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DOSSIÊ 25 DE NOVEMBRO | A classe trabalhadora brasileira também precisa dizer “nem uma menos”

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

sexta-feira 25 de novembro de 2016 | Edição do dia

No Brasil uma mulher é morta a cada 2 horas. Este dado aterrorizante já é o suficiente pra retomar uma ampla discussão em nosso país: a luta pelo fim da violência às mulheres. Neste 25 de novembro, dia internacional de luta contra a violência às mulheres, podemos nos apoiar nas enormes manifestações que ficaram conhecidas pelo grito “Nem Uma Menos” em vários países da América Latina. No último mês, centenas de milhares de mulheres e homens saíram às ruas na Argentina pra dizer um basta ao feminicídio, que teve como estopim o violento assassinato de uma jovem de 16 anos, Lucía. A manifestação foi acompanhada em vários países vizinhos, com destaque pro Chile, com centenas de milhares acompanhando este grito.

Ao mesmo tempo que se difunde a ideia de que as mulheres já teriam conquistado igualdade, que a TV e a imprensa fazem ostensivas propagandas vendendo a imagem da mulher libertada sexualmente e empoderada, que os governos atacam o conjunto do povo e dão algumas concessões aos setores oprimidos, as mulheres continuam morrendo apenas pelo fato de serem mulheres. Esta é a maior prova que a opressão às mulheres não somente existe, como é funcional ao sistema capitalista, e que enquanto a conquista de cada direito das mulheres não se transformar em ponto de apoio pra destruir essa sociedade, estaremos imersas em um ciclo de violência, cooptação e desigualdade, ou seja, estaremos imersas nesta mesma sociedade capitalista.

E é importante destacar que os assassinatos são o último elo de uma enorme rede de violência contra as mulheres que acontecem cotidianamente nas ruas, no transporte, nos locais de trabalho, dentro de casa. Neste cenário a classe operária e seus sindicatos precisam se posicionar. A violência às mulheres é utilizada pela classe dominante também como forma de dividir a nossa classe, pois a cada mulher violentada, a cada mulher estuprada, a cada mulher assassinada, a classe operária de conjunto dá um passo atrás em sua luta pela libertação da humanidade, e a classe dominante dá um passo a frente na sua dominação de classe.

Nossa perspectiva de revolucionária na luta das mulheres rechaça as ideologias que buscam colocar que nossos inimigos são os homens. Apresentar a nossa luta desta forma é transformar o feminismo em algo funcional ao capitalismo, já que se abstém de ter como inimigos os grandes capitalistas e empresários que exploram e oprimem todos os dias pra poderem viver tranquilamente. A nossa luta é pra conquistar todos os nossos direitos, mas pra que cada direito conquistado seja um ponto de apoio pra terminar com essa sociedade, única possibilidade de abrir espaço pra uma sociedade sem opressão e sem violência às mulheres.

Enquanto persistir toda esta desigualdade, haverá violência, porque o Estado sustenta essa violência através das suas instituições como a polícia e o judiciário. E enquanto isso o machismo e a violência vão existir dentro da nossa classe por isso é urgente batalhar por uma estratégia onde possamos combater todas as formas de opressão dentro da classe operária, chamando-a a tomar pra si, assim como seus sindicatos, as bandeiras de luta contra a violência a mulher. Nos atos “Nem Uma Menos” na Argentina o movimento operário entrou em cena. Diversas fábricas fizeram paralisações de uma hora para protestar, incluindo operários homens, que queriam ser parte desta manifestação mostrando seu rechaço a toda forma de violência.

Hoje no Brasil justamente vivemos um dia de paralisações chamado pelas centrais sindicais contra os ataques do governo golpista de Temer. Porém sendo o dia internacional de luta contra a violência às mulheres os sindicatos, em sua maioria dirigidos pelas burocracias sindicais, não apresentam um plano de luta que inclua se mobilizar pra enfrentar os altos índices de violência as mulheres. É preciso terminar com esta separação, e incluir esta luta social como parte da luta da classe trabalhadora. As paralisações nas fábricas argentinas por “nem uma menos” são um grande exemplo a ser seguido.

Nós do grupo de mulheres Pão e Rosas lutamos em todos os locais de trabalho por comissões ou secretarias de mulheres pra impulsionar a organização das mulheres trabalhadoras junto aos sindicatos, pra que estes assumam a luta contra a opressão às mulheres. Consideramos fundamental um plano de emergência pra enfrentar a violência que inclua casas abrigos para as mulheres em situação de violência, subsídios para as trabalhadoras, acesso pleno à saúde de qualidade, planos de obras públicas, mas pra isso ser levado até o final é preciso avançar na mobilização das mulheres, se inspirando nesta enorme força que irrompe de forma explosiva em todo o mundo, e batalhando pra que a classe trabalhadora também grite “nem uma menos”.




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