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PORTO ALEGRE | Adailson avalia reunião de Marchezan com rodoviários: “não lutar não é opção agora”

Adailson Rodoviário conta sobre reunião do prefeito Marchezan Jr. com os rodoviários em que se discutiu o futuro dos cobradores. Marchezan quer extinguir o cargo de cobradores, levando milhares às ruas.

terça-feira 7 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Na reunião estiveram presentes, junto ao vereador Roberto Robaina do PSOL, além do prefeito Marchezan, lideranças de base dos rodoviários de várias empresas, da Restinga, da Trevo, da Sudeste, da Presidente, da Carris.

Esquerda Diário: Como surgiu essa reunião?

Adailson: Surgiu através da iniciativa do pessoal da Restinga, através do contato com o Robaina e a bancada do PSOL, eles conseguiram uma reunião com o prefeito. A intenção era avaliar qual é o posicionamento do prefeito, apesar de já estar meio explicito isso, já não é mais segredo para ninguém o que ele pensa sobre o sistema, sobre os cobradores, e avaliando o que ele pretende para partir dai ver como proceder.

ED: Qual a sua avaliação da reunião?

Adailson: A minha avaliação do resultado da reunião é que de pratico ainda não se tirou nada. Eu pelo menos não sai da reunião com expectativa de avanço. Uma das propostas do prefeito em dado momento – que em um primeiro momento caiu nas nossas graças, mas que se pararmos para avaliar tem toda uma questão por trás que deve ser vista e não é tão simples quanto parece e não é tão boazinha como disse ele. A proposta do prefeito de não demitir os atuais 3600 cobradores, mas simplesmente não contratar. Ele perguntou: como ficaria, o que vocês acham? Por algum momento o pessoal balançou nessa questão, mas é uma questão que tem que ser bem mais discutida. A única parte da reunião que teve um sentido pratico e que ainda vai se discutir pra que serve esse sentido pratico foi essa. Não foi uma proposta oficial, mas foi uma proposta que ele deixou no ar.

Inclusive ele chegou a dizer que no caso de demitir hoje os cobradores, os trabalhadores da roleta, ele conseguiria reduzir 9 centavos por ano na tarifa.
A questão que eu levantei na reunião foi a da valorização dos cobradores. Eu como motorista eu coloquei que pra mim é fundamental a presença do cobrador, o cobrador é muito mais do que um trocador de dinheiro porque sem o cobrador existe uma tendência aos caos dentro do ônibus, os passageiros ficam de certa forma abandonados a própria sorte, a tendência a roubo é ainda maior. As pessoas respeitam a presença do cobrador, garante um pouco o respeito pelo espaço publico. É um fator de humanização do sistema o trato do cobrador com o usuário.

ED: O que tu teria a dizer para os rodoviários nesse momento?

Adailson: Para os rodoviários que estão sem perspectiva de aumento e que se vier talvez seja via judicial e é uma tendência porque até agora não se entrou em acordo e já estourou o prazo pra solução do dissidio o caminho é a mobilização, não lutar não pode ser uma opção agora. Não se organizar, não estar preparado para a luta não pode ser uma opção. A gente não sabe sequer o que vai acontecer com o dissidio o que de certa forma é algo inédito porque todos os anos, embora com tantos embates que a gente sempre teve uma luz quanto ao dissidio. Se sabia previamente valores que estavam sendo discutidos hoje em dia a gente não sabe nem que valor de aumento se propõe além daquele 5% que foi uma única proposta da patronal e de lá pra cá morreu.

Então tem que ter unidade da categoria, tem que ter mobilização, os rodoviários, todos nós que não recebemos o aumento de salário, porque até agora não saiu o dissidio, os cobradores que estão com a ameaça de desemprego, não da pra confiar tão somente em atuações de gabinete, atuações da Câmara. Da mesma forma que a gente não confia no sindicato e acaba deixando na mão do sindicato o dissidio, não podemos cometer o mesmo erro quando a gente não confia de modo geral na casta política e aqui no município não é diferente. Temos uma bancada governista que tende a atender aquilo que propõe o prefeito. Se a gente não confia na casta política que está ai, por que a gente vai, em um momento tão decisivo para a categoria, deixar que setores do gabinete do prefeito votem ou coloquem em votação sem resistência ou mobilização da categoria uma proposta tão importante que interfere na vida de 3600 trabalhadores e suas famílias?

