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Alunos do Santo Agostinho denunciam censura dos pais e defendem ensino de gênero na escola

Em carta aberta, alunos do Santo Agostinho, colégio em Belo Horizonte, defendem o ensino de gênero e sexualidade na escola e denunciam a ameaça de censura dos pais que se opõem

sexta-feira 14 de julho de 2017 | Edição do dia

Os alunos de Ensino Médio da unidade de Belo Horizonte do Colégio Santo Agostinho responderam à carta extrajudicial (que precede a abertura de um processo na justiça) assinada por 200 pais que condenam o ensino de gênero e sexualidade, principalmente nas disciplinas de Ensino Religioso e Ciências.

Os pais recorrem a artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente, da constituição federal e das declarações de direitos humanos para tentar criminalizar a mediação, pelos professores, das discussões sobre esses assuntos, mas são desmentidos pelos alunos que, resgatando os materiais usados nas discussões em sala de aula, mostram que o debate sobre gênero e sexualidade é, não só perfeitamente apropriado, como “fundamental na desconstrução dos incontáveis tabus presentes na vida adolescente e, principalmente, na aceitação tanto própria quanto externa quando se tratando da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade”. Esse tema faz parte do ensino e não pode ser negligenciado, e ainda menos censurado, como querem os projetos do Escola Sem Partido.

Leia a carta na íntegra:

“Carta aberta dos alunos Agostinianos em resposta aos senhores pais redatores e signatários da carta crítica ao ensino do Colégio Santo Agostinho

Não somos capazes de mensurar nosso espanto ao ler, há algum tempo, a carta aberta extrajudicial – posteriormente transformada em um “abaixo assinado” – redigida com o objetivo de criticar os ensinamentos do Colégio Santo Agostinho.

Há alguns dias, tomamos conhecimento desse documento, que apresentava críticas ao ensino de assuntos relativos à sexualidade, à ideologia de gênero e à igualdade de gênero. Pouco depois, buscamos tomar conhecimento dos textos aludidos na carta, de forma que averiguamos o livro de Ciências do 6º ano e o livro de contos “As mentiras que os homens contam”, de Luís Fernando Veríssimo. Ao contrário do que nos parecia ao lermos a carta, o conteúdo dos textos citados (principalmente com relação ao livro didático) nada apresentavam além daquilo inclusive defendido pela Unesco: o debate sobre educação de gênero e sexualidade é, evidentemente, essencial para uma educação mais inclusiva e de qualidade.

No que tange ao conto “O Dia da Amante”, de Luís Fernando Veríssimo, fez-se parcialmente compreensível o sentimento de indignação apresentado por pais de alunos da Instituição, já que esse texto apresenta uma abordagem muito complexa e densa para pré-adolescentes. É importante, por outro lado, ressaltar que o conto em questão não havia sido selecionado para leitura pela professora que requisitou a aquisição do livro. Diante dessa perspectiva, surge a seguinte questão: até que ponto a escolha de um livro de contos, onde os textos que deveriam ser lidos foram selecionados, realmente torna-se uma afronta à autonomia parental na escolha dos ensinamentos fornecidos a seus filhos?

Em relação ao livro de Ciências, as críticas dos senhores pais são pueris e não merecem qualquer crédito. Nesse livro didático, a orientação sexual, a sexualidade, a identidade de gênero e o sexo biológico são abordados de maneira inteiramente coerente com a mentalidade de um aluno do Ensino Fundamental II, a partir de textos que exaltam a tolerância e a diversidade. O ensino ao respeito às diferenças é um dos principais pilares que regem a educação tanto Agostiniana quanto de inúmeros colégios que seguem a doutrina católica, tendo em vista a importância da família e da escola para a formação moral do aluno.

Frente aos questionamentos feitos pelos pais, portanto, nós, alunos do Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte concluímos que a discussão relacionada à sexualidade e à identidade de gênero é fundamental na desconstrução dos incontáveis tabus presentes na vida adolescente e, principalmente, na aceitação tanto própria quanto externa quando se tratando da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. A tentativa de impedimento das exposições acerca da realidade social baseada na discordância quanto à abordagem aproxima-se até mesmo da censura.

Além disso, fica nosso apoio e agradecimento a todos aqueles professores do Colégio Santo Agostinho que, preocupados com a formação de nosso caráter além de nosso intelecto, nos possibilitou cruciais reflexões responsáveis por nosso crescimento e amadurecimento como seres humanos altruístas.

Aos pais, fica a reflexão: com o que os senhores estão realmente preocupados? Com a vontade de manter seus filhos isolados de tudo aquilo que diverge do que lhes foi ensinado ou com o fornecimento de ensinamentos extremamente relacionados à convivência em comunidade e respeito ao diferente?

Com o tempo, vocês descobrirão, como nós, que o Colégio Santo Agostinho e seu corpo docente sempre estarão disponíveis para ajudar todos os que a eles recorrerem em busca de evolução pessoal.

Alunos da Terceira Série do Ensino Médio do Colégio Santo Agostinho- Unidade Belo Horizonte

* Sob supervisão da subeditora Jociane Morais”

Pode te interessar: Gênero e sexualidade: como alguns pais do colégio Sto Agostinho incentivam a intolerância >>http://esquerdadiario.com.br/Genero-e-sexualidade-como-alguns-pais-do-colegio-Sto-Agostinho-incentivam-a-intolerancia<<




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