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ALEMANHA | Ataque a Munique: Síndrome de Amok ou profunda crise social?

Segundo fontes oficiais, o motivo central dos assassinatos foi de devido a um desequilíbrio psiquiátrico e foi realizado durante uma crise de Amok. Porém isso não explica as circunstâncias que impulsionam essas ações nem as repercussões políticas e sociais em sociedade polarizada.

quarta-feira 27 de julho de 2016 | Edição do dia

A falta de informação certa durante as horas seguintes ao tiroteio não foi um inconveniente para os grande meios alemães , em seu exercício habitual como porta vozes de um Estado racista. Não hão de respeitar a dor dos familiares das vítimas e o temor de toda a população em Munique.Os trágicos acontecimentos na tarde de sexta-feira 22 de julho, foram relatadas pelas cadeias informativas com a presunção de que se trataria de um atentado islâmico, que o autor seria um refugiado e todo tipo de expressões que, antecederam por "supostamente" ou " não estaria confirmado, mas...", pretendiam aprofundar as estigmatização sobre refugiados e imigrantes. Até o especialista em terrorismo, Joachim Krause, em dialogo com DLF (Rádio Alemão), afirmou " ter visto ARD e ZDF e ter sido muito mal", no entanto responsabilizou a esses os cadernos televisivos pela " histeria" que recorreu logo a população.

O coral midiático foi acompanhado por personagens da política. O líder bávaro do ascendente partido de extrema direita Alternativa Pela Alemanha, Petr Bystron , declarou em seu facebook " É o momento do governo reconhecer que tem cometido um erro de deixar entrar no país um milhão e meio de pessoas incontrolavelmente. É tempo de discutir como enviamos de volta os imigrantes a seus países de origem. Necessitamos de um forte repatriamento, no lugar de esforços para uma inútil integração".

Quando contrasta com a imensa solidariedade social estampada na campanha via twitter #offenetuer para que se abram as portas das habitações, e assim, se acolham as pessoas que ficaram paradas nas ruas, já que foi interrompido o transporte público imediatamente ocorreram os disparos e o caos se instaurou na cidade.

Síndrome de Amok e o complexo fenômeno político e social

A partir de sábado quando se confirmou que Davis S. não tinha nenhuma nenhuma vinculação com os setores do islamismo, toda responsabilidade caiu na história psiquiátrica do jovem. Segundo informações Süddeutsche Zeitung, David S. permaneceu internado em 2015 durante dois meses e continuava seu tratamento no ambulatório pela depressão e um transtorno de ansiedade que lhe gerava fobia social. Nas investigações realizadas pelas forças especiais da polícia se descobriu livros sobre a síndrome Amok e materiais sobre o massacre Winnenden, um espantoso episodio que teria iguais consequências por causa dessa síndrome, onde morreram 16 pessoas- incluindo o assassino suicida- em vários tiroteios com epicentro em uma escola secundária de Baden-Wurtemberg.

A Amok se observa faz uns 200 anos e com maior frequência em países desenvolvidos. Foi definido pela OMS como " um episodio aleatório, aparentemente não provocado, de um comportamento assassino ou destruídos dos demais, seguido de amnesia e/ou esgotamento. Allen Frances(*), psiquiatra norte americano e diretor do Diagnostic and Statistical Manual (DSM IV), em dialogo exclusivo com o Esquerda Diário, rechaçou a explicação do governo alemão e reproduzida por conglomerados de meios que reduz a síndrome de Almok a única explicação para os assassinatos. " Os esforços para encontrar explicações psiquiátricas para estes atos de violência geralmente confundem mais do que clarificam. A síndrome Amok implica repentina perda de controle e no planejamento cuidadoso de um ataque particular. O acesso a armas o efeito copycat pelos meios, o ódio ao estrangeiro e o fanatismo religioso ou politico são motivações mais significativas para os assassinatos em massa".

Antes da consulta sobre a definição da Amok nestes casos não atua como simplificadora para explicar um fenômeno social e político complexo, Frances coloca que " a ineficaz busca de uma causa psicológica é parte de uma estratégia da Asociación Nacional del Rifle de EEUU para distrair a atenção da necessidade do controle de armas. E permite aos maios massivos continuar sensacionalizando os crimes e ignora a necessidade de mudanças na política e no discurso civil."