ED: É possível unificar essa luta com a juventude que se mobiliza contra o aumento da tarifa?

Adailson: Tem que se procurar saber quem é o adversário nesse caso. Muito se vê, as vezes, o trabalhador vendo o jovem da cidade como um entrave ao aumento salarial e daí tu vê uma parcela da sociedade, que não tem essa consciência que esse jovem tem, que considera que o entrave todo do valor da tarifa é o trabalhador. Vejam a situação que fica. Uma parte da sociedade acredita que o problema são os trabalhadores e os trabalhadores acreditam que uma parte do problema é uma parte da sociedade que se mobiliza contra o aumento da tarifa.

Eu acho que tem que se trazer essa discussão de unificação das lutas. Dos jovens, da juventude, das organizações de esquerda da cidade, dos trabalhadores, pra entender que o problema tá na conta das empresas que não fecha e não se investiga. O prefeito falou muito hoje em respeitar as leis da licitação e cumprir a licitação, mas a parte que tem de fiscalização das empresas por parte da licitação não vem sendo feita. Tanto é que sai ônibus velho fim de carreira, pintado como novo pra circular na cidade, ônibus sem banco do motorista, sem banco do cobrador, os bancos dos passageiros caindo aos pedaços, sujo, pneu careca, elevador, quantos e quantos deficientes físicos ficam ai nas paradas em dia de chuva porque elevador não funciona. Então tem uma série de discussões que não é problema do usuário nem do trabalhador. O problema esta nas empresas que administram mal ou administram do jeito que elas querem. Porque o que parece ser mal de repente para elas é um caminho alternativo bom e colocam nas costas dos trabalhadores e da juventude.

A juventude tem que parar de fazer atos tão somente isolados e buscar uma aproximação com os trabalhadores e os trabalhadores tem que parar de achar que o problema é a juventude e abraçar a juventude como uma parte importante dessa ferramenta de luta, que é a mobilização referente ao transporte.

ED: Na sua visão qual a solução para crise do transporte público em Porto Alegre?

Adailson: O fator determinante pra toda discussão sempre em relação ao transporte é o lucro. O que se coloca em questão sempre é o lucro. O patrão precisa, ele alega que tem prejuízo aqui, aqui e ali, mas ele não larga e todo o serviço que é prestado, todo dialogo em torno da tarifa no final das contas se resume a que? Garantir que todo o sistema opere e garantir que o patrão tenha lucro.

Uma maneira de acabar com isso é justamente aquela velha máxima que eles usam, muito patrão usa por ai “tá ruim? Procura outro emprego”. É assim que falam para o trabalhador e é isso que eu diria hoje para a patronal. Tá ruim? Deixa que os trabalhadores assumam e vão procurar outra função, outra atividade para exercer. Os trabalhadores têm condição hoje de tocar o sistema. Quem move o sistema são os próprios trabalhadores, o trabalhador sabe como operar o sistema. Eventualmente uma empresa grande como a Carris teria que ter um acompanhamento maior, trazer a sociedade para acompanhar. Mas essencialmente hoje a solução é a estatização do sistema. Eliminar a necessidade de lucro.

Se usa sempre a Carris como mau exemplo, na rede social se usa assim. A Carris já foi um exemplo, já foi a maior e melhor da América Latina. Então por que não é hoje? Por má gestão. Então se sabe que se fizer uma gestão boa, junto com os trabalhadores, junto com a sociedade, e estatizar o sistema, investir em transporte público de qualidade, ônibus novos, treinamento para a tripulação, cobrador e motorista, a coisa melhora. Eu acho que passa por ai.




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