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ELEIÇÕES ESPANHOLAS | Avançam as “candidaturas cidadãs” e se afunda o bipartidarismo espanhol

“Barcelona em Comum”, a candidatura liderada pela ativista Ada Colau, ganha na capital catalã. “Agora Madri”, de Manuela Carmena, a candidata de Pablo Iglesias, pisa nos calcanhares do PP em Madri. Ambas formações, integradas pelo Podemos e outras forças de esquerda reformista, são as grandes ganhadoras da jornada, ainda que para governar deverão pactuar com o PSOE.

Diego LotitoMadri | @diegolotito

quarta-feira 27 de maio de 2015 | 01:50

“Barcelona em Comum”, a candidatura liderada pela ativista Ada Colau, ganha na capital catalã. “Agora Madri”, de Manuela Carmena, a candidata de Pablo Iglesias, pisa nos calcanhares do PP em Madri. Ambas formações, integradas pelo Podemos e outras forças de esquerda reformista, são as grandes ganhadoras da jornada, ainda que para governar deverão pactuar com o PSOE.

A “onda de mudança cidadã” gerada pelo Podemos, o partido de Pablo Iglesias, junto às candidaturas em nível municipal como “Agora Madri” e “Barcelona em Comum”, está passando das expectativas à conquista de posições nas instituições.
Os dados de análise das eleições municipais deste domingo dão como ganhadora Ada Colau em Barcelona, confirmando a tendência mostrada pela “pesquisa boca de urna”, enquanto Manuela Carmena encontra-se somente um ponto atrás do PP na prefeitura de Madri, que não consegue a maioria absoluta para governar.

Com 93,93% dos votos recontados na capital catalã, Ada Colau obtém um ressonante triunfo, elegendo 11 vereadores com 25,42% dos votos, frente aos 10 da CiU, com 22,36%; os seguem Esquerra Republicana com 5 (11,03%), Ciudadanos (11,01%) com 5, o PSOE catalão (PSC) com 4 (9,8%) e finalmente o PP com 3 (8,67%) e CUP com 3 vereadores e 7,43% dos votos.

Barcelona em Comum, inicialmente denominada Ganhar Barcelona, é uma plataforma cidadã, constituída também em partido político, para as eleições municipais em Barcelona, integrada por Podemos, Iniciativa per CatalunyaVerds, Esquerra Unida i Alternativa, Equo y ProcésConstituent. Sua candidata, a ativista Ada Colau, é a ex porta-voz da Plataforma de Afectados por La Hipoteca (PAH).

Em Madri, com 80,21% dos votos apurados, o PP da direitista Esperanza Aguirre supera por pouco “Agora Madri”, a formação encabeçada por Manuela Carmena. O PP de Esperanza Aguirre lidera os resultados com 33,76% e fica com 21 vereadores, seguido por Carmena com 32,14% e 20 vereadores. O PSOE é a terceira força com 9 (15,86%), seguida por Ciudadanos com 7 (11,24%). Izquierda Unida desaparece do cenário político pela primeira vez desde sua fundação, com 1,79%. Para conseguir eleger vereadores deve superar 5% dos votos.

Agora Madri é um “partido instrumental” que nele confluem Podemos, Ganemos Madrid, ex dirigentes e militantes que abandonaram as fileiras da Izquierda Unida – que se encontra em uma crise terminal na capital do Estado – e ativistas sociais. Sua candidata, Manuela Carmena, é uma ex-juíza que não pertence ao Podemos, mas foi promovida por Pablo Iglesias para ocupar a prefeitura de Madri. Tem um perfil de “gestão honesta” e em seu discurso aposta por uma “regeneração democrática”, cujo modelo é a Transição dos anos 80.

Ambos são novos fenômenos políticos, no marco da crise política e social que percorre o Estado Espanhol desde 2008, junto a uma importante mobilização social nos últimos anos. Ainda que seus programas se limitem a uma série de medidas reformistas, tem conquistado uma enorme adesão de amplos setores que buscam uma saída frente à paralisação, os cortes e a corrupção da casta política.

Em ambos os casos, como na ampla maioria dos resultados em todo o Estado, se destaca a ausência de maiorias absolutas, o que obriga a formação de pactos políticos para governar. Em Barcelona, a maioria absoluta está com 21 vereadores, sobre um total de 41 cadeiras. Na prefeitura de Madri, com um total de 57 assentos, a maioria absoluta se situa com 29 vereadores.

Esta situação coloca um cenário complexo para partidos que tem feito da denúncia a “casta política” um de seus principais cavalos de batalha, já que em qualquer caso, deveriam contar com os votos de um partido da “casta”: o PSOE.

Com 11 assentos, Ada Colau teria que pactuar em Barcelona não somente com ERC e CUP, mas também com o ultrajado PSC, que ficou com 4 cadeiras. Em Madri, se Manuela Carmena mantém seus 20 assentos, para alcançar sua posse e desbancar o PP após 24 anos de governo, deveria pactuar com o também ultrajado PSOE madrilenho.

No caso de Carmena, antes das eleições já deixou a porta aberta para pactuar com o PSOE para impedir que Esperanza Aguirre ficasse com a prefeitura da capital, ainda que insistiu em que é melhor falar “de acordos do que de pactos”. No mesmo sentido, se pronunciou o líder do Podemos, Pablo Iglesias. Em uma entrevista ao diário El Mundo, após a pergunta de um periodista sobre se “pactuaria com o PSOE”, Iglesias não hesitou em afirmar que sua “vontade seria não permitir que o PP siga governando na Comunidade de Madri”.

Neste marco, os muito possíveis pactos que buscarão os “partidos instrumentais” apoiados por Podemos e outras forças, aprofundaram qualitativamente seu giro à “moderação”. Claro que se não o fazem, podem perder parte desses eleitores moderados que tanto buscaram seduzir suavizando seu discurso e suas propostas programáticas. Com vistas nas eleições gerais do fim do ano, não é difícil prever qual será a opção que seguirão.




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