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8 DE MARÇO | 8M: o movimento de mulheres retorna às ruas em um mundo em convulsão

Como se preparam as mobilizações para o Dia Internacional das Mulheres. Protestos, marchas e paralisações em um mundo atravessado por múltiplas contradições.

Pão e Rosas@Pao_e_Rosas

quarta-feira 27 de fevereiro de 2019 | Edição do dia

Muitas coisas mudaram no mundo em que milhões de pessoas marcharam no último Dia Internacional da Mulher.

Greves, mais ou menos simbólicas, paralisações, protestos e assembleias reuniram nas principais cidades aquelas que são a maioria entre quem trabalha em condições precárias, recebem menores salários, vivem abaixo a linha da pobreza e são privadas de direitos elementares, como a decisão sobre seus próprios corpos. É o caso da Argentina, mobilizada em 2018 como nunca antes pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito (que não foi legalizado quando as instituições deram as costas para essa massiva reivindicação).

O avanço da direita, em um ritmo desigual, mas com muitas expressões na América e na Europa, marca necessariamente a agenda de muitas mobilizações devido ao fato de setores conservadores colocarem as mulheres e os lgbts no centro de seus ataques. Desde o presidente brasileiro Jair Bolsonaro - herdeiro do golpe institucional - até a formação de extrema direita na Andaluzia (VOX), ou o discurso abertamente misógino do presidente norte americano Donald Trump, adotaram bandeiras reacionárias como lutar contra a “ideologia de gênero” ou retroceder em direitos conquistados com décadas de lutas e mobilizações.

Por sua vez, os planos de austeridade e de ajustes de vários governos retiram ou eliminam programas de saúde da mulher, assistência às mães, de luta contra a violência machista, entre outros. Estes cortes afetam diretamente na vida da maioria das mulheres, justamente quem recai as tarefas domésticas e de “cuidado” da família. Neste contexto é que se desenvolvem as mobilizações deste 8 de março de 2019.

Enfrentar os poderosos, defender nossos direitos

Em vários países, como parte da preparação para o 8 de março, se debatem as diferentes estratégias que atravessam o feminismo e o movimento de mulheres. Independência política, negação em transformar-se em peça chave dos governos e as pressões para “abaixar a voz” de nossas reivindicações em tempos eleitorais estão entre as principais discussões, enquanto as mulheres estão na primeira linha da batalha contra a direita reacionária, os planos neoliberais e a ingerência dos governos imperialistas - evidente na ofensiva dos EUA na Venezuela, como acontece no Brasil, Argentina e no México.

FRANÇA e seus coletes amarelos são um dos símbolos de resistência contra os governos, como o de Emmanuel Macron, que aplica planos de austeridade para que a maioria da população pague os custos de um sistema que só garante as ganâncias dos empresários. Os atos de cada sábado, com protestos (e repressão policial) são uma inspiração - às vezes chegando nas ruas da Bélgica - para quem não se resigna. As mulheres são, apesar da imagem que se reproduz nos meios de comunicação, protagonistas das lutas, e isso é parte dos preparativos para o 8 de março.

No BRASIL, o enorme ataque de Bolsonaro contra as mulheres e os LGBTs e a violência policial e estatal, cujo ponto mais alto é o assassinato ainda impune de Marielle Franco, marcam a fogo as bandeiras do 8 de março, assim como o rechaço às reformas trabalhista e da previdência. Se os resultados são catastróficos para toda a população, é ainda mais para as mulheres que são a maioria entre os setores mais precários e com salários mais baixos, especialmente as jovens negras. O grupo de mulheres Pão e Rosas participa em SP, RJ, MG e nos principais estados do país de assembleias e atividades de construção deste 8 de março.

No CHILE, o movimento de mulheres voltará a ocupar as ruas para protestar contra os planos neoliberais de um dos modelos da direita regional. A mobilização neste ano se prepara para travar batalha contra os planos neoliberais do presidente Piñera e suas medidas repressivas especialmente contra a juventude, que é protagonista dos movimentos sociais que fizeram tremer o cenário chileno nos últimos anos.

No ESTADO ESPANHOL, uma série de encontros decidiram o conteúdo e as ações do 8 de março deste ano. O rechaço às políticas xenófobas têm um lugar destacado junto à convocação da greve dos servidores. Em 2018, vários sindicatos se somaram à convocatória a uma greve de 24h, enquanto as grandes centrais sindicais somente convocam greve durante 2h. O grupo de mulheres Pão e Rosas, também aqui, batalha pela necessidade de fortalecer a luta das mulheres conjuntamente aos pensionistas, imigrantes e a classe trabalhadora.

