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CULTURA | Bacantes na terra dos Temerosos

Teatro Oficina Uzyna Uzona reencena a tragédia Bacantes do poeta grego Eurípedes.

Fábio NunesVale do Paraíba

quarta-feira 7 de dezembro de 2016 | Edição do dia

O Teatro Oficina, ou Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, que comemora 58 anos, reencena depois de vinte anos a tragédia Bacantes, do poeta grego Eurípedes. Com direção de Zé Celso, a "tragykomédyOrgya" "brazyleira" vive a chegada de Dionyzios, filho de Zeus e da mortal Semelle, em sua cidade natal, TebaSP, agora governada pelo mortal Penteu, filho de Agave, que, através de um golpe de estado, tomou o poder do avô, o governador Kadmos, para intensificar os ataques e os ajustes contra a classe trabalhadora e os setores oprimidos.

Dionysios, deus do Teatro, do vinho e das orgias não é bem-vindo em sua terra natal. Penteu é um golpista neoliberal e conservador que defende a privatização e a terceirização com a mesma sanha que ataca e assassina mulheres, negrxs e LGBT. O delírio e o protesto são perseguidos em nome da Ordem e do Progresso. Os golpistas não querem saber de carnaval em TebaSP e proibem os Ritos Baquicos oficiados por Dionysios e o coro de Sátiros e Bacantes nos morros de TebaSP. A regra agora na cidade é a caretice cafona dos Romeros Britos pintados na cara do Dória com seus modelitos para lá de trash.

É difícil segurar vinho ladeira abaixo. As Bacantes e os Sátiros resistem a repressão. Padres, Bispos & maridos tremem de raiva. O conservador branco, rico e heteronormativo agoniza enquanto o corpo não obediente geme de prazer escondido atrás de alguma moita. A tropa de choque de Penteu reprime os ritos, mas até mesmo a mais santa das evangélicas se entrega à força da natureza orgiastica do terreiro eletrônico de Dionysios. TebaSP é tomada pelo carnaval- candomblé-ritual dionisíaco e as Bacantes devoram o golpista num banquete antropofágico.

As bacantes do Oficina reivindicam a alegria/protesto num Brasil de PEC do Fim do Mundo, desemprego e crimes de ódio. Um ato/rito em nome da poesia representada pela paixão de Dionysios. Em alguns momentos de pura invenção, Zé Celso apresenta neste espetáculo um pouco do clima libertário dos anos 1960 vivido pelo Oficina e por toda uma geração estrangulada pela ditadura.

A direita reacionária é apresentada na "tragedya brazyleira" como violenta e patética. Penteu é um misto de Temer, Dória, Aécio, Crivella e outras merdas. Elenco e platéia (divisão que existe e não existe no Oficina) pedem o fim da Polícia Militar. Os direitos das mulheres, dos LGBT’s e as religiões de matriz africanas são defendidas abertamente no espetáculo. O corpo nu, longe de ser representação pornográfica capitalista, propõe a liberdade dos sentidos. Todos estes elementos são estruturais da peça e do próprio grupo. Existe um clima democrático na orgia antropofágica do Oficina. O riso/rito subverte o cotidiano.

Catarse num momento de bad social? Anestesia erótica para um público de classe média jovem e branco? As críticas são muitas e antigas. O Oficina é usado por alguns setores da esquerda e da crítica tradicional como exemplo de "desbunde" nos anos 1970. "Bacantes" é "desbunde" na era Temer? Protesto ou Festa? Festa-Protesto talvez. Uma tragédia grega de 405 a.C foi transformada em metáfora cênica-musycal do Brasil pós- impeachment Fora Temer. Um Brasil-Eldorado em transe.


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