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ELEIÇÕES MUNICIPAIS | A esquerda necessária em Porto Alegre

A pesquisa feita pelo Instituto Methodus, divulgada na semana passada, revelou um profundo mal estar popular contra a casta política. Luciana Genro lidera em todos os cenários, no primeiro e no segundo turno e na pesquisa espontânea. Em segundo lugar, nulos e brancos.

segunda-feira 18 de julho de 2016 | Edição do dia

É evidente que esse resultado é apenas uma foto. Já vimos em eleições passadas Manuela D´Avilla cair vertiginosamente nos momentos finais da campanha e dar a vitória no primeiro turno para Fortunati. Mas como foto, capta o enorme desprestigio de todos os políticos tradicionais, que mal superam os votos nulos e brancos (sem contar que a pesquisa não capta o nível de abstenção que pode se dar).

Mas é preciso ir um pouco mais fundo no que a foto mostra. Nem toda revolta contra a política tradicional é pela esquerda. A pesquisa também mostra que os maiores níveis de rejeição são de Raul Pont e da própria Luciana Genro. Isso mostra que os indecisos e parte dos nulos/brancos podem aderir a um voto útil anti-esquerda em geral e apoiar o candidato da direita mais bem colocado.
Ao mesmo tempo, nem tudo que é de esquerda conflui com Luciana Genro. É bastante sintomática neste sentido a alta expressão dos brancos e nulos. Quanto mais o PSOL modera seu discurso e estende o braço para o partido de Marina Silva, justamente para disputar o eleitorado conservador indeciso, menos empolga setores de vanguarda, sobretudo da juventude, mas também das categorias de trabalhadores mais politizadas.

É impossível medir esse sentimento na pesquisa do Instituto Methodus, mas ao menos uma fração dessas intenções de voto branco ou nulo expressa parte desse setor, um contingente relativamente significativo no ambiente político de Porto Alegre, marcado por importantes mobilizações desde junho de 2013.

O combate por um polo de esquerda consequente em Porto Alegre

O MES se prepara para governar, ainda que sua vitória seja no momento apenas uma possibilidade improvável, mas já dá mostras dos caminhos que pretende seguir. Oferecer a vice na chapa, nos bastidores, à REDE, que respondeu que isso não bastava e que queria garantida uma vaga na Câmara de Vereadores em detrimento da candidatura de Roberto Robaina (questão que pode estar sendo revista pela REDE depois da pesquisa), é uma mostra do tipo de debate programático que se pode ter com partidos burgueses. Que se tenha feito isso sem um debate público e honesto seja com as bases partidárias, seja com setores mais amplos da juventude e dos trabalhadores, é ainda um método muito pouco democrático. O velho toma lá da cá dos capitalistas, assumido pelo PT e agora pelo MES.

Para o segundo turno, novas guinadas à direita estão previstas. O exemplo do Podemos na Espanha, tão reivindicado por Luciana Genro traça o roteiro que vai ser seguido em terras gaúchas. Em Madrid e Barcelona o Podemos governa as prefeituras e tem um apoio distante, mas entusiasta, do PSOL gaúcho. Bem mais importante para o Podemos é o apoio que recebe do PSOE, o equivalente ao PT dos espanhóis, para governar essas cidades. Obviamente, a necessidade da maioria parlamentar para manter a governabilidade, limita a radicalidade das ações que a prefeitura pode tomar, argumentam, quando na realidade eles mesmos por iniciativa própria se limitam a um programa cada vez mais moderado para “agregar”. Esse filme já assistimos também no Brasil, através do PT, e não por coincidência, foi importante para o desenvolvimento do PT os governos que ganhou no Rio Grande do Sul.

Neste contexto, é preciso agrupar todos os setores dispostos a dar um combate para reverter o rumo que está tomando a candidatura do PSOL. Seria preciso romper as negociações com a REDE e o PPL e apontar para a construção de uma candidatura independente dos partidos patronais.

O carro chefe na campanha deveria ser organizar uma pauta unificada entre os setores da juventude e de trabalhadores da cidade, começando por solidificar a aliança entre a juventude e os trabalhadores rodoviários, para impor a estatização do sistema de transporte. E com o mesmo método, abordar os problemas da saúde e da educação, sem deixar que a direita ganhe a disputa para que a segurança pública e o viés militarista deem o tom da eleição.

Ao mesmo tempo que precisamos dar essa batalha com toda a força, é preciso lançar as bases para um projeto alternativo dentro da esquerda socialista. O projeto pautado em agrupações como Podemos e frentes como a Syriza, já mostrou de que serve na Grécia, onde aplica os planos de austeridade exigidos pela Troika. O MES segue apostando nestes exemplos mesmo depois da Syriza. Mas não aposta na força dos trabalhadores e da juventude.

No seu pragmatismo extremo, acredita que é preciso apoiar todas as “alternativas intermediárias” que surjam nas crises de regime. Assim justificam seu apoio ao chavismo e ao evismo, expressões de supostas revoluções políticas nos regimes destes países.

No Brasil apoiam com força a Lava Jato, depois de ter apoiado quase até a reta final o impeachment da Dilma fazendo coro com uma ala do golpismo representado por Marina Silva e pela Folha de São Paulo – que defendem a convocação de eleições gerais via impugnação da chapa Dilma-Temer pelo TSE. Neste caso a “saída intermediaria” que o MES apoia é o judiciário brasileiro, influenciado diretamente por setores imperialistas, e que está se fortalecendo como um poder moderador frente à crise do regime (em substituição ao papel que cumpriu o exercito no século XX).

A esquerda gaúcha precisa se colocar a altura das batalhas que os trabalhadores e a juventude vêm protagonizando no estado e articular uma resposta para a crise econômica e política que atinge o conjunto do país e que é particularmente aguda no RS. É preciso se unificar em torno de um programa que aponte o caminho necessário para derrotar o ajuste capitalista, como o não pagamento da divida pública e da dívida dos estados para investir em saúde, educação e moradia e a estatização dos principais ramos da economia a começar pelo transporte público, que devem ser geridos pelos próprios trabalhadores. E ter a flexibilidade tática para todo tipo de frente única na ação para enfrentar o governo golpista de Temer e seus aliados no Piratini e na prefeitura, assim como as ações da extrema direita que cada vez mais tenta levantar a cabeça, como mostra a ofensiva que estão tentando consolidar em Caxias do Sul.




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