No MÉXICO, as que se rebelam contra a exploração marcaram o início de 2019. A greve das trabalhadoras e dos trabalhadores em Matamoros (Tamaulipas) por salários dignos e melhores condições de trabalho. Com a marca destas trabalhadoras, novamente o grupo de mulheres Pão e Rosas luta para fazer acontecer de fato uma paralisação que se discute na coordenadoria de sindicalistas da União Nacional de Trabalhadores e a Nova Central de Trabalhadores. A luta contra a precarização estará entre as principais demandas junto às redes de tráfico e feminicídios, um flagelo diário contra as mulheres e meninas mexicanas.

O movimento de mulheres segue sendo um ator político inevitável

Os protestos inflamados pela luta contra a violência de gênero e por direitos iguais (que são negados e em defesa daqueles que estão sob ataque) inundaram as ruas de muitas cidades do mundo. Assim, o feminismo e o movimento feminista atuam, de várias maneiras, como porta voz do descontentamento que existe em uma sociedade inundada em uma crise socioeconômica por anos. Algo semelhante acontece quando os partidos de extrema direita se mostram como poços de misoginia, homofobia e transfobia. Com tanto machismo, homofobia e violência contra as mulheres, as “democracias” mostram a sua pior cara, com incontáveis cortes em programas sociais tais como os relacionados à saúde reprodutiva, o aborto legal, o combate à violência, etc. Isso mostra claramente a vontade dos governos, seja da direita ou mesmo daqueles supostamente progressistas, que sacrifica o que for necessário para manter os privilégios de uma classe minoritária que vive do trabalho da maioria e se beneficia sem remorsos da opressão a milhões de pessoas.

Desde a surpreendente e massiva Marcha das Mulheres nos Estados Unidos em 2016, de "boas vindas" ao presidente Trump, o movimento de mulheres - que durante décadas foi mantido fora das ruas - volta a se manifestar nas ruas e se mostra como uma nova geração. É este o caso da França, onde há muitos debates sobre as mulheres do movimento dos coletes amarelos , expressando às vezes a ideia de “lutar pelo pão, mas também pelas rosas”.

Na ALEMANHA, pela primeira vez desde 1994, está sendo preparada uma “greve das mulheres”. As reivindicações mais importante são a defesa do direito ao aborto, que está novamente sob ataque por parte da direita alemã, e a luta pela igualdade salarial. As lutas das trabalhadoras da saúde contra a precarização acontecem ao passo que as mulheres se dão conta de que são maioria na classe trabalhadora. Como no Estado Espanhol, o rechaço às políticas racistas encabeçará as manifestações deste ano. Mas o que farão os sindicatos? Até o momento se negam a convocar qualquer medida, mais nos lugares de trabalho já começa a aparecer diversas discussões sobre formas de protestos.

Nos encontros nacionais para a preparação dessa greve de mulheres, o “Brot und Rosen” (Pão e Rosas, em alemão) insistiu em diferentes lugares de trabalho na exigência aos sindicatos, para que os trabalhadores pudessem participar da greve. Ao mesmo tempo, o tempo, impulsiona nas escolas maneiras de unir as lutas onde as mulheres são protagonistas de diferentes maneiras.

As reivindicações que retornam às ruas neste 8 de março

O direito ao aborto legal, seguro e gratuito continua a ser uma das principais bandeiras em muitos países. Na Argentina, apesar de algumas manobras iniciais para diminuir o tom desta reivindicação durante o ano eleitoral e das interferências da Igreja Católica, a demanda pelo aborto legal voltará às ruas.

Em países como Bolívia, Uruguai e Costa Rica, o dia 8 de março será uma oportunidade para demonstrar a validade das reivindicações do movimento de mulheres. Na Bolívia, duas ações centrais estão sendo preparadas: na cidade de El Alto e na cidade de La Paz.

As reivindicações que vão encabeçar as marchas se concentram nos direitos das mulheres trabalhadoras e indígenas e na luta contra a violência machista e patriarcal. No Uruguai, há a preparação para uma grande manifestação (e se discute uma grande paralisação, diferente do ano passado em que a central PIT-CNT convocou paralisação com adesão somente de algumas poucas categorias. Na Costa Rica, há uma mobilização marcada pelos ataques dos legisladores da direita evangélica e pelas tentativas do partido "progressista" para que não cresça a demanda pelo aborto legal, seguro e gratuito. O Fórum do Aborto, uma instância de debate e organização na Universidade da Costa Rica (que o Pão e Rosas faz parte), se propõe formar um bloco independente para esta exigência de retornar às ruas de San José neste 8 de março.

Nesses países, o grupo de mulheres Pão e Rosas também insistiu, além de exigir das centrais sindicais e indígenas, uma convocação da luta em unidade, para manter a independência política do movimento como única maneira de garantia que nossos direitos não se transformarão em uma moeda de troca entre os partidos e os capitalistas, que já mostraram que não estão interessados ​​na vida da enorme maioria das mulheres.




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