×

28 DE MAIO: Dia Internacional de Ação pela Saúde da Mulher | A saúde das trabalhadoras da saúde

O desmonte do SUS, que priva milhares de pessoas de terem acesso à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças, também faz adoecer os trabalhadores da saúde impondo uma sobrecarga de trabalho e longas jornadas – muitas vezes composta por dois empregos pra complementar o baixo salário. Quanto maior a jornada, maior o desgaste, o adoecimento e os acidentes no trabalho.

quinta-feira 28 de maio de 2015 | 08:00

O descaso com a saúde pública é amplamente conhecido e sentido pela população. Nos últimos meses, também se tornaram mais conhecidos os casos de corrupção, desvio de verbas e utilização da estrutura pública por empresas privadas, precarizando e restringindo ainda mais o acesso ao sistema público de saúde. A saúde pública também não escapou do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que além de atacar os direitos das mulheres e setores LGBT avança na privatização do SUS para mostrar sua fidelidade aos planos de saúde privados que financiam sua campanha e de seus comparsas.

O desmonte do SUS, que priva milhares de pessoas de terem acesso à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças, também faz adoecer os trabalhadores da saúde impondo uma sobrecarga de trabalho e longas jornadas – muitas vezes composta por dois empregos pra complementar o baixo salário. Quanto maior a jornada, maior o desgaste, o adoecimento e os acidentes no trabalho.

Sobre o impacto da jornada para as trabalhadoras da saúde, Carolina Guerreiro, técnica de enfermagem no Berçário do HU, comenta que "O atendimento à saúde é feito principalmente por mulheres e, no nosso caso, que temos que chegar em casa e cuidar de filho, fazer comida, limpar a casa, é muito cansativo. Então, tem uma importância muito grande a luta pela redução da jornada."

Esse batalhão, majoritariamente feminino, de trabalhadores da saúde convive diariamente com a dor, o sofrimento, a morte, a incapacidade de atender todos que chegam em busca de ajuda e as condições precárias do sistema de saúde intensificam isso.

Gláucia, técnica de enfermagem no Centro Cirúrgico relata que "Lidar diariamente com a dor, a doença e o sofrimento alheio sem na maioria das vezes poder efetivamente transformar este quadro, por mais que trabalhe para isto, é muito desgastante...pode trazer doenças como depressão, síndrome do pânico, alcoolismo, síndrome de bornaut.Tais doenças são número crescente dentro da enfermagem, porque realmente é muito difícil lidar com a dor e o sofrimento alheio diariamente." Cuidar dos outros é uma responsabilidade colocada quase exclusivamente sobre as costas das mulheres desde dentro de casa, com o cuidado dos filhos e dos mais velhos. E esse senso de responsabilidade é transferido para o trabalho na enfermagem, que acaba servindo como instrumento de pressão sobre as trabalhadoras da saúde, como falou Gláucia "As chefias se aproveitam de que trabalhamos com vidas para pressionar veladamente que todo trabalho seja feito,não se preocupando com a sobrecarga, o estresse gerado, o desgaste físico, emocional, o que importa é ’sempre o bem estar do paciente!’ Não importa quantos técnicos de enfermagem adoeçam para isto! E pior, tudo isso maquiado de profissionalismo e preocupação com o paciente! Sim a enfermagem é uma profissão linda, mas que esta sendo mal cuidada e esta levando seus praticantes a passarem de cuidadores à cuidados."

Contra essas condições de trabalho que, em 2014, as trabalhadoras do HU se rebelaram protagonizando uma das maiores greves da USP. Sobre o pesado cotidiano dentro de um hospital, Gláucia nos conta que "A enfermagem também traz um desgaste físico muito grande, dificilmente há um profissional, que não tenha, tendinite, burcite, hernia de disco ou outras doenças ocupacionais, devido ao esforço repetitivo. Entenda que dar banho em pacientes acamados, coloca- los em macas ou cadeiras, empurra-los, posiciona-los! Isto diariamente e não apenas com 1, mas cada dia com um número crescente de pacientes, e cada um com uma estrutura física peculiar, não há braço, ombro, coluna que resista, a força física que demanda tais cuidados é muito grande."

Essa greve também se colocou frontalmente contra o projeto de privatização do SUS que nos Hospitais Universitários assume a forma de desvinculação, pois ao deixara a Universidade e passar para a Secretaria da Saúde permite introduzir a administração privada.

Samantha Queiroz, técnica em radiologia, explica que "A administração privada da saúde tem como regra o contrato temporário que cria maior instabilidade para a trabalhadora, retira direitos, os salários são mais baixos e, assim, piora as condições de trabalho e de vida piorando muito a saúde dessas trabalhadoras. Além disso, setores como a radiologia e laboratório são os primeiros a serem terceirizados quando uma Fundação ou OSS assume, abrindo espaço pras empresas de diagnóstico de imagem e laboratoriais lucrarem com o dinheiro público."

Em defesa da saúde das trabalhadoras da saúde, é preciso impedir o avanço das Fundações Privadas e retira-las dos equipamentos de saúde onde estão gerindo em favor dos grandes monopólios das empresas de diagnósticos e de planos de saúde. Colocar fim à Lei 13.097/2015 que permite a participação de empresa ou capital estrangeiro na assistência à saúde. É preciso impedir a privatização dos Hospitais Universitários estaduais e federais, pondo fim à EBSERH.

Como mostram as trabalhadoras do HU, as condições de trabalho e de vida determinam a qualidade da saúde. Daí a enorme urgência em reduzir a jornada de trabalho para 30h semanais, sem reduzir o salário; acabar com a falta de trabalhadores em número suficiente nos hospitais públicos, abrindo concursos públicos e incorporando os trabalhadores que hoje estão contratados pelas fundações.

Desde a década de 70, os trabalhadores da saúde e da população lutam por uma saúde realmente universal, gratuita, de qualidade e 100% garantida pelo SUS com participação da população na sua gestão. Esse último aspecto foi um dos que menos avançou desde o início do implante do SUS. Cada vez mais fica evidente que os únicos que podem gerir o sistema de saúde com o objetivo de ampliar e melhorar o atendimento aos usuários e garantir condições de trabalho adequadas para os trabalhadores da saúde são os próprios trabalhadores da saúde e usuários.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias