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ELEIÇÕES ARGENTINAS | Bolsonaro segue pressão do mercado financeiro e esbraveja diante da derrota de Macri

As eleições primárias da Argentina ocorridas neste domingo, 11, resultaram numa enorme derrota para o conservador Mauricio Macri. O presidente brasileiro comentou a situação no país vizinho com sua típica oratória de extrema direita, seguidista da chantagem do mercado financeiro contra os trabalhadores e pobres do país vizinho.

terça-feira 13 de agosto de 2019 | Edição do dia

As eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias da Argentina (PASO, na sigla em espanhol) aconteceram neste domingo, 11. Com quase 100% dos resultados apurados, a fórmula presidencial que representa a continuidade do governo ultraliberal de Mauricio Macri obteve pouco mais do que 30% dos votos e foi derrotada pela fórmula dirigida por Cristina Kirchner, ex-presidente e representante da centro-esquerda no país, que obteve mais de 47% do total de votos válidos. Trata-se de um resultado que surpreendeu a todos e que aponta de maneira distorcida o imenso rechaço da população argentina ao governo ajustador e porta-voz do mercado financeiro de Macri. No país vizinho, nestes últimos quatro anos mais de 1 milhão de pessoas passaram para a pobreza, o desemprego e subemprego é uma realidade que atravessa a vida de milhões, assim como as reformas pró capitalistas e um novo e brutal endividamento com o FMI serviram para a aumentar a exploração e lançar a níveis alarmantes as condições de vida dos trabalhadores e povo pobre.

O mercado financeiro e grandes capitalistas responderam às prévias eleitorais da Argentina com uma terrível chantagem, lançando o dólar nas alturas e desvalorizando ainda mais os salários já tão afetados pela alta inflação. Esse foi o “voto dos mercados”, que fazem sua campanha de terror, a favor da continuidade e aprofundamento das medidas econômicas destrutivas conduzidas pelo macrismo contra os trabalhadores. Assim como os mercados, as grandes figuras e líderes direitistas da região entram no campo aberto para defender os próprios pescoços, numa conjuntura que explicita que o que está em jogo é quem serão os responsáveis pelo pagamento da amarga crise capitalista que se arrasta desde 2008.

Nesse contexto é que Bolsonaro reagiu quase que imediatamente com suas declarações inundadas de xenofobia e servilismo imperialista, com uma analogia à profunda crise social da Venezuela e aos conflitos migratórios para dizer que o Rio Grande do Sul pode virar uma Roraima. Com alertas sobre supostos perigos dos governos de conciliação de classes na América Latina, dos quais o do PT foi dos mais importantes, Bolsonaro não quer somente avançar em sua polarização com o petismo e a disputa de qual projeto de país será implementado no regime, se um de extrema direita ou se um petismo senil, mas tem como alvo setores de massa da população que estão encurralados pela ofensiva de ataques e podem dar uma resposta contundente na luta de classes. Essa preocupação estratégica de Bolsonaro fica clara com sua escalada autoritária e enfrentamento ideológico e material contra o movimento estudantil, principal sujeito que está hoje nas ruas contra o projeto Future-se e a Reforma da Previdência, e que demonstrou nos dias 15 e 30 de maio que é um obstáculo aos planos reacionários do governo.

O recado trazido a Bolsonaro com o colapso de Macri nas PASO se soma à própria pressão do capital financeiro sobre suas costas. O respiro que a aprovação da Reforma da Previdência na Câmara e sua previsão de aprovação no Senado, com farta compra de votos com dinheiro arrancado da educação e de serviços públicos, não é suficiente para aqueles que querem aumentar seus lucros às custas de nossas vidas. No pacote será preciso ainda uma entrega brutal das grandes empresas nacionais, a financeirização e privatização da educação superior, além de avançar mais na já ultra-exploratória Reforma Trabalhista aprovada por Temer. Essas são as promessas de Bolsonaro e seus ministros, mas em meio ao avanço da crise, com PIB oficialmente recessivo e o baixo consumo, essas promessas não garantem por si mesmas a estabilidade desse presidente filho do golpe institucional, dirigido pelo judiciário e tutelado pelos militares para que ataques mais duros do que os que PT já realizava fossem assegurados.

Com uma investida para aproveitar o cenário favorável com o curso de aprovação da Reforma da Previdência, Bolsonaro e Moro aumentaram ainda mais o autoritarismo do governo, com a Portaria 666 e declarações escandalosas contra a memória dos torturados e assassinados pela Ditadura. Mas, longe de ser um avanço consolidado, essas medidas também são preventivas, diante de incertezas com relação a prosperidade do governo e a ameaça de uma reação de setores de massa que possa questionar a aplicação desse projeto reacionário de país levado a frente por Bolsonaro, mas apoiado em seu ofensivo plano econômico por distintos setores, da grande mídia aos “opositores”, como mostra o escandaloso apoio dos governadores do PT e PCdoB à Reforma da Previdência. Também a ação controlada e burocrática das grandes centrais sindicais petistas, que impedem e não organizam a saída massiva e a expressão do ódio dos trabalhadores a esses ataques do governo e seus aliados, são um grande serviço para Bolsonaro. Assim como a ação divisionista e burocrática da União Nacional dos Estudantes, que, a despeito da grande disposição de luta dos estudantes, mantém seu rotineirismo com atos não organizados na base das universidades e escolas, que terminam como auxiliares da estratégia estéril e meramente parlamentar do PT, sem ser parte de um verdadeiro plano de luta que possa questionar o governo. É preciso que essa juventude que sai hoje mais uma vez às ruas e que os trabalhadores se unifiquem e batalhem, em cada local de trabalho e estudos, pela construção de um polo anti burocrático e a organização de um movimento real para que os capitalistas paguem pela crise.




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