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AUTORITARISMO | Bolsonaro ameaça perseguição ao "comunismo", mirando as organizações da juventude e trabalhadores

Bolsonaro uniu seu relativo fortalecimento devido ao avanço da reforma da previdência com seu desespero devido ao resultado das eleições primárias na Argentina e o resultado é uma vociferação ideológica ultrarreacionária.

quinta-feira 15 de agosto de 2019 | Edição do dia

Inaugurando uma escola com seu próprio nome no Piauí, Jair Bolsonaro não economiza seu reacionarismo fascistóide: orgulhosamente diz que vai varrer os comunistas do Brasil, mandando (para a surpresa de ninguém) à Venezuela ou para Cuba.

Ainda que se trate de mais uma barbaridade dita pelo presidente, não é menor que ele continue falando abertamente em perseguir e deportar seus opositores. No último mês tem sido comum ver Bolsonaro relembrando o pior dos porões da ditadura brasileira, e mais recentemente repetindo a homenagem ao torturador Ustra, que fez no episódio da votação do impeachment (ou melhor, golpe institucional) na câmara.

Mas suas palavras não são ocas. Por mais que por hora não passem das palavras, elas expressam também um medo real do presidente: a radicalização da luta dos trabalhadores e da juventude. Ciente de que está impondo à ampla maioria da população uma recolonização escravista da nossa economia em benefício dos acordos com a UE ou com os EUA, que está longe de devolver o emprego ou melhores condições de vida à população, Bolsonaro faz o prenúncio da sua obra.

Precisa alimentar pretextos, hoje quase fantasmagóricos, para preparar a perseguição a grevistas, sindicalistas, estudantes, organizações de esquerda, que possam alentar uma resposta radicalizada aos seus ataques.

É justamente há pouco mais de um mês que o primeiro passo em direção à aprovação da reforma da previdência foi dado, não atoa, desde ali, Bolsonaro se encoraja não apenas de proclamar sua ideologia podre, mas também de apresentar mais e mais ataques. Para citar os mais expressivos: o Future-se, três dias após a primeira aprovação da reforma na câmara, e a MP da “liberdade econômica”, aprovada na câmara ontem, que acaba com o direito de folga aos domingos para todas as categorias.

O nível da extrema direita é tão lamentável que qualquer coisa pode se tornar comunista. Em sua declaração, aparentemente, a chapa do mais tradicional reformismo argentino, composta por Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, é comunista. Provavelmente Bolsonaro considera que seu equivalente comunista no Brasil é o PT, e prometeu varrer “esses vermelhos” nas próximas eleições.

A verdade é que o PT no Brasil ou o kirchnerismo na Argentina mal chegam a ser de esquerda, seus governos em ambos os países foram governos abertamente capitalistas, com estreitos laços com o imperialismo, as alas da direita da política tradicional e sempre serviram, com prioridade, aos banqueiros, latifundiários, às igrejas...Na mesma Argentina, os governadores atrelados ao kirchnerismo implementaram eles mesmos ajustes duros aos trabalhadores nos seus estados. Semelhante papel que os governadores do PT e PCdoB do Nordeste cumpriram ao apoiar abertamente a reforma da previdência.

Mas, Bolsonaro está certo em sua preocupação com o resultado das eleições primárias argentinas: o atual presidente do país vizinho, aliado do governo brasileiro, teria perdido no primeiro turno caso as eleições oficiais tivessem acontecido este fim de semana, são uma expressão distorcida de um rechaço do povo argentino ao plano de ajustes encabeçado por Macri.

Desse rechaço, sim, Bolsonaro precisa ter medo, pois demonstra o potencial de luta dos trabalhadores contra o imperialismo e seus golpes de mercado do outro lado da fronteira, que poderá ser um empecilho para o avanço do imperialismo na América Latina, de conjunto. E na Argentina, para além da conciliação kirchnerista, que tenta tranquilizar os mercados prometendo os ajustes que o FMI pedir, existe também uma esquerda que é verdadeiramente comunista: a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade, 4º colocada nas primárias, com mais de 700 mil votos.

Leia também: As eleições na Argentina são um duro revés para Bolsonaro

Tanto aqui quanto na Argentina esses partidos que Bolsonaro chama de esquerda têm fortes laços com as organizações sindicais e estudantis, e a orientação para as centrais sindicais e a maior entidade estudantil brasileira – CUT, CTB e UNE, respectivamente – no último período de mobilizações foi de separar trabalhadores e juventude na luta contra os ataques à educação e pelo direito à aposentadoria.

O último dia 13 de agosto demonstrou novamente a disposição de luta que têm os estudantes e os trabalhadores da educação, apesar da UNE impedir que a juventude se organizasse desde a base em todas as universidades para que fosse ainda maior que o dia 15 de maio, levando a necessidade de barrar a aprovação da reforma da previdência. Junto às centrais sindicais, como a CUT e a CTB, dividiram os dias de luta dos trabalhadores nos sindicatos que dirigem, não permitindo que se organizassem também em defesa da educação e das universidades.

Os ataques avançam e, por enquanto, nenhum plano de luta para a juventude e os trabalhadores fortalecerem a sua mobilização, através de sua auto-organização, usando suas entidades e sindicatos como instrumentos de luta.

A lição que fica é que, pela via da conciliação e da estratégia meramente parlamentar, obstruindo as votações, mas sem com isso aumentar a força no terreno da luta de classes, os ataques avançam, não apenas os econômicos, mas também no âmbito democrático.

Bolsonaro não se cansa de destilar seu ódio aos indígenas e negros encarcerados, como ficou marcado no último mês, e contra as mulheres, LGBTs, imigrantes, como sempre faz. Para fazê-lo engolir cada palavra e cortar-lhe as asas é necessário levantar um plano de luta, que a esquerda, como o PSOL, PCB, UP etc, poderia impor para a UNE, CUT e CTB, e pautar em cada local de trabalho e estudo o que significam todos esses ataques, os balanços dos últimos dias de manifestações, para tirar as lições e organizar o revide.




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