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RESPOSTA A ARTIGO CONTRA A GREVE DA USP NA FOLHA | A universidade é da sociedade, e a conta da crise é dos patrões e governos

Em artigo publicado na sessão “Tendências/Debates” da Folha de S. Paulo dessa quarta-feira, 08/06, o professor do Instituto de Física Teórica da Unesp, George Matsas, se posiciona contra a greve das universidades estaduais paulistas dizendo que a crise das universidades é responsabilidade dos trabalhadores e docentes, e da própria comunidade acadêmica. A “autocrítica” que Matsas recomenda deveria começar por ele mesmo

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quarta-feira 8 de junho de 2016 | Edição do dia

O artigo é, como de costume entre as peças de propaganda produzidas por aqueles que atacam a greve, manipulador do início ao fim. Para começo de conversa, o artigo omite as razões da greve, alegando que se trata de uma disputa meramente salarial, da mesma forma que o editorial da Folha que falava sobre a USP ser uma “Torre de Marfim” e que já respondemos.

Já que o professor afirma ser irresponsável exigir aumento salarial frente à crise da universidade (o que é uma falácia, pois o que o Conselho de Reitores quer é impor um arrocho de 7%, e não meramente “não aumentar”), ele deveria colocar aos leitores a situação salarial a que faz alusão. Enquanto afirma que os trabalhadores são “gananciosos”, dados disponibilizados pela própria Folha mostram que, no ano de 2014, ele recebia um salário bruto de R$ 19.915,62, algo pouco acima de vinte vezes mais do que o piso salarial recebido por uma auxiliar de serviços gerais de sua universidade na mesma época. Talvez aí fique clar de que tipo de privilégios estamos falando quando pensamos na universidade e naqueles que ganham supersalários que muitas vezes extrapolam até mesmo o teto legal do funcionalismo público em São Paulo.

Contudo, cabe dizer outras coisas que Matsas faz questão de omitir: que essa greve não se iniciou e nem é só por salários, mas, acima de tudo, é contra o desmonte da universidade pública e para que ela se abra para a população e se democratize. Por isso ela é contra o corte de orçamento da ordem de R$ 40 milhões na Unicamp e R$ 370 milhões na USP; ela é contra o desmonte das creches e dos hospitais universitários e de sua desvinculação da universidade e atribuição à entidades privadas por meio das OSS (Organizações Sociais de Saúde); ela é por cotas para negros e indígenas que as universidades racistas de São Paulo se recusam a implementar.

Tampouco essa luta é apenas dos funcionários e docentes, mas ela tem uma expressiva participação dos estudantes da universidade, que estão em luta por todas essas pautas e também contra a mudança do regime de contratação dos professores, que não apenas precariza o trabalho docente, mas desvincula a pesquisa, o ensino e a extensão, abrindo as portas para que a universidade deixe de excercer o pouco papel social que ainda tem hoje. As salas superlotadas e a falta de oferta de matérias atingem sobretudo os cursos de licenciatura e de formação de profissionais para os serviços públicos, pois os cursos com viés de mercado seguem sendo privilegiados na destinação orçamentária.

O que, aliás, leva a outro ponto em que Matsas faz questão de confundir seu leitor: fazendo da “comunidade acadêmica” um corpo homogêneo, ele diz que os “administradores [das universidades] (atuais e passados) não vieram de Marte. Eles vieram dessas mesmas universidades e foram votados por seus membros”. Nada mais falso. Os administradores dessas universidades são burocratas com interesses ligados às empresas privadas e aos governos tucanos do estado. Eles são eleitos em restritíssimos Conselhos Universitários onde trabalhadores e estudantes não tem voz nenhuma, e são eles os responsáveis por tornar a universidade cada vez mais antidemocrática, ampliando a terceirização, reduzindo os hospitais, creches e a permanência estudantil, se negando a implementar cotas com argumentos racistas, mantendo o vestibular como filtro social elitista e racista.

A conta da crise universitária é daqueles que, como Matsas, defendem seus próprios privilégios e procuram fazer a elitização e o desmonte da universidade se passarem por democracia e altruísmo. A greve que hoje toma conta das universidades estaduais paulistas é para botar abaixo esse regime de privilégios com seus supersalários, suas empresas terceirizadas que faturam milhões em cima da superexploração de trabalhadores, e seus burocratas que querem lotear a universidade pública para a iniciativa privada ao invés de abri-la para a população que a sustenta com seus impostos. Uma democratização no acesso, na estrutura de poder, na produção de conhecimento é o que defendemos.




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