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CRISE POLÍTICA | Após chamar a unidade de poderes, Bolsonaro acena à sua base atacando governadores no Twitter

Na manhã seguinte após mudança no discurso em relação à pandemia do coronavírus, abaixando o tom de enfrentamento ao Congresso e governadores, o presidente Jair Bolsonaro voltou a enfrentar governadores e prefeitos no Twitter, criticando medidas restritivas para comércio e circulação de pessoas. Horas depois, o presidente apagou as postagens, sinalizando a pressão para uma política de unidade nacional.

Ítalo GimenesMestre em Ciências Sociais e militante da Faísca na UFRN

quarta-feira 1º de abril de 2020 | Edição do dia

Bolsonaro publicou um vídeo de um homem que apontava o desabastecimento no Ceasa, em Belo Horizonte, dizendo que "a culpa é dos governadores", que, segundo ele, querem "ganhar nome e projeção política a custa do sofrimento da população."

"Não é um desentendimento entre o Presidente e ALGUNS governadores e ALGUNS prefeitos. São fatos e realidades que devem ser mostradas. Depois da destruição não interessa mostrar culpados", escreveu Bolsonaro. Os ministérios da Agricultura e Infraestrutura negaram que haja desabastecimento.

No vídeo, gravado na terça-feira, 31, o homem saiu em defesa do presidente. "Quem não tem dinheiro passa fome. Mas quem tem dinheiro mas não tem o que comprar também passa fome. E não vamos esquecer não, a culpa disso aqui é dos governadores, viu?", afirmou, mostrando imagens de um galpão quase vazio. "O presidente da República tá brigando incessantemente para que haja uma paralisação responsável. Não paralisar todos os setores, quem não é do grupo de risco voltar a trabalhar, ok?"

Após conversas com ministros e em especial com o ex-comandante das Forças Armadas, Villas Boas, que deu declarações de apoio ao presidente, ainda que defendendo o isolamento social, Bolsonaro havia mudado o tom do debate com os governadores em pronunciamento nesta terça-feira, 31.

ANÁLISE: Qual a política dos militares para a pandemia e para o país?

Apontado como um recuo do presidente, Bolsonaro cinicamente disse que sua preocupação é com a "vida" no mesmo patamar que o "emprego". Pediu, ainda, a união do Parlamento, Judiciário, governadores e prefeitos para enfrentar a pandemia. Diferentemente do pronunciamento feito na semana passada, porém, Bolsonaro não defendeu explicitamente o fim do isolamento social.

Nessas postagens, novamente Bolsonaro volta a criticar a política de distanciamento social e seus impactos na produção, mostrando que pode voltar os tensionamentos, mobilizando a sua base social reacionária. Contudo, apagou as postagens que havia compartilhado, o que expressa dos demais setores do regime, em especial o STF e os militares, um tensionamento para disciplinar a presidência para conformar uma unidade nacional contra o coronavírus e a aprovação de medidas econômicas, combinadas a ataques contra os trabalhadores para que paguem por essa crise.

O teatro da "unidade nacional" não combate o coronavírus

Consolidar uma unidade nacional é a principal batalha dos setores do regime para conter os ânimos da população, que teme por suas vidas, de seus parentes, seus empregos, em meio ao coronavírus, dando sinais de “unificação do comando” na “guerra” que dizem travar contra o vírus.

Contudo, a própria política dos governadores, como Dória, que elogiou o pronunciamento de Bolsonaro ontém, antecipa os limites da política de unidade nacional que eles defendem, junto ao Congresso, o STF e militares. Em diversos estados está subnotificado o número de casos da doença, São Paulo já enterrou 200 mortos por problemas respiratórios que até agora não tem resultado sobre contaminação por COVID-19. É expressão clara da falta de testes pra população, que coloca um limite a própria política de isolamento, uma medida que até a OMS defende. Enquanto 30 milhões de brasileiros não tem água em casa, em especial nas favelas, não há uma política de expropriação dos hoteís, SPAs, etc, para abrigar setores mais vulneráveis da população, com garantia de leitos de UTI e respiradores.

Essa unidade parte de um pretenso combate ao “inimigo externo”, para blindar os interesses capitalistas em meio ao coronavírus. Não é para garantir testes massivos para que o isolamento social seja efetivo, tampouco financiar a expansão de leitos de UTI, de trabalhadores da saúde, compra de materiais de segurança ou respiradores para salvar vidas. Muito menos para unificar a economia do país, centralizando os bancos, a produção e o sistema de saúde, para reorganizar a produção e a saúde para lidar com a pandemia. Mas sim para seguir garantindo o teto de gastos, o pagamento da dívida pública e deixando intocáveis os lucros dos grandes empresários e banqueiros, suas fortunas, enquanto alegam que “falta dinheiro” para garantir a sobrevivência das pessoas.

Buscam medidas para fortalecer o poder estatal nesse momento, com algumas tendências ao fortalecimento do aparato repressivo para garantir o controle social, como a medida de Sergio Moro aplicar o uso da Força Nacional para conter situações “caóticas” através da coerção. Moro já havia determinado a possibilidade de prisão de quem desrespeitasse o isolamento social. Ou seja, uma unidade que busca garantir o distanciamento social, mas principalmente contra possíveis revoltas e explosões sociais que possam se desenvolver frente aos limites que os interesses capitalistas impõem ao Estado de lidar com essa “guerra”.

O inimigo principal não é um vírus, mas a própria burguesia, com seus grandes empresários, banqueiros, que lucraram em cima da destruição da saúde e do meio ambiente, criando a doença e o caos social. Portanto somente os trabalhadores podem comandar uma saída para essa crise, tomando em suas mãos o sistema de saúde, exigindo a estatização de todo o sistema privado sob seu controle, a centralização e reconversão produtiva nas fábricas de automóveis e eletrodomésticos para que eles determinem a produção e distribuição de respiradores, capotes, máscaras e alimentos de que necessitamos para enfrentar essa doença.




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