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CESSAR FOGO NA UCRÂNIA | Acordo de Minsk: uma nova pausa em um longo conflito

O acordo é um alívio para o povo de Donestsk e Lugansk que sofrem cotidianamente o fogo da artilharia do regime ucraniano. Enquanto a Rússia e os rebeldes pró-Russia avançam um pouco, o cessar-fogo não resolve as principais questões. A diplomacia europeia sai circunstancialmente fortalecida, e os falcões norte-americanos se vêem obrigados a postergar por hora sua campanha de “armamento para a Ucrânia”.

Juan ChingoParis | @JuanChingoFT

terça-feira 17 de fevereiro de 2015 | 18:00

O acordo alcançado, após 17 horas de negociação, não trás grandes avanços, embora seja uma melhora da Rússia e dos rebeldes Pró-Russia. Não poderia ser de outra maneira já que, como temos explicado, houve negociações poque a economia e o regime ucranianos estavam quase em colápso e seu exército pela segunda vez derrotado. Foi isso e o temor de uma escalada militar por parte dos EUA que levou Merkel e Hollande a entrarem em uma negociação, especialmente viajar à Moscou para conversar de forma privada (e sem as escutas da CIA) com Putin.

Tudo dependerá da situação política das repúblicas do Leste da Ucrânia

O acordo não resolve ainda o tema mais espinhoso do conflito atual, isto é, a situação das províncias rebeldes do Leste da Ucrânia. Se uma descentralização, uma federalização como propôe a Russia, e recentemente parecem se inclinar os europeus, uma confederação ou uma região autônoma como a dos curdos no Iaque; variante a que tendem os rebeldes depois do sangue do ódio que correu entre esses e o regime de Kiev. A Rússia não buscou esse resultado na negociação atual, uma vez que levantou a todo tempo ser um jogador alheio ao conflito e, portanto, a fórmula utilizada é a da necessidade de uma revisão constitucional, como no acordo Minsk anterior, em setembro de 2014. Essa é uma demanda que a Rússia levanta desde a caída do governo de Viktor Yanukovych e o golpe pró-imperialista de fevereiro de 2014.

Ao mesmo tempo, se a Russia pressioasse além da conta arriscava perder aliados, considerando que a situação melhorou uma vez que se mostrou a ineficiência das sanções, e seu objetivo estratégico - buscado a cada passo - se estende para a conquista do alinhamento político de toda a Ucrânia, e não apenas da Nova Russia ou de Donbass.

Por hora, o que é importante para a correlação de forças neste campo, é de fato a exigência de retirada das armas pesadas, armamento este que dá vantagens ao regime de Kiev. Se isso não se concretiza os rebeldes poderiam avançar ainda mais no terreno militar.

Perspectivas incertas para uma solução definitiva

Pela primeira vez, conscientes do que estava em jogo, o eixo franco-alemão pare ter atuado à altura do desafio e não seguiu os passos de Washington. Em um momento em que há uma saturação estratégica entre o perigo de terrorismo, após os atentados em Paris, e as difíceis negociações com a Grécia sobre a dúvida pública, não é pouco.

Dito isso, dado o fracasso de Minsk, nada garante que este novo acordo irá avançar. Apesar da fraqueza do regime de Kiev, este só se conforma com uma vitória. A diferença mais importante é que agora França e Alemanha estão formalmente comprometidas. Isso implica que estejam dispostos a forçar o cumprimento de seus compromissos? A experiência de todos esses meses faz duvidar disso. Porém, a diferença mais substancial entre setembro e agora é a mudança da opinião pública e da política na Alemanha e na França.

Na segunda, não só Marine Le Pen saudou pela primeira vez o esforço de Hollande e Merkel em viajar à Moscou no sábado passado. Ainda mais significativo, Nicolás Sarkozy, ex-presidente e atual presidente da coligação conservadora UMP, saiu na defesa de todos os argumentos de Putin sobre atual conflito. E disse: “A separação entre Europa e Rússia é uma tragédia. Que os estadunidenses a desejem é seu direito e seu problema (...), mas nós não queremos o ressurgimento de uma guerra fria entre Europa e Rússia.”

Na Alemanha, o clima anti-norteamericano também se deteriorou afetando a Chanceler Merkel, que se aliou em grande medida com a política de Obama na segunda fase do conflito, devendo dar um forte giro de última hora. Dois exemplos que falam por si só. Em um debate onde estavam presentes o embaixador norteamericano na Alemanha Kornblum e o atual presidente do parlamento europeu, o alemão Schulz, este último afirmou (em resposta a Kornblum que havia afirmado que nada se resolvia sem a participação dos EUA): “Quero enfatizar que os EUA não são vizinhos da Russia, e que a guerra não está localizada nas portas dos EUA. Quero insistir que esse é um problema é um problema europeu e creio que os EUA devem manter-se a uma distância respeitosa.” Mesmo dentro do governo alemão, o ministro de relações exteriores alemãs, Frank-Walter Steinmeier, chegou a afirmar em uma entrevista de rádio que se não se alcançou nenhuma decisão política (em relação à guerra) na Ucrânia, o governo alemão “reserva-se o direito de agir decididamente contra os líderes ucranianos, até mesmo e incluindo o estabelecimento de sanções.”

Se a diplomacia europeia não atuar de forma mais decidida e com crescente independência dos EUA, o mais provável é que as coisas sigam se resolvendo neste terreno. Por um lado, não se pode descartar que os EUA busque cada vez mais fazer de Kiev um regime vassalo. Por outro, as forças rebeldes continuarão tomando a frente, como mostra o fato de que, segundo fontes confiáveis, foram mortos mais de 2300 militares ucranianos nesta segunda fase do conflito, uma média de quase 100 por dia. Por hora, essa é a única força que está movendo as realidades diplomáticas na Ucrânia e na Europa, na ausência de qualquer intervenção independente da classe trabalhadora tanto no leste quanto no oeste da Ucrânia. Se as coisas seguem assim, a perspectiva de uma divisão da Ucrânia de fato aparecerá cada vez mais como inevitável.




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