Ontem (17) ocorreu a primeira etapa do ENEM 2020, mesmo em meio ao aumento de casos de coronavírus no país e apesar da forte mobilização de estudantes pelo #AdiaENEM. A realização da prova foi marcada por recorde histórico de abstenções e estudantes impedidos de fazer a prova.
segunda-feira 18 de janeiro de 2021 | Edição do dia
Foto: Igo Estrela/Metrópoles
O índice de abstenção neste primeiro dia de ENEM ficou em 51,5%, a maior em toda a história do ENEM. Em termos de comparação, no ano anterior, em 2019, a abstenção no primeiro dia ficou em 23%. Sendo que o recorde de abstenção, até então, havia sido registrado em 2009, com 37,7%.
Além disso, houveram relatos de estudantes que foram impedidos de fazer o ENEM por conta da lotação das salas, que estavam com a ocupação já reduzida por conta da COVID. Os casos foram registrados em diversos estados pelo país, entre eles São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Inep declarou que estes estudantes poderão realizar a prova em 23 e 24 de fevereiro.
Esses casos demonstram tremenda falta de organização e irresponsabilidade do MEC e do Inep que, ao mesmo tempo que garantiram a exclusão de mais de 50% dos inscritos no ENEM, impediram a participação de outros estudantes que estiveram presencialmente no local da prova. Essas são as consequências da política levada a frente pelo governo negacionista de Bolsonaro e Mourão que, junto do apoio do Congresso e do STF, mantiveram a data do ENEM 2020 para janeiro, mesmo em meio ao agravamento da pandemia no país, garantindo a elitização do ensino superior enquanto precarizam e atacam o ensino público.
Mesmo diante desse cenário caótico, o Ministro da Educação Milton Ribeiro disse que a realização do ENEM foi “algo vitorioso”. Acompanhado do presidente do Inep, Alexandre Lopes, que declarou que a aplicação foi “tranquila do ponto de vista sanitário”. Quando, na verdade, as imagens divulgadas nas redes sociais foram de enormes aglomerações em frente aos locais de prova.
não vai ter aglomeração no enem eles disseram pic.twitter.com/m5Vblg9tU3
— not fernanda (@gunstheory) January 17, 2021
“sem aglomeração”, eles disseram. é do enem direto pro hospital pic.twitter.com/c1siSbdsId
— guilerme (@masokgui) January 17, 2021
O ENEM, assim como os demais vestibulares, são historicamente filtros sociais e raciais que impedem anualmente milhares de jovens de cursar o ensino superior, garantindo a elitização das universidades. Com a pandemia, essa característica excludente das provas vestibulares se agrava. Além do medo da contaminação, que diga-se de passagem afeta não só os estudantes que se ausentaram como também os que estavam presentes, o ensino a distância aprofundou ainda mais a desigualdade entre as escolas públicas e privadas. O EAD fez com que milhares de estudantes da escola pública, em sua grande maioria os filhos da classe trabalhadora, não tivessem nem mesmo acesso às aulas, o que dirá garantir um estudo de qualidade para realização do ENEM.
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O governo de Bolsonaro e Mourão, assim como o Congresso e o STF, junto do Inep, são responsáveis por essa situação e pela aplicação do ENEM 2020, que marca historicamente o aprofundamento da exclusão social no ensino superior. Contra essa desigualdade, é preciso lutar pela real democratização do ensino superior, o que passa por defender o fim do vestibular e a estatização sem indenização das universidades privadas, garantindo que toda pessoa que deseja possa cursar o ensino superior, sem precisar passar por uma prova que irá filtrar quem teve melhor acesso à educação ou então sem precisar se endividar em instituições privadas.