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PSICANÁLISE EM DEBATE | A subversão da psicanálise

O processo da psicanálise é a investigação de nós mesmos pela fala, a procura desses desejos e motivações inconscientes, uma pesquisa em nós mesmos sobre aquilo que somos, como nos tornamos e que, por fim, pode nos ajudar a pensar como e o que queremos ser. É um processo de tomada de consciência das forças psíquicas que agem dentro de nós, e, assim, uma forma de nos tornarmos mais sujeitos de nós mesmos.

terça-feira 2 de junho de 2015 | 00:00

Outro dia estava em um debate na Semana de Psicologia da USP; o tema era “machismo, feminismo e psicanálise”. A psicologia da USP, até onde a conheço, é um terreno não muito amigável para a psicanálise; como todo o mainstream da psicologia hoje, ela é hegemonizada pela visão cognitivo-comportamental, fundada numa concepção antes de tudo biológica do comportamento humano. Floresce com os modelos de Pavlov, Skinner, que partem do comportamento animal, do condicionamento e estímulo-resposta para, a partir daí, proporem um entendimento do humano e seu psiquismo. [1]

Bem, foi nesse ambiente que, após a apresentação dos palestrantes, um jovem estudante de psicologia fez uma pergunta que achei muito interessante. Era algo como: o que há de subversivo na psicanálise? Como ela propõe alguma mudança na visão estabelecida por essa sociedade patriarcal, machista? Era algo assim. Esse rapaz queria saber o que na psicanálise propõe a ruptura com o estabelecido. Se ela aceita o mundo como ele é, ou se ela o desafia. Pergunta difícil.

Pensei sobre isso, sobre o debate, sobre o lugar dessa teoria na sociedade e na minha vida. Foi bastante interessante o fato de que, antes da pergunta ser feita, na exposição feita por duas estudantes do Coletivo Feminista da Psico, elas tivessem levantado, ainda que procurando não “atacar frontalmente”, a objeção à psicanálise de que ela tivesse uma compreensão “machista” do psiquismo. Para isso, elas se fundamentaram em um trecho de Freud de “O caso Dora” em que ele afirma: “Eu tomaria por histérica, sem hesitação, qualquer pessoa em quem uma oportunidade de excitação sexual despertasse sentimentos preponderante ou exclusivamente desprazerosos”. [2] Me chamou a atenção pois esse trecho também me revirou o estômago quando o li, e depois me fez pensar bastante.

As meninas estavam certas, mas também erradas... Sem entrar no mérito dessa colocação específica de Freud, que precisa ser discutida em seu contexto para se possa compreender o que ela de fato significa (e as interpretações, obviamente, nem sempre serão convergentes), a primeira coisa que tenho a dizer, partindo da objeção correta de que Freud carregava em si um forte ranço do patriarcado, é que nenhuma teoria, por si, garante a “subversão”. Teorias muito mais subversivas que a psicanálise, como é o caso do marxismo, já foram, elas mesmas, “subvertidas” para que servissem à domesticação e à manutenção do status quo. Quantos “marxólogos” estão hoje tranquilamente em seus gabinetes, escrevendo teses e artigos perfeitamente inocentes e bem comportados, que em nada subvertem esse mundo apodrecido. Por isso, o que vou tratar nesse texto não é se a psicanálise é ou não subversiva, pois isso depende de sua aplicação concreta, da práxis. O que vou falar é de seu potencial subversivo, tal como o entendo.

A primeira revolução que Freud fez ao abordar o psiquismo humano – e ele partiu das histéricas internadas nos hospitais para isso – foi o ato incrivelmente simples e verdadeiramente subversivo de ouvir. Ele foi aprendendo, aos poucos, a escutar o sofrimento de suas pacientes. A medicina era (era?) arrogante o suficiente para, ao se deparar com uma doença sobre a qual não tinha a menor compreensão, achar que quem estava errado era o doente, e não o conhecimento médico. A histeria era uma “não-doença”, uma frescura, uma falta de satisfação sexual, uma “coisa de mulher” no sentido mais pejorativo e misógino que se possa imaginar. A histeria – uma doenças que atingia sobretudo as mulheres – estava fadada a ser trancafiada em hospitais e manicômios, e não estudada seriamente para que se chegasse à sua cura. Isso porque era uma doença à qual podemos encontrar referências desde o Egito e a Grécia antiga...

