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UERJ | A Reitoria de Ricardo Lodi e as políticas de permanência na UERJ: retomar as lições das lutas anteriores e alertas para 2022

Neste segundo ano de pandemia os alunos da UERJ sofreram com os impactos da crise sanitária e crise econômica. Nesse período, a atual reitoria de Ricardo Lodi implementou significativas políticas ligadas à permanência estudantil, que para a maioria dos estudantes teve uma enorme importância. Dia 4 de dezembro, a UERJ completou 71 anos de sua fundação, ela é reconhecida nacionalmente por ser uma das universidades mais populares do país. Queremos apresentar neste texto duas ideias que achamos fundamentais debater.

Luísa MatosMilitante da Juventude Faísca e Estudante de Serviço Social da UERJ

sábado 18 de dezembro de 2021 | Edição do dia

(Foto: O 3º da esquerda pra direita é Gov. Cláudio Castro. O 4º, Ricardo Lodi. Após ele está André Cecilliano, presidente da Alerj. Fonte: Divulgação / UERJ)

Neste segundo ano de pandemia os alunos da UERJ sofreram com os impactos da crise sanitária e crise econômica. Nesse período, a atual reitoria de Ricardo Lodi implementou significativas políticas ligadas à permanência estudantil, que para a maioria dos estudantes teve uma enorme importância. Dia 4 de dezembro, a UERJ completou 71 anos de sua fundação, ela é reconhecida nacionalmente por ser uma das universidades mais populares do país.

Queremos apresentar neste texto duas ideias que achamos fundamentais debater, a primeira é combater a visão paternalista e clientelista em relação à reitoria, de que o reitor é o “pai” que dá a permanência. Em contraposição a essa ideia, queremos fortalecer que essas conquistas da política de permanência estudantil são fruto das batalhas históricas do movimento estudantil, dos técnicos e professores.

A segunda ideia que queremos debater é contra de que o que Lodi está promovendo é uma “pequena revolução”. Defendemos direitos sociais e permanência estudantil para todos, ampla e irrestritamente e qualquer Reitor que se diz progressista, de esquerda e se propõe a administrar uma universidade pública não faz o mínimo ao promover uma política de permanência. Lutar por uma revolução na universidade de fato, está em organizar um movimento estudantil combativo e independente da reitoria que imponha uma mudança radical na atual estrutura de poder da universidade, pelo acesso irrestrito com o fim do vestibular e por uma universidade que esteja à serviço do povo pobre e da classe trabalhadora.

Nestes quase dois anos de pandemia tivemos todos que readaptar nossas vidas conforme os limites estabelecidos pelo coronavírus. Contudo, o que se provou é que mais letal e perigoso que o vírus é o próprio sistema capitalista, principalmente na conjuntura atual do governo de extrema direita no Brasil, com Bolsonaro e Mourão, que vem atacando a Ciência e as universidades públicas e colocando interventores nas federais, oferecendo genocídio e precarização à juventude.

No Rio de Janeiro a juventude se viu diante de um dos piores momentos de suas vidas, completamente forçados a lidar com desemprego, exploração, violência policial e precarização do ensino. Diante desse cenário a UERJ se tornou referência nos programas de assistência estudantil.

Consideramos todos esses auxílios extremamente importantes e necessários aos estudantes, e eles são demandas e fruto de anos de batalhas históricas do movimento estudantil pela implementação das políticas de permanência. A UERJ por inúmeras vezes foi vanguarda na luta pela permanência estudantil e contra as tentativas de desmonte. Construímos ao lado dos estudantes, técnicos e professores, greves, ocupações, paralisações e atos de rua pelo direito à creche, ao bandejão em campi como a FFP, FEBF, transporte aos estudantes, bolsas de pesquisas, entre outros. As conquistas de hoje são fruto de uma reitoria disposta a atender as demandas estudantis, mas são também resultados das lutas do passado e não da benevolência do reitor.

Leia também: A luta pela permanência é uma luta contínua: Os auxílios aprovados na UERJ

O reitor Ricardo Lodi afirmou que está fazendo uma “pequena revolução” na UERJ listando todas as medidas que implementou ou vai implementar, mas jamais cita o protagonismo dos estudantes, técnicos e docentes. Pelo contrário, e cada implementação ligada à assistência estudantil é aproveitada para construir a imagem de um “reitor jamais visto na UERJ”.

O que ele chama de “pequena revolução” é fruto de uma aliança com o governo Castro e com interesses políticos ligados a uma possível suposta pré-candidatura para as próximas eleições de 2022. Essa aproximação da reitoria ao governo Castro, que foi nomeado chancelar da UERJ pelo Lodi, com a mediação do deputado do PT presidente da Alerj, André Ceciliano, que foi nomeado Grão-Oficial da Ordem do Mérito José Bonifácio, tem por trás um possível interesse de Castro em se descolar da imagem de governador bolsonarista,vice do reacionário Witzel e de preparação para as eleições ao governo do RJ em 2022 e do PT para um possível ao apoio de Lula), já que alas do PT como Quaquá, vem mostrando muita simpatia à essa aliança.

