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LITERATURA | Aquilo que ainda me atravessa

Apresentação e primeira parte de série de textos semanais de Marcelo Magalhães

terça-feira 16 de agosto de 2016 | Edição do dia

“Ó glorioso São Brás, que restituístes com

uma breve oração a perfeita saúde a um

menino que, por uma espinha de peixe

atravessada na garganta, estava prestes a

expiar, obtende para nós todos a graça de

experimentarmos a eficácia do vosso

patrocínio em todos os males da garganta.

Conservai a nossa garganta sã e perfeita

para que possamos falar corretamente e

assim proclamar e cantar.”

Dobrando uma esquina me peguei pensando em seu olhar, me acalmou tanto que tive de parar de andar, tive que respirar profundo, tive que lhe imaginar do outro lado da rua, na calçada, olhando pra mim, entre nós estava aquela rua. Entre nós sempremuitas carros, muitos sinais, verde, vermelho, um dia teve um amarelo. Nesse momento ficou difícil de respirar naquela esquina. Temos que atravessar a rua?

Aqui, a menina dança com os braços, você pode ver?

A luz amarela deixa as pessoas mais bonitas, eu fico mais bonito na luz amarela, em minha casa só terá luzes amarelas, se elas ainda existirem até lá, pois essas semanas eu descobrir que as luzes amarelas estão sumindo do mercado, só resta as florescentes brancas, de todos os tamanhos e formas, luzes florescentes brancas, em todas as casas luzes florescentes brancas, e todos os cômodos brancos. Em todos os cômodos brancos eu imagino uma luz amarela, imagino tudo um pouco mais amarelado e agradável. Eu fico mais bonito no cômodo de luz amarela acariciando meu próprio cabelo, essa nova mania de enrolar nos dedos o cabelo, essa nova mania de imaginar as luzes amarelas, o cabelo, as pessoas, os cômodos, as pessoas e a luz branca. Eu andaria com uma luz amarela em cima de mim, eu andaria enrolando os cabelos, eu andaria com os dedos, eu andaria por cômodos, eu me entregaria às pessoas. Eu andaria com pessoas enrolando elas nos dedos. Eu compraria luzes amarelas no supermercado e daria na rua os meus cabelos. Daria as luzes amarelas para as pessoas na rua. Daria meus cabelos e dedos para pessoas que andam na rua, pois tenho essa nova mania de dá pedaços de mim para as pessoas que ficam mais bonitas na luz amarela. Daria para as pessoas nos cômodos iluminados com as luzes amarelas. Com os dedos enrolados nos teus cabelos, imagino sua nova mania, enrolando nos meus cabelos todos os cômodos da sua casa. Eu ficaria com seus dedos enrolados em mim, nós ficaríamos bonitos, enrolados nas luzes amarelas e os cômodos da sua casa seriam imaginação. Em minha casa seus dedos enrolariam no meu cabelo, iluminados com a luz amarela, nós veríamos a agradável mania nova das pessoas de luz branca, passaríamos a enrolar o tempo em supermercados, enrolando o tempo em pessoas, se elas ainda existirem até eu enrolar meus cabelos em sua pessoa, enrola meu cabelo no seu, enrola nossas luzes, todos os cômodos enrolados em luzes amarelas, eu nunca fui ninguém que dava pedaços de si para as pessoas, eu não imaginava luzes amarelas, mas você enrolou meus cabelos em seus dedos.

Revisão: Samanta Tavares




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