explorar o trabalho e lucrar, ainda mais nos momentos de crise capitalista. Por isso, as empresas até fazem demagogia dizendo que vão contratar mais negros para cargos de poder e fazem “manifestos” antirracistas, mas a verdade é que não podem prescindir do racismo para a exploração capitalista.

A nota fiscal exigida para Matheus não queria comprovar uma relação de compra e venda, ela é a exigência para tirar a suspeita de Matheus, que já é condenado e declarado suspeito antes de qualquer comprovação, ela revela na verdade uma comprovação do racismo da polícia, mesma instituição responsável pelos massacres à juventude negra, como viemos recentemente em Jacarezinho.

Para os negros e negras, nem mesmo andar sem um documento comprovando que você é você, ou que você é trabalhador, é possível. As chamadas "leis de vadiagem" que existiram no Brasil pós-abolição comprovam que mesmo com o fim da escravidão os negros sempre foram tratados como suspeitos. Por isso, o "cadê a nota fiscal?" que Matheus recebeu da polícia, não é incomum, mas deve ser combustível para que vire uma luta cotidiana dos negros e negras contra todas as marcas do racismo.

Por isso, nós do Quilombo Vermelho, levantamos que a luta contra o racismo deve ser uma luta anticapitalista, que enfrente o conjunto da exploração do trabalho, do capitalismo e suas instituições, como a polícia. Por isso, deve ser uma luta da classe trabalhadora, levada em conjunto com as negras e negros do nosso país que são vitimas de expressões racistas como essas.

Os sindicatos do país, muitos que são dirigidos pelo PT, e que dirigem milhares de trabalhadores deveriam levantar as demandas dos negros e negras, como a igualdade salarial, a efetivação dos terceirizados e a luta cotidiana contra todas as expressões da opressão racial, e organizar um verdadeiro plano de lutas hoje contra Bolsonaro, Mourão, os ataques e privatizações e contra a violência policial, que também são expressões de como são os negros e negras os que mais estão pagando a conta dessa crise.




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