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ELEIÇÕES SÃO PAULO | A CST-UIT e a frente ampla de Boulos com partidos burgueses

A CST-UIT publicou recentemente um artigo em que fala sobre as eleições de São Paulo, a frente ampla e a campanha de Guilherme Boulos para a prefeitura da capital. Do silêncio sobre a Frente Ampla até a convivência pacífica com ela, a independência de classe é o que ficou no meio do caminho.

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

sexta-feira 27 de novembro de 2020 | Edição do dia

Em debate com o MES na semana anterior ao primeiro turno, a CST-UIT havia declarado que "O próprio PSOL, partido que ajudamos a fundar em conjunto com os companheiros, nos últimos anos infelizmente retrocedeu bastante do ponto de vista político, adotando muitas vezes um discurso impulsionado pelo PT. Hoje, por exemplo, em cidades importantes, como Florianópolis e Belém, está compondo frentes eleitorais não apenas com o “velho progressismo” petista, mas com partidos diretamente burgueses, como o PDT ou a REDE. A batalha no partido ainda está em curso, mas falar do PSOL como um polo de aglutinação da esquerda sem citar a necessidade de reverter esse curso político, nos parece outro erro que cometem os companheiros. E o exemplo de SP, com o crescimento de Boulos ao redor da frente de esquerda PSOL, PCB e UP, mostra que podemos seguir outro caminho que não seja o da frente ampla."

Após o primeiro turno das eleições municipais, no qual a direita herdeira da ditadura saiu fortalecida, o debate sobre como enfrentar o bolsonarismo e a direita deveria levar à conclusão de que a independência de classe é uma política vital para a esquerda brasileira. No entanto, ao invés de fortalecer essa batalha política, os companheiros da CST-UIT parecem ter se deixado levar pelas perspectivas meramente eleitoreiras e esqueceram até mesmo do que haviam defendido em debate com outras organizações do PSOL dias trás.

Diante da ida do PSOL ao segundo turno em São Paulo, disputando contra o Covas e o golpista PSDB de Doria, essa organização ficou muito tempo em silêncio sobre a formação de uma frente ampla com partidos burgueses, que também é uma frente para um possível governo de Boulos e quando se pronunciou foi para “apesar das críticas”, defender que “levar Boulos à prefeitura virando votos é a tarefa dos próximos dias”.

A formação desta frente ampla na candidatura de Guilherme Boulos, quando todos os holofotes estão virados para o partido, deveria ser justamente o momento de reafirmar uma política de independência de classe e fortalecer a necessária batalha contra a repetição do caminho pela conciliação de classes. De nada adianta se isentar dessa batalha fundamental para depois, quando “a poeira baixar”, soltar notas meramente testemunhais.

Como já colocamos em diversos artigos, os partidos que compõem essa frente não são somente aqueles de conciliação de classes, como PT e PCdoB, mas também partidos burgueses e golpistas, como a Rede, PDT e PSB. Ao não travar uma luta séria e consequente contra essa política de alianças e compromissos com burgueses e empresários, a CST-UIT se limita apenas a fazer alertas dizendo que “Lula, Ciro, Dino e Marina representam projetos de conciliação de classes ou até diretamente burgueses”. Terminam por integrar essa frente que quer conquistar a prefeitura, mesmo que isso seja em base a compromissos assumidos com burgueses e a moderação da política e programa, ou seja, a repetição da velha fórmula da conciliação petista, só que numa versão piorada por estarmos em meio a um regime político ainda mais degradado. Uma posição bastante incoerente para uma corrente que diz se apoiar na experiência da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade (FIT-U) na Argentina e reivindicar as resoluções da Conferência Latino Americana e dos EUA convocada por essas organizações esse ano. Diga-se de passagem, todo o conteúdo da Conferência foi de delimitação com esse tipo de experiência, portanto, se a CST-UIT quer seguir convivendo com a linha da frente ampla que não o faça em nome da Conferência Latino-Americana.

Ainda que busquem delimitar sua política daqueles que veem positivamente formação da frente ampla, a CST-UIT acaba por realizar uma crítica meramente formal e se abster de dar um combate contra a frente ampla formada. Enquanto o Boulos no anúncio da sua frente para segundo turno diz que possui “enorme orgulho de mostrar essa Frente, que vai construir essa campanha com a gente na reta final e vai governar São Paulo junto com a gente”. A conclusão da CST-UIT na sua nota é que “A grande tarefa que temos pela frente é estar nas ruas durante esses dias, virando votos, debatendo com a população e fortalecendo um projeto de esquerda para São Paulo e para o Brasil. Concomitantemente a isso, seguiremos fazendo os debates sobre os rumos da esquerda brasileira sabendo que após as eleições temos que nos preparar para enfrentar nas ruas os ataques que os governos pretendem implementar na classe trabalhadora.”

Em poucas linhas se concentram enormes contradições que passam longe de uma política revolucionária como a defendida pela tradição marxista. Não é possível fortalecer um projeto de esquerda apenas pela via de virar votos, por fora de organizar a mobilização e impulsionar a luta dos trabalhadores e da população, o que se dá sobretudo pela via extraparlamentar. Essa adaptação se expressa também em como colocam que a tarefa de se preparar para enfrentar os ataques seria algo somente para depois das eleições, sem nem sequer mencionar que o centro de uma campanha da esquerda nesse momento deveria ser essa política. Um eleitoralismo pesado e uma contradição que só pode ser explicada por sua enorme adaptação eleitoreira a essa frente com partidos burgueses.

Por fim, chama atenção que no artigo de debate com a formação desta frente, a CST-UIT praticamente não fala sobre o papel da Rede, PDT e PSB no regime político brasileiro. A Rede de Marina Silva foi forte defensora da Lava Jato e da prisão arbitrária do Lula, e os deputados do PSB fizeram muitos dos discursos em defesa do impeachment na Câmara. O silêncio sobre esses fatos ocorre porque essa organização não vê no golpe institucional do 2016 um ponto de inflexão que abriu espaço para todos os grandes ataques contra a classe trabalhadora e a população e para o fortalecimento da extrema direita bolsonarista, do autoritarismo judiciário e da maior militarização na política. Ao não colocar no centro esse combate contra esse regime do golpe institucional, como parte da batalha para que a classe trabalhadora possa dar uma resposta política de forma independente diante da crise capitalista e da luta contra Bolsonaro e Mourão, a CST-UIT acaba se adaptando politicamente aos aliados burgueses da frente ampla que o PSOL conformou e deixa de lado a batalha política pela independência de classe dos trabalhadores e da esquerda.

Uma verdadeira batalha contra a direita de Covas e Dória, a extrema-direita de Bolsonaro e todo o regime golpista não é possível de ser feita se aliando com os partidos burgueses e golpistas que apoiaram enormes ataques à classe trabalhadora. Os governos petistas são exemplos de onde desemboca essa trilha. Por isso, nós do MRT estamos levando a frente essa luta contra a frente ampla, que é fundamental para a construção de uma alternativa dos trabalhadores que supere o PT pela esquerda.




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