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LAVA-JATO E AMÉRICA DO SUL | A 24ª fase da Lava Jato e os giros à direita na superestrutura política sul-americana

Simone IshibashiRio de Janeiro

sábado 5 de março de 2016 | 01:14

As páginas de todos os jornais do país e do mundo estão sacudidas hoje pela ofensiva da Operação Lava Jato contra Lula. Em mais uma ação midiática importante, o juiz federal Sergio Moro, cujas relações com o imperialismo já discutimos aqui e aqui, mandou a polícia federal à casa de Lula, que foi levado para prestar depoimento durante 3 horas. Essa movimentação enfraquece o governo Dilma, e recoloca o tema do impeachment, poucos dias antes da realização de um ato convocado por todos os partidos burgueses opositores.

O justo sentimento de raiva e rechaço que se expressa entre trabalhadores, jovens e população contra o mar de lama que é essa democracia dos ricos no Brasil, e contra as demissões e o ajuste que assola o país exige que se façam análises justas sobre a situação. E isso implica na necessidade de não cair na tentativa da direita de canalizar essa raiva popular para seus reacionários interesses, que envolvem atacar ainda mais os trabalhadores.

Mas também de não cair na manobra expressada na declaração de Lula em sua autodefesa, em que defende uma mentira, uma realidade completamente oposta à atual, como se não existisse ajuste do PT. Lula, para legislar em causa própria, inventou um país em que os pobres e os trabalhadores seguiriam gradativamente tendo melhorias de vida, e não ataques e demissões.

Aumento da subserviência ao imperialismo marca a situação atual

Esse novo capítulo da Lava Jato tem repercussões que transcendem os limites nacionais. Se insere no marco do fim de ciclo dos governos pós-neoliberais da América Latina, e do giro à direita da superestrutura política dos países da região. Isso tem como pano de fundo uma importante recessão que golpeia o país, e que se combina às desacelerações econômicas nos principais países da América do Sul, que corroeram a legitimidade dos governos pós-neoliberais.

O que por sua vez, preparou o terreno para uma ofensiva aberta do imperialismo norte-americano de reconquistar posições na América Sul, à qual sempre consideraram seu quintal. Isso tem se expressado em praticamente todos os países da região. Na Venezuela o imperialismo apoiou o direitista MUD. Na Argentina apoiou setores direitistas como Maurício Macri, recém eleito presidente argentino.

No Brasil o salto na subserviência imperialista encontra-se tanto no governo, quanto na oposição e nos dirigentes da Lava Jato. Isso vemos no próprio giro à direita do governo Dilma, que recentemente avançou escandalosamente na entrega do pré-sal, aderindo ao projeto apresentado por José Serra. Isso é mais uma demonstração que aqui a ofensiva imperialista encontra aberta ressonância tanto no governo Dilma, que está protagonizando os ajustes e entregando as riquezas do país, como entre os opositores, que estão por trás da Lava Jato.

As próprias relações que Sergio Moro, juiz que está adiante da Operação Lava Jato, têm com monopólios imperialistas e o próprio PSDB, tal como demonstramos aqui. Inclusive, após o anúncio da 24 fase da Lava Jato, toda a imprensa noticiou como as bolsas subiram, e como o dólar caiu. Não se pode descartar que através de seus meios de comunicação, em aliança com a Globo, o imperialismo inclusive alente a marcha que está convocada pela direita no dia 13 de março.

Medidas bonapartistas na América do Sul

Retomando o exemplo da Argentina, Mauricio Macri representa uma direita ferozmente ajustadora, carnalmente ligada aos empresários, e que busca lançar sobre as costas dos trabalhadores e do povo ônus da desaceleração econômica. Está legislando “por decreto” a favor das grandes empresas, e dos setores capitalistas mais concentrados, com demissão massiva de funcionários públicos, e aplica um tarifaço contra a população, aumentando serviços como a luz em 900%. Essa necessidade de atacar é o que está por trás das medidas bonapartistas, absolutamente autoritárias, como a “lei antipiquete” em que deixa às forças repressivas mãos livres para decidir quais manifestações podem ocorrer e quais não.

A isso, a resposta dos trabalhadores foi uma enorme paralisação que reuniu dezenas de milhares de pessoas, que rechaçaram ativamente a lei contra as manifestações. Os parlamentares da FIT, integrada pelo PTS, estão na linha de frente da resistência dos acordos com os fundos abutres que o governo está pactuando com o imperialismo, e seus parlamentares estão defendendo que todo político ganhe o mesmo que uma professora.

Em nosso país, essa movimentação com traços bonapartistas, que não podem estar a favor dos trabalhadores e do povo, encontra sua expressão nas ações do STF e MPF, e no Congresso Nacional através das manobras pelo impeachment. Como já discutimos aqui. os setores mais à direita dos mesmos políticos que roubam o povo cotidianamente, aliados a juízes que mantém relações também carnais com setores do PSDB e de monopólios imperialistas, estão buscando se apropriar da justa revolta dos trabalhadores, do povo e da juventude contra a corrupção e o mar de lama que assola o país, para imporem uma saída reacionária e favorável aos seus próprios interesses.

O impeachment é, portanto, uma tentativa de avançar nessas medidas bonapartistas, bem como o poder inquestionável que o Judiciário assumiu, que servem na verdade não para aprimorar a democracia e combater a corrupção, como alegam os partidos burgueses opositores ao governo, eles mesmos corruptos até a medula dos ossos. Mas todo o contrário, serviria para aumentar o ritmo dos ajustes contra os trabalhadores por parte da direita. Portanto, essa perspectiva se consolida, isso poderia significar um equilíbrio ainda mais à direita na superestrutura política da América do Sul.

A necessidade de uma saída independente

No entanto, não é do atendimento dos apelos de Lula, de sair em sua defesa, que esse panorama pode ser barrado. Os trabalhadores e a juventude precisam ser independentes também da impunidade petista. Entender que o impeachment em nada pode favorecer nossos interesses e rechaça-lo não significa em nenhum nível cair no chamado de Lula e da CUT, que agora se concentrará em defender Lula, e como esperado, esquecerá a entrega do pré-sal por Dilma, ou os ataques que o governo desfere contra a classe trabalhadora.

É por isso que devemos lutar por uma saída independente, tal como a FIT expressa na Argentina, que ligue a resistência aos ajustes do PT à luta contra a corrupção, não através da Lava Jato, mas através de uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana. Essa deve estar baseada na mobilização dos trabalhadores e do povo, para que se imponha a anulação da entrega das riquezas nacionais ao imperialismo, para que se termine com todas essas medidas bonapartistas que se voltarão contra os trabalhadores, impondo que todo político ganhe o mesmo que uma professora, e que possam ser revogados pelo povo, e não pelo STF ou pelo MPF, essas também instâncias cheias de corruptos. É com essa perspectiva que novos ventos podem soprar na América do Sul.




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