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#ENCONTRONACIONALDEMULHERES | Abriu-se o debate nas oficinas do encontro de mulheres

Dezenas de milhares de mulheres se uniram em Rosário na luta por seus direitos. Apresentamos um resumo das principais discussões e resoluções do primeiro dia.

sexta-feira 14 de outubro de 2016 | Edição do dia

Neste sábado milhares de mulheres mudaram a cor da cidade de Rosário, renovando a paleta de azuis, verdes e beges das forças de segurança que nas últimas semanas invadiram as ruas para a “Campanha de Segurança” dos governos nacional e local.

Depois do ato de abertura na manhã deste sábado, que lotou o Monumento à Bandeira, as participantes debateram nas sessenta e nove oficinas que se desenvolviam este ano. Esta participação também se expressou nas redes sociais transformando o #encontronacionaldemulheres num evento de várias horas.

Com a contribuição de muitas corresponsáveis do Esquerda Diário Argentino através de nossas contas no Twitter e Facebook, apresentamos o resumo dos principais intercâmbios e resoluções desta primeira e intensa jornada.

Oficina de estratégia para acesso ao aborto

Uma das discussões principais foi em torno da descriminalização do aborto e da exigência do direito a ele. Inevitavelmente, as oradoras abordaram o caso de Belén, que foi presa após sofrer um aborto espontâneo e que hoje luta por sua absolvição, depois de ter sido arrancada da prisão pela mobilização de milhares de mulheres.

Surgiram, por sua vez, distintos debates sobre a responsabilidade do Estado em mais de 300 mortes de jovens pobres por ano em aborto clandestino. As formas de conquistar o direito à interrupção voluntária da gravidez também foram parte dos debates. O papel dos governos Kirchneristas e do Cambiemos, assim como da Igreja foram outros dos pontos que ressaltaram as mulheres que assumiram a palavra.

A necessidade de impulsionar um plano de ação para a conquista deste direito também motivou o intercâmbio das participantes muitas delas propuseram que as oficinas do Encontro avancem nesta importante tarefa votando medidas concretas.

Oficina Mulher e Tráfico

Esta oficina foi uma das mais numerosas: passaram por ela mais de 300 mulheres que denunciaram as redes de tráfico e prostituição. Foi destacada a participação e intervenção de familiares de vítimas do tráfico que denunciaram a cumplicidade entre funcionários e policiais neste negócio gerado em torno da exploração sexual de mulheres.

A mãe de uma jovem desaparecida falou da necessidade de impulsionar mobilizações em todas as localidades do país e propôs a concretização de uma semana do “não ao tráfico”, recebendo aplauso de todas as presentes. Margarita, mãe de Susi – Também vítima do tráfico de mulheres -, afirmou que “os prostíbulos são centros de violação, tortura e morte, não é a primeira vez que venho a um encontro”, disse, e sustentou que é necessário avançar para que estes eventos permitam às mulheres retornar com idéias mais claras ao fim.

Oficina Mulher e Migração

A oficina sobre mulheres e migração contou com a presença de mais de cem mulheres de países e regiões distintas.

Debateram sobre os entraves da lei de migrações e repudiaram ao centro de detenções de imigrantes, criado recentemente pelo Macrismo, enfatizando que a melhor forma de enfrentá-los é organizar-se.

Por outro lado se questionou que na abertura do Encontro Nacional de Mulheres se cante o Hino Nacional Argentino quando milhares de outras mulheres que participam são de outras nacionalidades e culturas. Algumas sustentavam que o ato de cantar o hino reforçava a divisão entre as mulheres.

Entre as participantes se destacou María, trabalhadora recentemente incorporada a têxtil Elemento, de onde havia sido demitida em 2013 por se organizar em luta por seus direitos.

Também se mencionou o caso de Daniel Solano, trabalhador desaparecido em 2010 com envolvimento da polícia do Rio Negro. Ao fim desta oficina foram colocadas várias propostas e resoluções que foram debatidas na jornada de domingo.

