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ELEIÇÕES NA ARGENTINA | A Frente de Esquerda teve uma boa eleição no meio do vendaval

Publicamos editorial da edição impressa do Esquerda Diário Argentina. Os resultados do último dia 25 de outubro sacudiram o país. O peronismo perdeu a Província de Buenos Aires que governava desde 1987.

sábado 31 de outubro de 2015 | 14:39

Scioli fez uma péssima eleição com 36% dos votos. Aníbal Fernández foi o grande derrotado. Ele disse que um setor do peronismo trabalhou contra ele. Ele acusa Julián Dominguez (o candidato vencedor das eleições internas) e a Espinoza de La Matanza.

O jornalista Pagni do jornal La Nación disse que a Igreja realizou uma grande campanha para que os católicos “votassem contra o narcotráfico”, ou seja contra Morsa Aníbal. Pela primeira vez em sua história uma mulher (que não é nem peronista nem radical) será governadora da maior província do país onde vive quase 40% da população total da Argentina. Outros marechais da derrota tem sido vários dos barões do conurbano (da cidade de Buenos Aires), alguns deles já haviam sido derrotados nas Paso (eleições primárias) como Othacehé, destacam os homens da UOM, Curto e Barba Gutiérrez que foram derrotados por um jornalista e um chef de cozinha, respectivamente.

A burocracia sindical buscará como sempre aproximar-se de quem detém o poder.E Em Mendoza, Córdoba, Santa Fé, Buenos Aires, que são as provinciais mais importantes e onde se concentram a classe operária, a burocracia se esquivou da FPV (Frente Pela Vitória). É uma grande crise para o peronismo.

E era difícil de prognosticar semelhante derrota já que Cristina (CFK) é a presidenta que depois de dois mandatos tem um alto índice de aprovação. “Não há magia”, como gosta de dizer CFK: foi ela a artífice da derrota que pode se converter em catástrofe se perderem o segundo turno das eleições. Como já dizia o Esquerda Diário no dia seguinte às eleições. “ O caminho aberto pelo kirchnerismo com aceitação antecipada das leis repressivas propostas por Blumberg (2004), que depois seguiram com o festival de polícias sciolistas, até o tridente ofensivo do então anunciado gabinete com Sergio Berni, Ricardo Casal e Alejandro Granados” mostrava aí que sem chegar a reivindicar a militarização dos bairros operários, como já havia proposto Massa, tomava em parte o discurso (e a ação!) de Macri ou Massa.

“Diante deste panorama, trabalhosamente construído e aceito pelo oficialismo, uma parte importante do eleitorado percebeu o que os muitos analistas já haviam afirmado: não há diferenças substanciais entre os três principais candidatos. Ainda mais quando todos aceitavam a necessidade de um ajuste e somente diferiam na velocidade de aplicação do mesmo.” Um ajuste que para os três significa: desvalorização, fim de subsídios, aumento de tarifas e o pagamento dos fundos abutres. A demagogia eleitoral do fim do “cepo” ao dólar e a pobreza zero que prometeu Macri ou a eliminação do imposto ao salário que disse Massa, levou tardiamente Scioli a colocar que somente os salários de 30.000 pesos ou mais seriam tributados. Mas isso não era o suficiente.

Macri apoiado pelos radicais é uma espécie de Aliança mais à direita que a De La Rua. Sobre os últimos dias, o voto opositor, como voto castigo para os k (kirchneristas), de milhões de pessoas que não necessariamente compartilham o pensamento do partido PRO, se inclinaram por Macri, mesmo que Massa mantivesse um bom caudal/fluxo boas intenções de voto. Este peso que agora se inclina a colocar-lo na canasta de Macri, para a batalha do dia 22 de novembro. Margarita Stolbizer retrocedeu, queria mostrar-se como representante da centroesquerda. Sua frente Progressistas não conseguiu seduzir porque dividiu candidatos com o PRO em 9 províncias. E agora pensa em votar em Macri no segundo turno. A esquerda dura, representada pela FIT superou esta versão “light” do progressismo.