Alemanha, polarização social que emergi da extrema direita

O certo, é que as fontes oficiais tampouco podem ocultar das ações de David S. com os atentados ocorridos na Noruega em 2011. tanto porque Davis S. possuía material sobre o ataque em seu quarto, como devido o fato que sexta-feira dia 22 foi o quinto aniversário dessa abominável ação, onde o empresário de ultradireita Anders Breivik, assassinou a 77 pessoas em sua maioria jovens participantes do acampamento da juventude social-democrata.

Em parte, esse fanatismo de estrema direita estaria relacionado ao porquê o jovem assassino de Munique gritou contra os turcos enquanto abria fogo, segundo o que se vê no vídeo. O fato é que suas vítimas eram em sua maioria jovens entre 14 e 21 anos e imigrantes - turco, grego, poloneses- além de não se saber se foi ua casualidade ou parte de plano.

Juan Duarte, psicólogo e docente da Universidade de Buenos Aires, expressa " tem que avaliar a situação social da qual esta conduta é uma emergência particular. Não condutas por fora de condições sociais e históricas. Obviamente desde o Estado e o governo vão buscar individualizar o problema todo no que podem". Em uma sociedade polarizada socialmente, onde as crises da União Europeia emergem por todos os poros e semeia o germe da do crescimento da estrema direita, permanecer no lugar perguntar-se o porque que um jovem de 18 nos padece de fobia social que o leva a assassinar enquanto grita " eu sou alemão, e nascido na Alemanha". Existirá vinculação com o Estado e uma parte da sociedade que tem sido isolado de setores sociais com aversão a migrantes, há quem, apesar de ter nascido na Europa , os fazem sentir não-europeus.

Em uma Europa onde suas guerras imperialistas produzem centenas de milhares de mortos no Oriente Médio e na África, que geram crises humanitárias e propiciam fenômenos reacionários como ISIS, não estranha que, com os últimos fatos, o Estado alemão avance a uma maior militarização interior, o estilo Francia de Hollande.

As vítimas seguiram sendo os jovens, especialmente quem tem origens imigrantes, mas tomará um curso ainda mais repressivo. Peter Altmaier, Ministro Federal de Assuntos Especiais do governo de Merkel, reconhecendo que não teve vinculação entre o assassino e organizações terroristas igualmente declarou " faremos todo o possível para conservar nosso estilo de vida e o Estado manterá sua supremacia. O terrorismo não alcançará seus objetivos". E continuou chamando a reestabelecer um órgão central de segurança, ainda quando o papel dos mesmos se calaram duramente questionado por sua cumplicidade com os assassinatos de imigrantes levados adiante pela organização NSU (Clandestinidad Nacionalista) entre 2001 e 2007.

Devemos preparar-nos para enfrentar contra as perseguições contra os jovens, e particularmente contra os jovens migrantes e refugiados. O movimento contra a reacionária Lei de Integração da Baviera, reuniu faz um mês 1500 pessoas nas ruas de diversos coletivos e alianças nacionais, onde convergem jovens estudantes e trabalhadores, organizações antifascistas e de esquerda, realizam cotidianamente ações contra o racismo, a guerra e a ascensão da estrema direita.

O comitê Jovens Contra o Racismo- co impulsionado pelos jovens do RIO, organização irmã do PTS na Alemanha-, organizou no final de abril uma greve estudantil nacional e mobilizou em doze cidades mais de 8 mil jovens, preparam uma nova ação durante o inicio das aulas neste semestre. É necessário que os poderosos sindicatos alemães apoiem estas ações, e deste modo permitam que os trabalhadores da principal potencia europeia ponham um freio na ascenso direitista que significa ódio e racismo, assim como piores condições de vida, tanto para trabalhadores imigrantes como nativos, e situações desesperadoras de barbárie.

(*) Allen J, Frances é psiquiatra e seus trabalhos são mundialmente renomados . Foi diretor de psiquiatria na escola de medicina da Duke University e fundador-editor dos reconhecidos Journal of Personality Disorders and the Journal of Psychiatric Practice. Além de, presidir a quanta edição do Diagnostic and Statistical Manual (DSM-IV).

Traduzido por Tatiana Ramos Malacarne




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