Lodi se apoia em uma tese jurídica para fundamentar como conseguiu reverter a verba para os auxílios (e ressalta a colaboração do governo Castro), como se fosse um problema da gestão das reitorias e governo anteriores, mas parte dessa verba, além da alta do valor do petróleo com os royalties arrecadados, pode supostamente estar vindo da privatização da CEDAE vinculada ao Regime de Recuperação do Estado, que veio para precarizar o sistema de abastecimento de água ao povo, que faz parte do acordo do regime de recuperação fiscal em que o PT é nada crítico. Mesmo sendo às custas da retirada de direitos dos trabalhadores e da juventude pobre e negra das favelas cariocas. Sem falar na postura racista e reacionária do governo Castro que comemorou a chacina do Jacarezinho e disse diante da chacina do Morro do Salgueiro que, “coisa boa não estavam fazendo”.

O histórico do PT no RJ sempre foi governar junto com a direita do MDB, e como temos visto nacionalmente, está buscando alianças até mesmo com golpistas reeditando sua política do vale tudo eleitoral. Não podemos engolir a ideia de “pequena revolução”, que inclusive é adotada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), nossa entidade de representação máxima dos estudantes da UERJ, dirigido por correntes de juventude do PT, PCdoB e o Levante Popular da Juventude.

Essas correntes que historicamente a frente do DCE na última década foram sistematicamente um freio nas lutas estudantis, apoiaram as últimas gestões reitores (como Vieiralves e Rui Garcia) e nos acordos com que faziam para propagandear conquistas que foram fruto de muita luta da comunidade acadêmica e não de acordos e canetadas com reitores. Agora que tem “um reitor para chamar de seu”, na prática atuam para educar o movimento estudantil a não se organizar pela base, de forma autônoma e independente da reitoria e da estrutura de poder autoritária e arcaica das universidades, mas sim para construir uma lógica de que não é necessário se organizar e lutar, porque basta pedir ao Lodi que a Reitoria vai conceder.

Certamente os programas de permanência cumprem um papel crucial frente a tantas dificuldades, mas como dissemos, eles são frutos de muito histórico de luta na UERJ do movimento estudantil, técnicos e professores. E qualquer permanência vinda de uma aliança com quem tem uma política de extermínio da juventude negra, não pode ser efetiva e duradoura por fora da luta dos estudantes, trabalhadores e professores. Muitos desses auxílios inclusive são temporários, e no contexto de crise econômica e social em que vive a juventude, a realidade será de dificuldades de se manter na universidade na volta presencial. Essa lógica desarma o movimento estudantil, porque se tem uma lição que precisa ser tirada das lutas da UERJ e na sociedade capitalista, é de que nada nos é dado, tudo é fruto de luta e mobilização.

A verdadeira transformação radical da UERJ virá da luta independente da reitoria pela universidade à serviço da classe trabalhadora e por uma estrutura de poder democrática

Nós da juventude Faísca na UERJ sempre participamos das lutas da UERJ com os estudantes pela permanência estudantil, como na gestão do CASS “Por todos Amarildos” junto das mulheres Uerjianas fomos protagonistas de atos pelo direito à creche em 2014. Estivemos os estudantes lutando pela permanência das cotas na universidade, e defendemos o direito à auto-declaração e que tenham cotas proporcionais ao número de negros no estado. Mas defendemos o acesso irrestrito à universidade para toda juventude com o fim do vestibular que nada mais é que um filtro social que nega o direito à educação gratuita, pública e de qualidade para os filhos da classe trabalhadora.

Durante a pandemia propusemos a todo momento que o DCE realizasse assembleias gerais de estudantes para debatermos a implementação do ERE e também a organização dos estudantes para os atos pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Mas a atitude do DCE foi não impulsionar nenhum espaço democrático dos estudantes, pelo contrário, canalizaram toda potencialidade da força dos estudantes na passividade de que a reitoria resolve todos os problemas. É importante lembrar que em plena pandemia a reitoria manteve os terceirizados trabalhando normalmente, correndo os riscos de contaminação. Enquanto isso, a reitoria foi realizando sessões do CONSUN sem pautas definidas anteriormente e sem a transparência sobre a origem da verba para os programas de auxílio, por diversas vezes tolhendo o debate neste espaço.

Nós da juventude Faísca lutamos para ir na raiz do problema das contradições existentes na universidade, que são reflexo da sociedade de classes. Nesse sentido é necessário construir um movimento estudantil independente da reitoria e lutar pela auto-organização dos estudantes e pela democratização radical da universidade contra a estrutura de poder atual em que quem decide os rumos da universidade não sejam canetadas de um reitor e sim uma estrutura que seja um governo tripartite, composto por estudantes, funcionários e professores de acordo com o peso de cada setor na comunidade universitária, e eleitos por sufrágio universal. Ou seja, cada voto de cada sujeito da comunidade universitária tem o mesmo peso. Defendemos esse programa justamente nesse momento de maior crise, no qual muitos jovens sequer aspiram entrar na universidade, essa demanda acaba se tornando mais concreta na sensibilidade de milhares, porque apresenta um questionamento mais de fundo. E defendemos a permanência estudantil irrestrita que só será possível de ser conquistada, como sempre foi, com nossa organização e mobilização.

Somos linha de frente junto a diversos setores na defesa de cada conquista, na luta por permanência plena, sem deixar em nenhum momento de perder de vista quais interesses estão por trás disso e nem de que ainda existe uma enorme massa de jovens filhos da classe trabalhadora negra e pobre, que sequer pensam em entrar numa universidade pública, para nós revolucionar a UERJ passa por lutar por todos que estão dentro dela e por aqueles que ainda tem um muro racista e elitista que os separa.




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