Freud bebeu em muitas fontes, entre as quais podemos destacar Jean-Martin Charcot – o famoso estudioso da hipnose com quem Freud estudou em Paris e que lhe ajudou a compreender que havia algo na histeria que remetia ao inconsciente psíquico – e Joseph Breuer, com quem realizou seus primeiros estudos sobre a histeria e as primeiras tentativas de cura com o método da sugestão hipnótica. Aí, já havia algo novo: a tentativa de cura, a escuta, a descoberta do “trauma” por trás da doença. Mas ainda não era o verdadeiramente subversivo.

Depois, com o aprofundamento dos estudos e da prática, Freud superou sua teoria da sedução, segundo a qual a histeria seria desencadeada por um episódio de abuso sexual na infância. Freud percebeu que havia mais do que uma posição passiva na criança: que ela era um ser desejante, dotado de sexualidade, entendida aí como a faculdade de querer, desejar, se identificar com o outro; de mover sua energia psíquica em direção aos objetos de desejo. A criança fantasiava, e era dotada de sexualidade. Aí se inaugura o que é, a meu ver, subversivo. Sintomático disso foi o escândalo causado pela ideia de que crianças fossem dotadas de sexualidade (a ideia de que crianças são gente, sujeitos).

A psicanálise entende que há algo inconsciente que nos determina; essas determinações inconscientes são um produto de nossa história, de nossa experiência, de nossos desejos em contato e em conflito com o outro; essas experiências se moldam em nossa subjetividade, se internalizam, dão origem às respostas que aprendemos a ter diante do mundo, diante dos desejos; o conflito externo é também interno, é motivador e fonte dos conflitos psíquicos que, uma vez reprimidos, são inconscientes, mas permanecem atuantes sobre nós. E aí, uma outra subversão da psicanálise em sua época: a ideia de que não somos seres de pura razão e plenamente conscientes de nossas motivações e desejos. Um golpe no egocentrismo de uma Belle Époque.

Esses conflitos, por sua intensidade e irresolução, podem nos levar a adoecimentos. Questões reprimidas “explodem” em sintomas, uma manifestação distorcida daquilo que pesa em nosso inconsciente, em nosso desejo. O corpo acaba expressando aquilo com que nosso consciente não consegue lidar. O processo da psicanálise é a investigação de nós mesmos pela fala, a procura desses desejos e motivações inconscientes, uma pesquisa em nós mesmos sobre aquilo que somos, como nos tornamos e que, por fim, pode nos ajudar a pensar como e o que queremos ser. É um processo de tomada de consciência das forças psíquicas que agem dentro de nós, e, assim, uma forma de nos tornarmos mais sujeitos de nós mesmos.

É isso o que é subversivo na psicanálise. Para deixar isso mais claro, vamos pensar um pouco sobre como esse mundo nos situa diante dele e entende nossa saúde, nosso adoecimento e nosso psiquismo. Somos o tempo inteiro sujeitados àquilo que não nos pertence: o tempo do trabalho, as imposições de uma rotina, de um sistema, de uma vida, na qual não somos nós que escolhemos. A depressão, o “mal do século”, está ligada a uma vida em que somos atacados pela cultura do individualismo em um mundo que paradoxalmente nos impossibilita de sermos sujeitos. Nos tornamos sujeitos pelo consumo, padronizado, que também é negado à maioria. A alienação é a marca maior, a solidão é a expressão corriqueira, a vida se torna estranha a nós. A possibilidade de sermos sujeitos nos é permanentemente negada.

A medicina nos oferece uma resposta: ela desenvolve medicamentos avançados, poderosos, capazes de apaziguar as nossas dores. Calmantes para o pânico, a fobia, a angustia e a insônia. A psicanálise, seu longo e ineficaz “blá blá blá”, que leva meses (ou anos) para descobrir tortuosamente as origens de um sintoma, é uma coisa do passado. A psicanálise, diz a “ciência”, é uma coisa para o tempo em que não sabíamos as determinações bioquímicas, os neurotransmissores que causam as tristezas e os adoecimentos. Agora, é só repor o seu nível de serotonina, e a felicidade e a tranquilidade serão suas. A ciência resolveu seus problemas, sem essa “enrolação” de inconsciente, desejo, traumas, conflitos psíquicos.

