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BALANÇO DO DIA 20 | A defesa de Dilma e do PT marcou as manifestações do dia 20

O governismo mobilizou para defender o governo e o PT. A composição era essencialmente de sindicalistas, militância e movimentos sociais. Setores críticos ao governo participaram das manifestações mas não conseguiram mudar o tom de defesa do governo. Trabalhadores comuns estiveram quase ausentes, assim como no dia 16 da direita, o que mostra a falta que faz um terceiro campo de luta independente da direita e do governo.

sexta-feira 21 de agosto de 2015 | 07:53

Em mais de 40 cidades do país, e principalmente nas capitais, ocorreram manifestações neste dia 20. Segundo os números dos organizadores, seriam cerca de 190 mil em todo o país. O Esquerda Diário não concorda com os números “politizados”, inflados assim como os do dia 16. Independente da exatidão dos números, ainda que foram atos inegavelmente menores do que os do dia 16, foram maiores e com maior extensão nacional do que no dia nacional de luta de 15 de abril, quando organizadores dizem que houve 150 mil.

A política das direções governistas foi não dar peso quando os atos nacionais eram efetivamente dias de luta, como naquele 15 de abril, onde a luta contra a terceirização estava na “boca do povo”. Mas agora, que a chave era a defesa do governo e do PT, deram peso para fazer uma demonstração de força importante (por fora de período eleitoral). Quando dissemos “deu peso”, queremos dizer em gente nas ruas, mas uma questão mostra como não estão dispostos a nenhuma mobilização séria “por mais direitos”: dessa vez não houve sequer uma paralisação de atividades em algum lugar do país (o que em 15 de abril houve de forma isolada e controladamente). Mais ainda no marco de não terem havido paralisações ou qualquer tipo de discussões em categorias organizadas para ir ao ato, a chave do balanço do dia é como apareceram para as grandes massas as mobilizações, e é inegável que ficam fundamentalmente como defesa do governo e do PT.

Ainda mais sem paralisação, a composição dos atos era essencialmente de sindicalistas, militância do PT, PCdoB e outras organizações políticas (com o PCO cada vez mais indiferenciado), além dos movimentos sociais. Não faltaram setores que tem relação inclusive financeira com as entidades e com o governo. Praticamente não se via nas manifestações trabalhadores comuns, assim como no dia 16. De juventude, a maioria era carregado pela militância do PT, PCdoB (UNE, UBES), Levante Popular da Juventude, poucos setores do PSOL e alguns setores atraídos pelo MTST.

Funcionou a política das direções governistas

A operação organizada pelas centrais sindicais (CUT e CTB) e movimentos sociais (MST e outros) governistas funcionou neste dia 20. Ainda que a mídia chegou a noticiar em algumas situações que havia setores nas manifestações que eram críticos ao ajuste, a tônica fundamental foi não somente de defesa do governo, mas marcadas por uma importante ofensiva do PT para tentar recuperar “orgulho próprio” para sair do “volume morto” por trás da “luta contra o golpe”.

As principais consignas nas manifestações foram “Não vai ter golpe”, “Fora Cunha”, em meio a cantos em defesa aberta de Dilma, Lula e do PT, com direito a muitas bandeiras e camisetas, coisas que também não se via há muitos anos.

Isso apesar de que a própria Dilma declarou em entrevista no dia 12/8, quando perguntava se havia clima de golpe no país: “Não, eu não vejo. Eu vejo uma tentativa ainda bastante incipiente e muito artificial de criar um clima desse tipo (...) eu acho que a cultura do golpe existe ainda, mas eu não acho que ela tenha condições materiais de ocorrer não”. Não coincidentemente, Dilma estava reunida no mesmo dia com Angela Merkel da Alemanha (e esteve com Obama antes), que ninguém pode acreditar que está a favor de alguma política "contra a direita e por mais direitos", mas sim para "melhorar o ambiente de negócios" que é o que está mandando a burguesia nacional. Trata-se do símbolo do carrasco do povo grego e da Europa.

As manifestações saíram tão dentro dos planos do governo, que desde a semana passada veio organizando manifestações para se ligar aos movimentos sociais, que o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, afirmou em nota que "Os movimentos sociais deram hoje uma grande demonstração de compromisso com a democracia e com os avanços sociais ocorridos em nosso país".

Apesar de terem servido ao governo, no entanto, as manifestações não alteram a conjuntura. Isso foi o que destacamos em relação ao dia 16, mas em relação ao dia 20 é ainda mais, pois o máximo que consegue é recompor alguns laços do PT e do governo com os movimentos sociais, para melhor controla-los.

Ambas manifestações, 16 e 20, estão desconectadas da conjuntura onde está em curso a construção de uma governabilidade para atacar, longe de golpe ou de impeachment, que foram os eixos das manifestações, que serviram mais para os atores políticos atuarem em favor próprio (PT e governismo por um lado e PSDB e todo tipo de “coxinha online” por outro), ambos desconectados da insatisfação de massa com o governo e os ajustes.

MTST mantém sua política ambígua em relação ao governo

O MTST foi um movimento social que se destacou nas mobilizações, principalmente por seu peso em São Paulo. Em seu discurso, Guilherme Boulos corretamente denunciou a recente chacina policial em Osasco e Barueri e a marcha de direita da Avenida Paulista, mas não destoou da manifestação em geral, que criticava a política econômica de Levy, pedia Fora Cunha e poupava a presidente, como se essa fosse vítima e não agente dos ataques em curso no país. O que destoa completamente do sentimento da maioria dos trabalhadores brasileiros que estão enormemente insatisfeitos com Dilma e o PT.

Trata-se de uma expressão do pacto que já destacamos em notas anteriores, já que o eixo central do MTST foi, como vem sendo traçado há meses, pressionar Dilma para cumprir com sua promessa já atrasada de lançar o Programa Minha Casa Minha Vida 3, com um peso importante do programa “Entidades”, que seria gerido pelo MTST. Boulos disse que se não lança em 10/9, que foi o compromisso firmado com o governo, “o país vai parar”. Mas até lá, Boulos aceitou um pacto de não mobilizar.

Setores críticos a Dilma e ao PT não pesaram politicamente

No processo de construção do dia 20 cada vez mais setores foram rompendo com o ato, na medida em que foi ficando claro a operação governista e a adaptação do MTST. Apesar de que em São Paulo setores críticos ao governo tiveram carro de som próprio e que em alguns estados houve atos separados, onde faziam falas contra o governo e o ajuste, eram uma minoria nas manifestações e praticamente não conseguiram ter peso. Nesse sentido, lamentamos a presença da Intersindical, de correntes do PSOL como a Insurgência e sua juventude o RUA, LSR e outros setores.

Uma ausência nos dois atos de 16 e 20: os trabalhadores, mais uma mostra da necessidade de um terceiro campo independente

Assim como no dia 16, também no dia 20 houve muito poucos trabalhadores de categorias em luta ou de trabalhadores comuns que não são parte ou tem relação com os aparatos. A grande massa do país não se identificou com nenhum dos 2 atos. Essa é mais uma demonstração da urgência de construir um campo de luta independente da direita e do governo, que seja capaz de canalizar e organizar a grande massa de trabalhadores insatisfeita com os rumos do país que não se manifestou em nenhum destes dias de atos nacionais. Esperamos que as atividades que estão por vir do Espaço de Unidade de Ação possam servir como primeiro passo para essa perspectiva.




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