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BREQUE DOS APPS | Breque dos apps: O slogan “seja seu patrão” esconde exploração das empresas de aplicativos

quinta-feira 2 de julho de 2020 | Edição do dia

Hoje, dia primeiro de julho de 2020 os entregadores por aplicativo realizaram o que chamaram de breque dos apps. Um movimento que também contou com a adesão de trabalhadores de outros países, principalmente os da América Latina. Nada mais justo para um serviço que possui 71% de trabalhadores negros, com média de idade de 24 anos e que precisam rodar em torno de 40 km por dia nos 7 dias da semana para receber menos de mil reais, ou seja, menos do valor do salário mínimo.

Os slogans atraentes de “seja seu próprio patrão”, “trabalhe na hora em que quiser” e até mesmo o “seja um empreendedor” escondem a exploração exercida pelas grandes corporações de aplicativos por celular sobre uma massa trabalhadora que, em boa parte, não escolhe ser patrão de si mesma, trabalhar na hora em que quiser e nem mesma ser empreendedora. A falta de perspectiva de um país às portas da falência e com um pé na sua tradição (compulsória) de colônia agrícola é a verdadeira razão que força esses jovens a desempenhar um trabalho que não apenas precariza suas próprias relações laborais, mas precariza a própria vida. O sonho de consumo do patrão se materializa no empregado que teria todo o livre-arbítrio para adquirir planos de saúde individuais, caso adoeça, além de seguro-acidente, seguro-desemprego e, quem sabe, até mesmo um polpudo seguro-desemprego para eventuais “flexibilizações” no mercado de trabalho e na economia.

“Basta trabalhar com afinco, ser responsável e ter força de vontade para vencer na vida”, mantras repetidos em tom messiânico, quase bíblico pelos consumidores dos mesmos aplicativos, boa parte trabalhadores da classe-média que se voltam contra seus companheiros de motocicletas e bicicletas quando há atraso no entrega, a comida vem trocada ou se há algum problema na embalagem, entre outros. Como punição, os aplicativos, que criam um sistema de pontos, mesmo que não de forma explícita, bloqueiam os entregadores por pelo menos 24h podendo chegar a vários dias. Em relato na manifestação de hoje em Brasília, um entregador informou que sofreu um acidente e precisou ficar 11 dias afastado de sua função. Ao retornar, teve pouquíssimas chamadas, pois o sistema exige, mas não explicita, que o trabalhador fique online/conectado o máximo de tempo possível.

Em resumo, o empreendedorismo do “seja seu próprio patrão” e “trabalhe na hora em que quiser” leva a um regime de dedicação exclusiva e integral e a uma relação de trabalho desumana, com tons e sabores de escravidão moderna pela sobrevivência. Por falar nisso, pensamos aqui em como seria se os 71% dos trabalhadores não fossem negros, mas brancos ou até mesmo pardos. Será que a sociedade como um todo, a mídia corporativa, os benfeitores em suas ações e os cidadãos de bem teriam outros olhos para tal situação? Ainda no campo das elocubrações, tampouco seria forçoso imaginar que o trabalho sem-férias, sem décimo-terceiro, sem direitos e sem garantias dos entregadores por aplicativo represente um projeto-piloto para os trabalhadores em geral em momentos vindouros e muito próximos, agora que nosso país sofre com uma CLT fragilizada e quando, ontem mesmo, a maioria dos deputados distritais votou contra os servidores públicos do Distrito Federal, na chamada reforma da previdência. Quinze dos vinte e quatro deputados locais aprovaram um valor maior na alíquota que cada servidor deverá pagar à Previdência, saindo dos 11% e atingindo 14%, atingindo inclusive aposentados e pensionistas.

Nesse momento de quebras de direitos e relações de exploração do homem pelo homem, urge que a classe trabalhadora se una e unifique como uma só, como de fato é, e que lute não apenas por melhores salários e condições de trabalho, mas que busque por mudanças mais estruturais e dignas para quem é a verdadeira razão de ser do meio produtivo. Está apenas nas mãos dos trabalhadores continuar ou não se submetendo a tamanha perversidade.




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