A operação ideológica por trás disso tem suas sutilezas, apesar de seus resultados violentos. Veja bem: seu sofrimento psíquico não é mais parte de sua constituição como sujeito, de sua história, de seus desejos e os conflitos que existem no seu psiquismo. As causas são orgânicas e iguais para todos; as causas são bioquímicas, e não históricas, subjetivas e sociais. Assim, para todos, um critério único: uma lista de sintomas, um cardápio de drogas eficientes a serem administradas. A tão esperada cura está ao alcance de um balcão de farmácia.

Me responderão que esse discurso que faço é “ideológico”, “romântico”, que ele não analisa objetivamente as doenças, as pesquisas que demonstram os resultados, os níveis de serotonina etc. A resposta é que, sim, meu discurso é ideológico, tanto quanto é esse discurso pretensamente “neutro” e “científico”. Todo conhecimento é ideológico, e isso parte, em primeiro lugar, da pergunta que fazemos diante do objeto que indagamos. A pergunta da psiquiatria é: quais as causas bioquímicas do sofrimento humano? As pesquisas responderão: a baixa taxa de serotonina.

Agora, me diga uma coisa: quem disse que as baixas taxas de serotonina são a CAUSA e não a CONSEQUÊNCIA da tristeza? A inversão da pergunta é um tanto ridícula, pois coloca a questão como “o que vem primeiro, o ovo ou a galinha?”. Além do que, qualquer visão minimamente dialética saberá que a divisão da lógica formal entre “causas” e “consequências” puras é um erro metodológico em si; como diz Marx “o concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações”, determinações que se influenciam reciprocamente. Mas colocar a questão dessa forme serve ao propósito didático de mostrar o quão ingênua ou de má fé é a metodologia “científica e neutra” dos que reduziram o sofrimento humano e sua subjetividade a uma secreção hormonal ou um neurotransmissor.

Foi esse mesmo “método científico neutro” que criou teorias como as da eugenia, fundadas em “ciências” como a frenologia, em que, baseado no formato do crânio de uma pessoa, poderíamos dizer se ela era burra, inteligente, propensa ao crime ou de boa índole etc. Adivinhem só o que o formato do crânio dos negros sugeriu a esses cientistas “neutros”? Isso porque a investigação da realidade pressupõe o isolamento de alguns fatores e a investigação deles como variáveis. Ora, pensemos assim: o “frenólogo” vai ao presídio e mede o crânio dos criminosos. A partir disso ele tem os dados: 95% dos criminosos têm o crânio com o formato típico dos negros; essa conclusão “neutra” lhe diz “cientificamente” quem está propenso a ser criminoso. Esse método apenas esquece de considerar todo tipo de variável histórica e social que fez com que os negros fossem 95% dos presos; ela desconsidera como variável alguns séculos de escravidão e opressão, de racismo e violência, que encarcera os negros, e não os brancos. A resposta para tudo está na variável “formato do crânio”, que foi utilizado para determinar as consequências do comportamento do indivíduo.

Esse exemplo é para pensarmos as metodologias “modernas” que utiliza a psiquiatria, quando, por exemplo, vê na TPM e em hormônios femininos a causa de tantos “distúrbios do humor”. Desde Freud, a maioria das pacientes psiquiátricas eram mulheres; hoje, a depressão, o pânico e a fobia continuam atingindo sobretudo as mulheres. A psiquiatria está preparada para levar em consideração a situação social das mulheres, a opressão milenar do patriarcado, para entender a origem das doenças psíquicas que acometem as mulheres? Ou para ela basta medir as taxas de serotonina, tal qual os frenólogos mediam crânios? Assim, não apenas a psicofarmacologia vê em variáveis como “taxas de serotonina” as “causas” para as doenças, como diversos outros campos da pesquisa científica incorrem em erros de estupidez notável. Por isso, é comum vermos dia sim, dia não, uma “descoberta” no jornal sobre o “gene da genialidade”, o “gene da homossexualidade”, o “gene da longevidade” ou qualquer baboseira do estilo. Uma tecnologia de ponta, sem um método dialético de apreensão da realidade, só produz resultados tão míopes quanto esses.

A questão é que as linhas hegemônicas de psicologia, a cognitivo comportamental, o behaviorismo, a psicofarmacologia, veem a doença como algo externo ao sujeito que o acomete. O médico ou o terapeuta, dotados de respostas, tratam o doente para livrá-lo de seu mal. A pessoa adoecida não é mais sujeito de nada. Sua fobia, seu pânico, sua ansiedade, sejam qual forem suas origens, serão tratadas da mesma forma, sob os desígnios das pesquisas e dos remédios adequados. O sofrimento humano é cada vez mais despersonalizado nessa visão bioquímica.

