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POR QUE IR ÀS RUAS? | As jornadas de junho e a luta secundarista

quinta-feira 11 de agosto de 2016 | Edição do dia

Adjetivos não faltam para tentar descrever o que foi esse mês para os brasileiros. Quando menos se esperava, os estudantes - já que nossa juventude havia aderido quase completamente a lógica do sistema capitalista - se juntando para ir às ruas inicialmente contra o aumento da passagem, o que logo depois levou milhares, diria até milhões de brasileiros às ruas.

Junho nos lembra 1968, ano em que os brasileiros decidiram ir às ruas contra a ditadura, colocando 68 em um patamar único de acontecimentos para aquele século - na história do Brasil e de suas revoltas populares.

Para a maioria dos jovens e demais pessoas que foram às ruas nas Jornadas de Junho, o aumento da passagem soou como o estopim, para uma população politicamente insatisfeita e cansada de seus governos autoritários e injustos. Onde não se via nenhuma melhora no transporte coletivo, também não se via motivo para o aumento dos 20 centavos, que geraria milhões a mais para o bolso dos governantes e empresas privadas que lucram a cada dia mais.

Muitos dos que foram às ruas naquele mês, assim como em 68, eram inicialmente jovens, estudantes em sua maioria, que puxaram os atos, chamando toda a classe trabalhadora para uma só luta. Como os mesmos cantavam "o povo unido jamais será vencido" e "não fique aí parado, você também é explorado". Uma só luta de uma mesma classe explorada.

Em 1968, ano que acarretou uma revolta contra o mundo bipolar, os valores sociais ultrapassados, o falso moralismo, a repressão sexual, as injustiças sociais e a Guerra no Vietnã, em que um país imperialista exercia uma agressão cruel contra uma pequena e pouco desenvolvida nação de Terceiro Mundo.

Toda expressão de liberdade acaba em conflito com o sistema

Junho trouxe para o país muitas audácias, em que sua população não queria apenas fazer uma reforma ou recauchutagem. Não era apenas por 20 centavos. Seus cantos, suas palavras de ordem, suas bandeiras e cartazes, inspiradas por um passado de lutas, representavam o futuro. Rebelião e coragem estavam novamente lado a lado. Com a luta pelos vinte centavos chegando a se tornar uma luta internacional.

O debate acerca dos problemas de todo nosso sistema se tornou extenso, os problemas eram muitos e muitas vezes os debates e os atos foram regados por cassetetes, bombas de gás, balas de borrachas e até mesmo tiros e prisões.
Anos de protestos, vitórias e derrotas para os movimentos populares. Levando as mais diversas reivindicações a todo o mundo, mobilizando a população quase que quotidianamente. As convicções que se seguiam até ali foram quebradas.

No final do ano de 2015 e começo de 2016, o movimento secundarista fez história. É impressionante que depois de tanto tempo – não só os dois anos que se passaram desde jun/13 -, mas depois de toda a inércia e burocratização das entidades estudantis, como a UNE e a UBES, que se colocavam ao lado do governo e que, assim como dizem muitos estudantes, “não nos representam” por serem entidades que não chamam à luta, muito pelo contrário, depois de junho tentam mais do que nunca apagar o desejo de mudança que vive nos jovens secundaristas. E nós fomos às ruas!

Estivemos lá dispostos a mais uma vez enfrentar ferozmente a polícia e a repressão, lutando por nossas reivindicações, por liberdade, por nossas vidas e pelo nosso futuro.

A escola pública está sucateada, faltam professores, comida, salas de aula estão sendo fechadas quase que diariamente e as que restam estão superlotadas. Essas são as medidas destes governos autoritários que nós jovens temos sentido diretamente na pele, e que afetam toda uma classe preta, pobre e periférica.
Em um cenário político extremamente conturbado, em que a população em geral está com o foco voltado para o impeachment, falta unidade, e isso faz com que sejam travadas batalhas diárias, como as ocupações que tiveram muito menos adesão esse ano em relação ao ano passado, e que faz com que essas mobilizações não sejam colocadas à altura dos ataques, o que é um erro. Quando eles precisam atacar e cortar, a educação e a saúde são as primeiras a serem atingidas. Eles não querem de modo algum perder seus privilégios e nós vimos que a juventude veio se colocar contra isso.

A revolta da juventude secundarista nos mostrou que uma sociedade não é feita apenas para reproduzir a si mesma em um círculo vicioso, mas também estar em permanente transformação, visando atender às necessidades e aspirações de sua população. Devemos agora retomar nossa luta contra o governo opressor e autoritário que nos cerca, nos nega nossos direitos e ainda tenta nos enganar. Pensar nosso atual cenário político, se é Dilma, se é Temer, ou outra saída que de fato nos contemple. Pois essa juventude que busca saídas é a mesma que buscou radicalizar quando ocupou, somos nós, jovens secundaristas, universitários, trabalhadores e, principalmente, somos a aliança operário-estudantil que vem para derrubar todos esses burocratas, as entidades estudantis pelegas, os sindicatos que não chamam uma greve geral frente a todos os ataques do governo golpista Temer.

Agora mais do que nunca se faz necessário que nós, jovens e trabalhadores, tomemos essas ondas de mobilizações que sacudiram o país, que tem sacudido a França, a Argentina e o Chile, como exemplo. É tempo de lutar, lutar contra as terceirizações e o trabalho precário, defendendo a imediata efetivação dos terceirizados; contra o “Escola sem partido” que só serve à direita e seus interesses; contra os cortes na educação; por mais escolas, pela reabertura imediata das salas de aulas, pela contratação de mais professores, por mais vagas nas universidades e por universidades estatizadas; contra os cortes do FIES, no PROUNI e no Ciências Sem Fronteiras; e contra as demissões em massa nas grandes indústrias. Nós, trabalhadores e estudantes, não podemos e não devemos pagar pela crise. Que paguem os patrões!




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