Oficina Mulher e Trabalho

Como foi denunciado desde o sindicalismo combativo, mais da metade das mulheres se encontra em situação precária, recebem salário em torno de 30% inferior ao de seus companheiros homens e, além disso, suportam o assédio de patrões, chefes e supervisores. A política de ajuste do governo nacional e dos governos das províncias atravessou o debate nas oficinas. A inação das entidades sindicais que seguem sem por data para uma paralisação nacional, também atravessou o intercâmbio das centenas de mulheres.

Trabalhadoras das fábricas recuperadas Madygraf e Zanon difundiram nesta e em outras oficinas a proposta de impulsionar uma grande campanha em defesa da recuperação dos postos de trabalho das empresas por suas trabalhadoras e trabalhadores.

Oficina Mulheres e Partidos Políticos

Um dos debates recorrentes na oficina de Mulher e Política foi a da cota feminina, a propósito do projeto apresentado pelo bloco oficialista do Cambiemos que tenta utilizar a paridade para maquiar uma reforma eleitoral reacionária.

“Desde o Pão e Rosas, levamos à oficina a voz de nossa companheira Myrian Bregman do PTS na Frente de Esquerda: apoiamos a cota feminina e propomos que haja 50% de mulheres nas listas no mínimo e não como teto”, indicou Lorena Castro, mestre e integrante da junta eleitoral de Ademys.

A maioria das mulheres e organizações presentes nesta oficina rechaçaram a reforma política do oficialismo.

Oficina Transgêneros, Travestis e Transexuais

A luta contra a violência e pela cota trabalhista para pessoas trans foram o centro do debate nesta oficina, que refletiu a vida cotidiana em que vivem milhares de pessoas trans em nosso país. Os transfeminicídios, discriminação e falta de acesso ao trabalho, saúde e educação também fizeram parte do debate. O Esquerda Diário Argentina conversou com algumas de suas participantes.

Oficina Mulheres e Meios de Comunicação

Em sua primeira jornada, as participantes desta oficina colocaram em questão o papel dos meios de comunicação e sua cumplicidade na perpetuação do machismo, votaram realizar uma campanha por uma comunicação não sexista e aprovaram impulsionar uma agência oficial de notícias do Encontro Nacional de Mulheres.

Oficina Mulheres e Direitos Humanos

A oficina de direitos humanos começou com um debate que culminou na votação para presidente honorária Elsa Godóy, falecida há poucos meses no marco de uma valente luta por justiça a seu filho, Franco Casco, assassinado pela polícia em Rosário.

A oficina também votou exigir a liberdade de Milagro Sala e o repúdio ao regime repressivo de Jujuy. Curiosamente, as militantes Kirchneristas se retiraram depois disto: devido às críticas de numerosas organizações, como Correpi, Pão e Rosas, Centro de Profissionais de Direitos Humanos e familiares do gatilho fácil à repressão que se viveu durante o governo anterior. As mulheres da oficina também se pronunciaram contra o gatilho fácil e a criminalização do protesto.

Oficina de Mulheres Afrodescendentes

Como destacou Silvia Balbuena, participante da oficina de Mulheres Afrodescendentes, esta é a primeira vez que se realiza esta oficina no encontro de mulheres e foi muito concorrido. Em uma entrevista ao Esquerda Diário da Argentina, Silvia falou sobre a discriminação que sofre a comunidade negra na Argentina e a nível mundial, expressou a necessidade de unir sua luta à de outros setores oprimidos e a perspectiva de votar um plano de luta desde o encontro.

Oficina Mulheres e Cannabis

Uma das novidades deste encontro foi a realização, pela primeira vez, da oficina “Mulher e Canabbis” que teve que desdobrar-se em três comissões por sua grande convocatória. As associações canábicas levaram a proposta de acompanhar no dia 13 de outubro passado aos familiares que exigem a aprovação da lei pela descriminalização do uso medicinal da Cannabis com uma mobilização no Congresso Nacional Argentino.




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