Um exemplo menor, mas expressivo dessa concepção, está na definição de luto. Os psiquiatras usam como sua “bíblia” o DSM, o livro que cataloga todos os transtornos mentais. Em sua quarta edição, o DSM definia o luto como um “transtorno de adaptação”, o que por si só já é algo bastante sintomático. É o luto um “transtorno”? De adaptação a que? Ao ritmo embrutecedor e desumano do trabalho. Ou seja, se morre alguém próximo, pode ser que a pessoa sofra, mas entendamos que ela está “mal adaptada” à sociedade e fiquemos alertas para a possibilidade de medicá-la. O DSM cinco, recém-lançado, reviu sua definição de luto, estabelecendo um prazo: quinze dias é o “tempo padrão”. O que isso quer dizer? A perda de pessoas ou coisas amadas passou a causar menos sofrimento psíquico nos últimos vinte anos? Que todos nós sentimos e sofremos a perda da mesma forma, com a mesma duração e intensidade, independentemente de nossas características individuais e subjetivas? O que define esses tempos, se não a necessidade do capital de que as pessoas produzam, que os gastos com afastamentos de trabalhadores sejam cortados. Deu quinze dias e o cara não trabalha? Só porque morreu o irmão? Mete antidepressivo, sobe essa taxa de serotonina, e de volta ao trabalho alienado. A trata-se, mais uma vez, o sintoma da tristeza persistente: mesmo em algo evidentemente motivado por uma vivência, não há espaço para a consideração do sujeito que sofre. As respostas estão prontas, baseadas em prazos, sintomas e medicamentos pré-estabelecidos.

A psicanálise vem perdendo seu espaço e sua hegemonia incessantemente desde os anos 1950, quando a psicofarmacologia descobriu as primeiras drogas eficazes contra a depressão. Hoje, ela é vista predominantemente como atrasada, incapaz de se atualizar em relação aos avanços técnicos. Sim, ela é uma forma de compreensão psíquica estranha a esse tempo. Estranha porque seu método é o do auto-conhecimento, o de investigar as causas do sofrimento psíquico a partir de entender aquele que sofre como um sujeito diante de sua dor. Não há prazos certos e nem sequer a promessa de uma “cura”, termo, aliás, de emprego bastante duvidoso, já que podemos questionar mesmo os limites entre uma pessoa “doente” e “normal”, e considerando que o método psicanalítico é igualmente aplicável a ambos os casos. Em um mundo que não nos quer sujeitos, nunca, mas sim consumidores e bons empregados, a ideia de que alguém se transforme em sujeito é, sim, talvez mais do que nunca, subversiva. É certo que a “efetividade” da psicanálise dificilmente será a mesma de um remédio que mexe com a sua bioquímica cerebral e te bota de pé pronto pra bater o cartão de ponto. E é certo que essa sociedade está se lixando para se você resolveu seus conflitos, mas está é preocupada se você é “produtivo” e “bem adaptado”. Nem sempre a psicanálise irá te tornar uma pessoa mais “bem adaptada”. E quem disse que é sinal de saúde ser bem adaptado a uma sociedade doentia?

Mas essa subversão é apenas potencial, na medida em que a psicanálise e sua forma de enxergar o psiquismo jamais deixaram de ser restritas a uma pequena elite. As tentativas de torna-la acessível foram massacradas por um mundo que não permite o acesso de grande parte da população sequer ao saneamento básico ou a um atendimento de emergência em um Pronto Socorro. Hoje os que têm acesso a ela são os que, em geral, podem pagar pequenas fortunas por consulta e, ainda por cima, dispor desse bem valioso e escasso que no capitalismo pertence aos patrões: tempo. Tempo de parar, falar, ouvir, refletir. E, é claro, ainda por cima, nada garante que esse potencial subversivo do método psicanalítico será colocado em prática; a sua restrição a círculos de elite é castradora para a psicanálise, que perde em profundidade, em perspectiva, se tornando limitada em seus objetivos e sua compreensão do mundo. Enquanto seus praticantes forem os membros de uma classe social que está inserida em uma “bolha” com condições materiais bem diferentes da maior parte da população, as suas questões estarão limitadas e restritas a esse universo. Para que ela possa ser subversiva, seus adeptos terão que tomar como sua uma prática que está muito além da terapêutica, mas que é a política, a social, a de luta contra uma sociedade que efetivamente enclausura o psiquismo humano em jaulas que nem o melhor analista poderá ajudar seus pacientes a romperem.

