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As condições sociais frente aos ataques e o ressurgimento de doenças

A relação entre os ataques aos trabalhadores e ao povo pobre para manutenção do sistema capitalista em crise, há mais de uma década, com as condições ambientais, epidemiológicas e de gestão de políticas públicas mostram que este sistema não dá mais. Se ele acaba conosco em diversos âmbitos, que acabemos com ele!

quarta-feira 18 de setembro de 2019 | Edição do dia

Imaginemos a seguinte situação: uma população que é obrigada a viver em condições deploráveis, nas quais as casas que habitam estão localizadas em espaços que são compartilhados com córregos de água não tratada, onde a coleta de lixo é feita em tempos esparsos devido à dificuldade de acesso e no qual leva ao acúmulo em locais possíveis que não possuem melhor forma de acondicionamento; ser obrigada a se submeter a condições desumanas de jornadas de trabalho, como pedalando quase 12 horas seguidas, para conseguir uma quantia de salário irrisória e não tendo direito algum nem em casos de acidentes, muito menos para se conseguir planejar um futuro; sofrer dias a fio sem saber [se vai conseguir uma trabalho que lhe garanta no mínimo o que comer (isso quando não se tem pessoas a depender de você) já que o nível de desemprego é algo assustador. Some estes elementos – que são somente alguns levantados – com estes outros poucos: uma qualidade do ar que é algo insalubre e que vem piorando devido a fumaças decorrentes de queimadas de áreas de quilômetros de distância, uma água com tratamento duvidoso e que tem uma piora qualitativa em períodos mais quentes devido a implementação de racionamento, uma alimentação que é quase que exclusiva de processados ou de qualidade questionável devido a liberação de centenas de agrotóxicos ou de acréscimo de outros materiais. E para piorar ainda mais este panorama, acrescente filas intermináveis para se ter acesso a condições mínimas de saúde, tendo na maioria dos casos que agradecer se você conseguiu uma consulta para daqui três meses.

O panorama acima faz o imaginário de muitas pessoas associarem o descrito com locais isolados ou em condições de conflito. Pensando por um lado, isso não deixa de ser uma verdade, pois locais de grandes centros urbanos não deixam de apresentar estas características contraditórias, pois, apesar de integrar grandes cidades não deixam de ser isolados de políticas públicas, e quando se dá até geograficamente, e são realmente locais que escancaram a luta diária de sobrevivência de uma população que é obrigada a viver a miséria do impossível dentro do sistema capitalista.

É necessário colocar todo este pano de fundo para começarmos a entender e correlacionar com o “ressurgimento” de doenças. Já tem alguns anos que o país vem passando por surtos de doenças de forma cíclica, na qual temos muitos estudos científicos e que comprovam e alertam todos os anos sobre os cuidados necessários para prevenção, mas que a sede do lucro capitalista realmente mostra a cara ultimatista e sem pudor para manter a qualquer custo o sistema. É o caso, por exemplo, dos surtos de febre amarela, dengue, zika, chikungunya, que são doenças que tem um aumento vertiginoso em períodos quentes, mas que vem apresentando patamares alto de número de casos em período não esperados devido a manutenção de temperaturas elevadas em quase todo o ano, o que possibilita a reprodução do mosquito (vetores das doenças) por períodos maiores. Além disso, especialistas também alertaram, no ano passado, a possibilidade do reaparecimento e possíveis surtos de doenças como sarampo, poliomielite, difteria e rubéola. Estas hipóteses foram comprovadas com o surto de meningite e sarampo que ocorreu na cidade de São Paulo este ano, mas já se verifica o aumento no número de casos de outras doenças.

Não é de se esperar outra condição em um país que historicamente não prioriza como política pública a prevenção de doenças, mas sim, o tratamento, por ser algo que vise o lucro e não os cuidados com a população. Com isso se tem um ataque contínuo ao SUS, sucateando este sistema público, levando a precarização das condições de trabalho e de atendimento à população. O subfinanciamento deste sistema também é algo que integra – contraditoriamente – políticas públicas e que, em momentos de crise, como a que passamos a mais de uma década, se intensificam.

Assim, em um governo reacionário, como é o de Bolsonaro, que ataca a educação e a pesquisa, que vai do desdém a demagogia com as questões ambientais, que defende como carro chefe de governo a reforma da previdência (que descarrega nas costas dos trabalhadores a crise capitalista), ataques ao SUS entram em consonância com a política privatista dos nossos recursos para entrega aos imperialistas.

Como já havíamos colocado aqui e aqui o descaso com a população é algo que só tende a piorar frente a um governo que corta verba das universidade e de pesquisas que não sejam aquelas voltadas para uma produção imediata e que atenda as demanda dos ruralistas, como um dos exemplo. Apesar de parecer como distantes, não o são, como a redução dos gastos públicos com vacinação em meio a surtos epidemiológicos e o corte de verbas que pode levar ao fechamento de hospitais universitários que atendem a população, como é o caso do HU da UFRJ. Vale lembrar que esta política também é levada em âmbito estadual, vendo o caso do Hospital Universitário da USP.

Em um momento que a juventude tomou a frente à luta contra os ataques a educação e pesquisa e que agora, mundialmente, vem se levantando contra a degradação ambiental é de extrema importância associar todas as questões, vendo que todas se imbricam no mesmo causador: um sistema que tem como base a acumulação de capital e que, para tal, faz-se qualquer coisa a qualquer custo. Portanto, não é possível levantar uma pauta sem entender que todas estão conectadas e que nada será alterado por dentro deste sistema de miséria. O marxismo revolucionário, para isso, é potente ferramenta e apenas a luta pelo comunismo pode dar uma saída. Como Rosa Luxemburgo colocou “Socialismo ou barbárie”.




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