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OCUPAÇÃO PARANÁ | 800 ocupas e das lições que se aprende com as secundas paranaenses: lute como uma garota!

Assim como foi em São Paulo, assim como foi no Rio, assim como foi em todos os momentos da história em que tiveram levantes de juventude em luta pelos seus direitos, aqui no Paraná as mulheres e os LGBT também dão o pontapé e são linha de frente das ocupações secundaristas.

quinta-feira 20 de outubro de 2016 | Edição do dia

Cheguei em Curitiba em um domingo de manhã e logo fui para uma ocupação secundarista, no Colégio Estadual Tiradentes. Chegando lá fui muito bem recebida pelos estudantes que ficaram bastante animados com a idéia de uma mídia independente querer ver de perto e fazer cobertura de sua luta. “Mas você veio de tão longe só pra ver nossa luta???”, me perguntaram ali, e a pergunta se repete a cada novo colégio visitado. Sim, eu vim, porque vocês estão fazendo história e a grande mídia quer apagar isso. Viemos dar voz a vocês, colocar nossa imprensa independente e militante à serviço de sua luta.

Ando pela ocupação, é um colégio bem pequeno, poucos espaços, algumas pessoas jogam vôlei, outras fazem o almoço, outras discutem diversos temas, sempre políticos. Mas logo na linha de frente, cuidando da alimentação, cuidando da comunicação, me explicando como foi que tudo aconteceu, é notável: são as minas e os LGBT que tomam pra si a frente dessa luta em defesa da educação, de seus direitos. Como sempre foram.

Os dias seguem, escolhemos um colégio para nos alojar nesses dias e seguir com as visitas a outros. Ficamos no Colégio Estadual Rio Branco, onde pediram ajuda para seguir uma ocupação que ainda sentia as dores do parto. Ali no CERB, esse protagonismo feminino e LGBT é, além de nítido, muito consciente. Ali as estudantes ocupadas remarcam isso a todo momento, “aqui são as mulheres e LGBT a frente, nós sentimos muita opressão e nunca podemos falar, agora vamos ocupar para sermos ouvidas”.

Alunas do Colégio Estadual Rio Branco no Paraná falam sobre a Ocupação de sua escola. E de como as mulheres e LGBT são a linha de frente desse processo de luta contra os ataques do governo golpista de Temer, como a reforma do ensino médio e a PEC 241

Ao longo desses poucos dias, algumas visitas em Colégios. E em todos que fomos, foram garotas que nos receberam, ou quando não era, ao explicarmos quem éramos e que queríamos gravar um depoimento, diziam para aguardar porque outra pessoa que conversaria com a gente. E aí então chegava uma garota.

No CE Julia Wanderley a primeira coisa que perguntei ao chegar foi quem era Julia Wanderley, já que colégios com nomes de mulheres não são comuns. Ali as meninas já se animaram e começaram a explicar que ela liderou um movimento em defesa de que as mulheres pudessem freqüentar o secundário, até então permitido apenas para os homens, sendo que foi a primeira aluna de uma tradicional escola e, posteriormente, a primeira mulher nomeada pelo Poder Executivo do Paraná para exercer o magistério. Isso era motivo de bastante orgulho daquelas garotas que ali lutavam, fazendo jus à luta de Julia Wanderley, que se enfrentou para garantir o direito das mulheres de estudar. E agora, essas meninas lutam para garantir o direito de toda juventude estudar. Lutam como Julia Wanderley, lutam como uma garota.

Tive também a oportunidade de participar de uma assembleia unificada dos colégios ocupados de Curitiba, que contou com dois representantes eleitos de cada colégio. Ali também as mulheres eram ampla maioria, não precisava muito esforço para enxergar isso, bastava correr os olhos sobre aquela grande roda de adolescentes para notar a expressiva presença feminina. Outro elemento que saltou aos olhos e ouvidos foi o rechaço às burocracias estudantis, havendo um consenso de que a UPES e a UBES não apenas não aparecem para somar, mas atrapalham e tentam roubar a luta, se colocar a frente para passar por cima das decisões coletivas dos estudantes.

Ao mesmo tempo em que ocorria essa assembléia, do lado de fora do Colégio Estadual do Paraná, os coxinhas do MBL tentavam provocar os estudantes, filmá-los, distorcer os motivos da luta e fazer chacota, além de divulgar mentiras completamente descabidas em sua página. E para não permitir que eles entrassem no Colégio, não permitir que fizessem vídeos, agredissem estudantes – como fizeram – diversos estudantes, incluindo muitas meninas, se colocaram a tarefa de fazer a segurança e bateram de frente com aqueles reacionários. E como a direita responde às mulheres que enfrentam o machismo? Com mais machismo! Uma estudante foi assediada por um deles, que se achou no direito de passar a mão pelo seu corpo. Mas a mina não deixou barato, levou a denúncia até o fim, porque nos nossos corpos apenas nós mandamos e decidimos quem coloca a mão.

E assim, em cada processo de luta que a juventude sai à frente, com destaque para as ocupações secundaristas que há quase um ano vem se expressando pelo país, em ondas, como o que se tem de mais avançado na organização estudantil, as mulheres se levantam, não se calam, não aceitam mais não serem ouvidas.

Cada processo revolucionário que aconteceu na História contou com o pontapé inicial feminino, e agora não seria diferente. Vim até o Paraná para poder ver de perto o fenômeno que continuamente se desenvolve por aqui – já são mais de 800 ocupações, sendo que acontecem entre 100 e 150 por dia! – e ajudar a colocar para fora essa luta que a grande mídia esconde. Mas chegando aqui, eu que aprendi grandes lições com essas lutadoras: ou se luta como uma garota, ou a luta não será vitoriosa!




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