NOTAS:

1- Após a publicação desse artigo, diversos estudantes e ex-estudantes da psicologia da USP corrigiram essa minha impressão, afirmando que a psicanálise possui, sim, um espaço muito grande, sendo considerada por muitos, inclusive, como hegemônica no curso. Portanto, corrijo aqui essa informação, cujo significado deixo para refletir em outro momento... agradeço aos estudantes da psicologia pela crítica.

2- Essa observação, feita por mim de memória, também foi corrigida: as estudantes não estavam afirmando que a psicanálise era, em si, machista. Uma delas responde a meu texto com o seguinte comentário: "Na minha opinião, a sua descrição da mesa ficou distorcida. Você colocou que na nossa apresentação defendemos que "a psicanálise tem uma compreensão machista do psiquismo" e que para fundamentar essa ideia utilizamos um trecho específico de Freud, do Caso Dora. A forma como de fato abrimos a discussão é bem diferente disso. Começamos conceituando o machismo como estrutural, institucionalizado e sistemático, pontuando que todas as abordagens teóricas e práticas da psicologia estão sujeitas à sua influência. Dissemos que a psicanálise pode ser mais vulnerável à essa influência por seu foco na sexualidade (tema que muito se relaciona com gênero) e por muito de seu estudo envolver obras escritas no início e meio do século passado. Em nenhum momento foi dito que a psicanálise tem uma "compreensão machista do psiquismo".

A citação do Caso Dora foi feita em outro momento da nossa argumentação, enquanto falávamos sobre anacronismo e sobre a importância de situar as discussões e aplicações de conceitos psicanalíticos no contexto atual. A citação em questão foi escolhida pois já foi apresentada fora de contexto e desproblematizada em aula. A importância das citações serem contextualizadas com a obra do autor foi colocada duas vezes: Na fala do coletivo e na fala da palestrante Ilana (diferentemente de como você deixa a entender, na minha compreensão, no seu texto). Não foi utilizada para algo simplista como "provar que Freud é machista". Na minha opinião, enquanto você defendia a importância da contextualização, você descontextualizou e distorceu (mesmo que não intencionalmente) a fala da mesa."


[1Após a publicação desse artigo, diversos estudantes e ex-estudantes da psicologia da USP corrigiram essa minha impressão, afirmando que a psicanálise possui, sim, um espaço muito grande, sendo considerada por muitos, inclusive, como hegemônica no curso. Portanto, corrijo aqui essa informação, cujo significado deixo para refletir em outro momento... agradeço aos estudantes da psicologia pela crítica.

[2Essa observação, feita por mim de memória, também foi corrigida: as estudantes não estavam afirmando que a psicanálise era, em si, machista. Uma delas responde a meu texto com o seguinte comentário: "Na minha opinião, a sua descrição da mesa ficou distorcida. Você colocou que na nossa apresentação defendemos que "a psicanálise tem uma compreensão machista do psiquismo" e que para fundamentar essa ideia utilizamos um trecho específico de Freud, do Caso Dora. A forma como de fato abrimos a discussão é bem diferente disso. Começamos conceituando o machismo como estrutural, institucionalizado e sistemático, pontuando que todas as abordagens teóricas e práticas da psicologia estão sujeitas à sua influência. Dissemos que a psicanálise pode ser mais vulnerável à essa influência por seu foco na sexualidade (tema que muito se relaciona com gênero) e por muito de seu estudo envolver obras escritas no início e meio do século passado. Em nenhum momento foi dito que a psicanálise tem uma "compreensão machista do psiquismo".

A citação do Caso Dora foi feita em outro momento da nossa argumentação, enquanto falávamos sobre anacronismo e sobre a importância de situar as discussões e aplicações de conceitos psicanalíticos no contexto atual. A citação em questão foi escolhida pois já foi apresentada fora de contexto e desproblematizada em aula. A importância das citações serem contextualizadas com a obra do autor foi colocada duas vezes: Na fala do coletivo e na fala da palestrante Ilana (diferentemente de como você deixa a entender, na minha compreensão, no seu texto). Não foi utilizada para algo simplista como "provar que Freud é machista". Na minha opinião, enquanto você defendia a importância da contextualização, você descontextualizou e distorceu (mesmo que não intencionalmente) a fala da mesa."





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