×

RENÚNCIA MINISTRO GRÉCIA | Após vitória do Não na Grécia: renúncia de Varoufakis para agradar a Troika

O plebiscito realizado no dia 05 de julho na Grécia resultou num triunfo impressionante do Não por 61,31% a 38,69%, desmentindo as pesquisas de alguns dos principais meios de comunicação que prediziam uma vitória ao Sim. Esse resultado foi uma vitória para o governo do Syriza, e mais importante expressou o rechaço popular e dos trabalhadores à política de austeridade representada pela troika (FMI, Banco Central Europeu, e a Comissão Europeia). De acordo com as pesquisas realizadas, esse triunfo do Não com a significativa margem de 22 pontos de vantagem, foi produto da votação em especial da juventude e dos trabalhadores. Estima-se que nos principais bairros operários das maiores cidades do país, como Kerastini ou Nikea, o Não teve um índice superior a 70%.

Simone IshibashiRio de Janeiro

segunda-feira 6 de julho de 2015 | 12:52

Parte desse resultado se explica pela situação de extrema penúria a que os trabalhadores e a juventude grega estão submetidos há anos. Com uma dívida que o próprio FMI assumiu ser impagável, de mais 175% do PIB, que acumula um montante de 358 bilhões de dólares, e níveis de desemprego que atingem a marca de 27% para a população em geral, e 60% para a juventude, a percepção de que o voto Sim seria a escolha pela continuidade desses rumos foi a tônica geral. Nem os grandes meios puderam ocultar que a campanha de terror insuflada pelos grandes meios não fora capaz de encontrar eco entre a maioria da população, que sente que não há muito que perder. Entretanto, as primeiras movimentações do Syriza já buscam capitalizar esse capital político para apaziguar a tensão com a troika.

Tsipras emite sinais conciliadores antes da cúpula com a troika

Desde antes do resultado do plebiscito, Tsipras já havia anunciado que a vitória do Não seria utilizada apenas como medida de pressão, para seguir no mesmo caminho que vem sendo trilhado desde que o Syriza foi eleito há 5 meses, em condições um pouco mais favoráveis. A aceitação ao corte das aposentadorias, aumento dos impostos como o IVA, e privatizações já demarcou a política que o Syriza está levando adiante, e não se reverterá pelo triunfo do Não. Em suma, em sua proposta apresentada em 30 de junho, Tsipras já havia aceitado quase que a totalidade dos planos exigidos pela troika.

Portanto, todo o discurso de Tsipras apontava nos dias anteriores ao plebiscito que não se tratava de uma consulta sobre a permanência ou não na zona do euro. Tsipras prometeu à população grega que caso o Não ganhasse apresentaria um novo acordo mais favorável em um período de 48 horas. Questão que não esteve jamais garantida de antemão. Tanto é assim que as primeiras notícias da manhã dessa segunda-feira traziam Angela Merkel declarando que não aceitará qualquer proposta de renegociação da dívida que envolva sua reestruturação significativa. Sigmar Gabriel, número dois do governo alemão, afirmou que com o Não “a Grécia destruiu as últimas pontes” com a Europa.

Quando os resultados do plebiscito foram o contundente triunfo do Não, Tsipras rapidamente declarou que não havia “nem vencedores, nem vencidos”, numa tentativa de conciliar com a própria troika, e esvaziar o sentimento popular de rechaço à troika e seus planos. Dessa forma, sua primeira movimentação foi entrar em contato com os chefes de Estado europeus para costurar a retomada de negociações, com Tsipras tendo se comprometido em conversa com Angela Merkel a apresentar propostas na reunião que ocorrerá na terça-feira, 7 de julho.

E complementando os acenos à troika, no da seguinte ao plebiscito se fez conhecer a renúncia do ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, numa decisão que segundo ele próprio fora tomada por Tsipras por ser um “gesto benéfico para que um acordo seja alcançado” com a troika. De acordo com diversos meios, a ausência de Varoufakis das reuniões que terão lugar a partir de amanhã, teria sido considerada positiva por membros da troika. Não há ainda nenhum nome indicado para ocupar seu lugar.

Varoufakis, que assumiu o cargo de ministro das finanças desde que o Syriza ascendeu ao governo, compartilhou a autoria das medidas econômicas gregas com Yanis Miliós. Discursivamente pode aparecer como mais enfrentado aos planos da troika, porém isso é apenas uma aparência. Não questionou a aceitação por parte do governo do Syriza de praticamente 90% dos termos impostos pela troika desde então. E sua orientação para a política econômica ia pelo mesmo rumo. Varoufakis havia no início do ano descartado o não pagamento da dívida grega, e elaborado uma proposta de troca de títulos podres da dívida do país por papeis novos, parte deles vinculados aos índices de crescimento da economia.

Dessa forma, sua orientação não questionava a raiz das diretrizes fundamentais exigidas pela troika, que apesar disso vinha demonstrando ser favorável a sua saída do cargo desde as negociações de abril. Naquela ocasião Varoufakis havia se desentendido com o ministro alemão das finanças, Wolfgang Schaubl, e insistido a firmar um acordo com a alta cúpula da troika recusando-a a firmá-lo com negociadores de nível médio em Atenas. Isso bastou para que a troika desse a entender que gostaria que Varoufakis deixasse o cargo. Com o anúncio de sua renúncia, Tsipras dá mais um sinal que está disposto a conceder nas negociações, mesmo assentado hoje sobre o capital político que o Não lhe confere.

Uma vitória grega só pode vir da organização dos trabalhadores e do povo

O resultado do referendo foi comemorado nas ruas das principais cidades da Grécia, e tomado por setores da esquerda como uma vitória do povo. Sem dúvida expressou o rechaço à política de pilhagem que o imperialismo alemão e seus agentes internacionais querem impor, para seguir sangrando o país. No entanto, se depender da política de Tsipras e do Syriza no governo isso não servirá para lutar por uma saída de fundo. Pelo contrário, se utilizarão disso para seguir negociando os mesmos planos que levaram a Grécia a essa situação, e capitalizando a vitória do Não nos marcos parlamentares do regime de domínio burguês.

Os trabalhadores gregos que protagonizaram mais de 30 greves gerais precisam dar uma saída de fundo. Para isso haveria que superar a política sectária e de imobilismo do Partido Comunista grego (KKE), que dirige importantes sindicatos, e retomar o caminho da luta de classes, impondo uma frente-única operária que seja capaz de impor a anulação da dívida, nacionalizar os bancos, reverter as privatizações e avançar em um plano de conjunto de acordo com os interesses dos trabalhadores e do povo. E para as organizações, jovens e trabalhadores de todo o mundo, se renova a necessidade de impulsionar a mais ampla campanha de apoio aos trabalhadores e ao povo grego, que deve partir da anulação imediata da injusta dívida grega.

Foto: EFE




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias