Na última semana, declarações de Levy, Dilma e Lula deram o tom do que tende a ser o pacote de ajustes fiscal: um acordo "por cima" para atacar os direitos dos trabalhadores.
Bernardo GuayanasesSão Paulo
quinta-feira 2 de abril de 2015 | 01:34
Na última semana declarações de importantes figuras da política nacional se destacaram nas coberturas jornalisticas nacionais. Principalmente as declarações de Levy, Dilma e Lula deram o tom do que tende a ser o pacote de ajustes fiscal: um grande acordo "por cima" para atacar os direitos dos trabalhadores.
Tudo começou com a crítica, supostamente desinteressada, de Levy a Dilma em uma palestra para ex-alunos da Universidade de Chicago em São Paulo.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, o ministro disse que Dilma é bem intencionada, mas toma decisões erradas e pouco efetivas.
Prontamente Dilma teria se pronunciado respondendo que considerava que a fala foi distorcida, e que na verdade o era um "elogio" o que fazia Levy. Em seguido o próprio Levy teria declarado ter sido mal interpretado.
A fala de Levy foi divulgada pela grande mídia à exaustão e, apesar da aparente "confusão", teve uma repercussão política bastante "precisa". Serviu para colocar a discussão do pacote de ajustes dando uma impressão de "ponderamento", em contraposição aos setores mais "radicais" da oposição de direita.
Desde o começo do mandato a indicação de Levy ao cargo de ministro da Fazenda cumpriu o papel de servir de contrapeso às críticas dos setores de oposição mais à direita dentro e fora do governo.
Como resultado, no dia seguinte o senado retrocedeu da discussão do projeto de lei que ameaçaria a viabilidade do pacote de ajustes.
O projeto, que discutiria a renegociação das dívidas dos Estados, foi votado uma semana antes na Câmara sob liderança do oposicionista de direita Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e anunciado para discussão pelo presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Lula em São Paulo
Outra figura de peso a falar esta semana foi Lula.
O ex-presidente participou de plenária em São Paulo chamada de "Dia Nacional de
Mobilização da Democracia", promovida pela CUT, CTB e UNE. A plenária votou duas manifestações para ocorrerem nos dias 7 de abril e 1 de maio.
No entanto, apesar das manifestações e das críticas à oposição, dizendo que não aceitam os avanços sociais dos governos petistas, Lula afirmou não querer incomodar o "andar de cima" (se referindo aos ricos), lembrou que fez um ajuste fiscal semelhante em seu governo em 2003 e afirmou que o ajuste fiscal é necessário no momento.
Apesar das diferenças entre petistas e oposicionistas o que se mostra na realidade é que há uma maior política de "unidade" pela implementação do ajuste fiscal.
O corte de gastos, que foi inicialmente calculado em 58 bilhões de reais, já está sendo atualizado para mais de 80 bilhões.
Direitos como o seguro desemprego já foram fortemente afetados e o enxugamento já vem afetando também as verbas para educação, saúde e outros direitos sociais.
A principal intenção do governo é não deixar rebaixar a "nota de crédito" brasileira.
A maior "unidade" em torno do ajuste já mostra que repercute na bolsa de valores, que apresentou alta no dia.
Os lucros ficarão com os bancos, os empresários e os ricos.
E, se depender destes que governam para não incomodar os do "andar de cima" (sejam os da oposição de direita, ou os do governo do PT) os trabalhadores é que vão ter que pagar.
FOTO: EFE (Corrigido 04/04/2015 - as cifras do pacote de ajustes são de 58 e 80 bilhões de reais respectivamente, e não milhões como colocado na primeira versão do texto).