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CRIVELLA E A UNIVERSAL NA ÁFRICA | A “evangelização” de Crivella: mentiras, racismo e intolerância

Em um período citado mais do que brevemente em sua “biografia eleitoral”, Crivella foi um dos “exportadores” da Igreja Universal do Reino de Deus, instituição de seu tio, Edir Macedo, para a África. Livro escrito nesse período, “Evangelizando a África”, demonstra todo o reacionarismo e intolerância representados pela Igreja de Crivella e Macedo.

segunda-feira 17 de outubro de 2016 | Edição do dia

Foram dez anos que o Bispo Crivella – hoje licenciado para fazer sua carreira política – passou na África para aumentar os negócios da multinacional da fé, a Igreja Universal do Reino de Deus. As práticas racistas, machistas e LGBTfóbicas que são profundamente atreladas a Igrejas como a universal estão em cada página do livro escrito por Crivella e lançado em 1999 como resultado desse período.

Lançado primeiro em inglês, com o título “Mutis, Sangomas and Nyangas: Tradition or Witchcraft?” (“Mutis, sangomas e nyangas: Tradição ou feitiçaria?”), e depois publicado no Brasil pela editora da Universal, a publicação é um grande incitador de ódio contra as religiões africanas, os negros, os homossexuais e até mesmo cristãos de outras vertentes que não a de seu tio.

Crivella fala sobre como construiu o lucrativo negócio da Universal na África. Em determinado momento, ele diz: "Jesus é o filho de Deus, e não Maomé."

Conceitos como os “espíritos imundos” e “doutrinas demoníacas” são utilizados para falar das outras religiões. Calúnias monstruosas são propagadas contra as crenças dos povos africanos, como as de que “as tradições africanas permitem toda sorte de comportamento imoral, até mesmo com crianças de colo.”

Nem os budistas e os hinduístas são poupados. Em mais uma demonstração de racismo, o oriente é denominado como o “mundo amarelo”, e se afirma que nele “os espíritos imundos vêm disfarçados de forças e energias da natureza”.

Em relação aos hindus (a Índia é denominada como “mundo vermelho”, outras mentiras são divulgadas, como de que matam crianças em rituais religiosos: Os rituais variam, mas a ênfase é sempre no derramamento de sangue seguido da ingestão do sangue quente de uma criança inocente (...) Cortar a parte de cima de um crânio é o método requerido”. Também sobre as religiões africanas se afirma que praticam o sacrifício ritual de crianças em cerimônias religiosas.

É espantosa a hipocrisia de Crivella ao afirmar que o trabalho dos líderes religiosos africanos “se tornou um grande negócio na África, porque é motivado pelo maldito amor ao dinheiro”. A Igreja Universal é um negócio tão lucrativo que com o dinheiro gerado por ela Macedo construiu a Record, Crivella comprou seu luxuoso apartamento na Península da Barra, e foram construídos templos faraônicos no valor de centenas de milhões de reais, como o Templo de Salomão em São Paulo e outros do mesmo tipo estão planejados em Brasília e Curitiba.

Templo de Salomão em São Paulo

Cinicamente, após a divulgação do conteúdo de seu livro (que está esgotado no Brasil há anos), Crivella enviou ao jornal O Globo uma nota pedindo desculpas pelos erros em relação ao que escreveu no livro. Ele diz que ama “os católicos, evangélicos, espíritas e a todos” e que seu livro foi escrito “há décadas” na África, em que ele vivia “num ambiente de guerras, superstição e feitiçaria” (essa escandalosa frase já é o suficiente para demonstra o quão falso é seu pedido de desculpas, pois todo seu preconceito e racismo em relação às crenças dos povos com quem conviveu se mostra intacto).

Mais absurdamente, Crivella afirma que há quinze anos como Senador é “intransigente defensor da tolerância, da liberdade, da dignidade da pessoa humana”. Parte desse respeito do PRB pode ser visto com sua unânime aprovação à PEC 241, que congela gastos com saúde, educação e direitos sociais por 20 anos. Ele encerra ridiculamente a nota reafirmando como, em sua carreira política, quem manda é “deus”: “Erros cometidos no passado, há muito corrigidos pela maturidade do presente, só confirmam o que disse antes: sou candidato a prefeito, não a perfeito. Perfeito só Deus!"

Crivella, como seu tio, enriqueceram explorando a fé de milhões, lhes arrancando dinheiro com seus dízimos, e não pagando um centavo sequer de impostos, já que todas as igrejas são isentas no país. Nesse tempo, atuaram como grandes difusores da intolerância e do preconceito, reforçando a perseguição criminosa que as religiões de matriz africana sofrem no Brasil, a LGBTfobia que bate recordes de assassinato e violência no país, a proibição do aborto que mata milhares de mulheres forçadas aos precários e perigosos abortos clandestinos e que muitas vezes são levadas à gravidez indesejada porque não há educação sexual nas escolas – graças a, mais uma vez, o papel das bancadas evangélicas.

Não basta uma declaração de boas intenções de querer um Estado laico como faz Freixo para tentar deixar seu oponente com a pecha de religioso fanático. É preciso denunciar o que é a Igreja Universal da qual ele faz parte e levantar o programa de taxação incisiva dessas instituições, para tirar-lhes os bilhões de reais que têm e investir em planos de emergência contra a violências aos LGBTs, programas de educação sexual e de gênero nas escolas, a luta pela legalização do aborto e todos os crimes que ainda ocorrem em nosso país, em grande medida pela atuação de líderes religiosos como Crivella e seu tio Edir Macedo.




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