A eleição da Frente de Esquerda nesse vendaval de votos aos três candidatos representantes diretos dos empresários e do grande capital, a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores fincou sua bandeira. E apesar da polarização e o cenário conservador, Nicolás del Caño conseguiu manter a votação das PASO e somar quase 100.000 novos votos, conseguindo consolidar-se como uma opção classista. E obtivemos muito boas votações para deputados em vários distritos (ver infográfico). Mendoza é um deles, onde Noelia Barbeito, mesmo que não tenha conseguido ser eleita, chegou a 12%, triplicando a média da FIT, ou o 8,31% em Neuquén com Raul Godoy. Em Salta com 6,64% e uma porcentagem ainda maior em Jujuy. Pitrola (PO) foi eleito deputado por Buenos Aires.

A banca é rotativa. Pitrola ficará por 18 meses, o PTS 21 meses e a Esquerda Socialista (IS), 9 meses. Solano não conseguiu ser eleito pela cidade de Buenos Aires. Zamora voltou a se colocar sem chances, porém conseguir dividir os votos da esquerda e assim frustrou outro deputado da FIT. Estranhou-se a não participação (exceto no ato de encerramento) de Jorge Altamira, líder indiscutível do PO (Partido Obrero) e uma referência política na Cidade de Buenos Aires (foi legislador há uma década), tanto na campanha nacional de Nicolás del Caño (sendo que eles haviam tido o voto de quase a metade dos votantes da FIT nas PASO) como na de seu candidato portenho. Em uma eleição que teve como resultado uma polarização era necessário maior esforço para conseguir os votos da FIT para que estes se consolidasses e avançassem.

E menos se entende ainda que Altamira diga que a FIT sofreu um “freio”, quando tudo indica que em semelhante situação de polarização Nicolás del Caño e Myriam Bregman, liderando a fórmula presidencial, levaram a FIT a um claro avanço com as eleições presidenciais em relação as eleições de 4 anos atrás, onde não havia polarização porque CFK conseguiu 54% dos votos, assim, a FIT passou de 500 mil para 800 mil votos. Um modesto 60% de crescimento, mas de forma alguma foi um “freio”. Não chegamos a superar os 1,2 milhão de votos nas eleições legislativas de 2013, mas é sabido que as eleições “executivas” são um terreno muito mais difícil para a esquerda operária e socialista.

A FIT se consolida. É o momento de crescer nas fábricas, nos bairros, escolas e faculdades para colhermos o bom resultado eleitoral. A comprovação de que o companheiro Ángel Verón no Chaco não morreu por uma infecção de uma ferida antiga como disse o palhaço de Aníbal mas sim, pelos golpes recebidos pela polícia do kirchnerista Capitanich é uma mostra mais que ao ajuste vão querem passar com mais repressão. Mas Macri já vimos atuar com a Metropolitana no Indoamericano ou no bairro Papa Francisco. As demissões na indústria automotriz (Metalsa, Parana Metal e tantas outras) ou a fraude feita contra os operários de Cresta Roja que agora querem pagar seus salários com frangos, o espancamento de dois gays em Mar del Plata, a continuidade de ações dos fascistas quando se realizou o Encontro Nacional de Mulheres, se potencializarão agora que foi eleito Arroyo intendente pelo PRO, um personagem sinistro. A burocracia sindical não vai fazer nada. Já dissemos que ganhe quem ganhar este cumprirá com seu trabalho de “garantir a paz social”. É preciso organizar-se para enfrentar aos ataques dos patrões e dos governos que seja quem for que vença o segundo turno, lançará sobre as massas.

A Frente de Esquerda chama ao voto nulo no segundo turno. Nem Scioli, nem Macri. Como dissemos na campanha eleitoral são ambos filhos políticos de Menem e representantes da classe dos empresários. Os socialistas NÃO votamos naqueles que serão os carrascos dos trabalhadores. E chamamos aos um milhão de companheiros que nos deram seu voto em outubro para que façam o mesmo. Cada voto em Macri e um voto para a direita, e cada voto em Scioli também. Por isso não faça o jogo da direita, vote nulo.




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