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VACINAS E UNIVERSIDADES | A ciência está vencendo?

quinta-feira 28 de janeiro de 2021 | Edição do dia

Foto: gov sp

O senador José Serra, do PSDB de São Paulo, escreve hoje no Estadão que há uma guerra contra a vacinação em curso no Brasil. Não é preciso ser nenhum Sherlock Holmes para sustentar essa tese. Enquanto Bolsonaro gastava milhões com leite condensado, chiclete e alfafa (aparentemente) e Pazuello brincava de cobra cega com o drama de Manaus, as potências imperialistas avançavam, não sem embates nacionalistas, com seus planos de imunização.

É um fato que o Brasil chega a este momento de grave crise sanitária e econômica a ver navios. Mas ao PSDB essa tese de Serra obviamente busca enfatizar o suposto protagonismo do golpismo institucional, como ala pretensamente racional e científica contra o negacionismo bolsonarista, na corrida pela vacina. Como já escrevemos neste site, os louros da primeira pessoa vacinada, uma técnica de enfermagem negra em São Paulo, coube midiaticamente ao empresário João Doria e à sua demagogia asquerosa.

Ao som hit de MC Fioti, estudantes escreviam que a ciência venceria.

A ciência está vencendo?

Que há um imenso potencial científico nas universidades brasileiras, não restam dúvidas. Desenvolvido no início da pandemia por engenheiros da Poli-USP, o ventilador pulmonar Inspire, que pode ser feito a um custo 15 vezes mais baixo do que a média, foi enviado a Manaus para auxiliar na crise da falta de oxigênio, com 28 exemplares, por exemplo. Embora Doria tenha buscado assumir para si a valorização desse invento (sem reverter nenhuma industrial para que o produzisse massivamente), é inegável que esta se trata de uma amostra do potencial instalado nas universidades para o combate ao vírus. Sabemos que tecnologias como essa são desenvolvidas recorrentemente - capturadas pelas patentes das empresas e alienadas da resolução dos grandes dramas da massa trabalhadora.

Assim, evidentemente, o trabalho árduo de cientistas e profissionais da saúde para a formulação da vacina não está em questão nesta coluna. Este sim tem mérito. Mas não somente é esse trabalho que vem sendo alvo no governo de Bolsonaro e também no regime ajustador de João Doria, autor do PL que cortaria 30% dos fundos da Fapesp, por exemplo, como também, sem um combate a serviço da classe trabalhadora, o potencial científico na resposta à pandemia é ceifado pela extrema direita e cooptado pelo regime do golpe.

Explicação: embora os lucros dos dez mais ricos em 2020 pudessem garantir vacinas para o mundo todo, não há vacinas nem para atender à linha de frente dos trabalhadores da saúde no Brasil. E ao que assistimos neste momento, mesmo nas universidades mais reconhecidas, é um verdadeiro caos na fila pelo imunizante. Na semana passada, estudantes residentes da Medicina da Unicamp, em carta direcionada à reitoria e à burocracia universitária, cobraram transparência no atendimento aos grupos prioritários para evitar “desvios e práticas não democráticas incompatíveis com o ambiente universitário”. Em seguida, em nota do CRUESP, as reitorias admitiram que a falta de doses tem “gerado imensos conflitos internos e insatisfação generalizada, influenciando significativamente o ambiente de trabalho”.

Faz sentido. O número de doses recebido do estado de Doria ao HC da Unicamp não atende nem a um terço dos profissionais da saúde que se expuseram em toda a pandemia, que denunciaram inclusive o racionamento de EPIs e a não liberação dos grupos de risco por essa reitoria que hoje administra autoritariamente a escassez de vacinas, e viram colegas mortos pela Covid (Luci e Fábio presentes!), após serem alvo sistemático do arrocho salarial. Na segunda, trabalhadores do HU paralisarão exigindo vacina para todos. Já em foto que circula nos grupos da Unicamp, trabalhadores que receberam a vacina levantam seu “comprovante”, enquanto uma terceirizada negra, com uniforme diferente, tem suas mãos livres, nada...

Doria pode fazer a propaganda que for: suas reformas atacaram brutalmente as mulheres negras e não nos ilude de que não será sobre elas que a falta de vacinas mais pesará. Esse é o drama que perpassa o país. Agora o STF, pela via de Lewandowski, recusa-se a incluir os deficientes no grupo de prioritários, não por ausência de necessidade, afirma, mas porque já são muitos prioritários. O que Serra em sua coluna esconde é que todo o regime político, para além do governo, sustenta essa guerra contra a vacinação em curso.

A ciência, nas mãos dessa corja, não pode vencer. É hora de a juventude encampar a luta contra a escória bolsonarista e o golpismo demagógico de Doria para que nenhum trabalhador da linha de frente fique sem vacina em nossas universidades e para que arranquemos a universalização do imunizante. O movimento estudantil, na arena nacional, a partir de suas entidades, precisa cumprir um papel ativo nesta crise - ao contrário do que vem fazendo a UNE, com PCdoB e PT a reboque dos golpistas e contando com a adaptação da Oposição de Esquerda, com PSOL, PCB e UP.




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