×

MASSACRE ORLANDO | 49 de Orlando: quando não dá mais pra esconder a LGBTfobia! Os líderes políticos e religiosos são responsáveis

Na madrugada do dia 12/06 Omar Matten entrou na boate Pulse, em Orlando, EUA, com uma convicção: assassinar o maior número de LGBT’s possível! Antes de ser abatido, matou 49 e feriu 53, no maior massacre dos EUA após os atentados contra as Torres Gêmeas.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

Adriano FavarinMembro do Conselho Diretor de Base do Sintusp

quinta-feira 23 de junho de 2016 | Edição do dia

Os representantes políticos mais conservadores, tendo o candidato republicano à presidência, Donald Trump à frente, se apressaram em negar qualquer elemento de LGBTfobia na ação e a reduzir o massacre a um ato terrorista, se apoiando na declaração do assassino e na reivindicação do Estado Islâmico sobre o atentado. No Brasil, essa posição teve eco entre figuras como o Pastor Deputado Marco Feliciano (PSC), que chegou a dizer que “grupos de LGBT [estariam usando] o atentado em Orlando para se promover”.

Essas declarações escandalosamente LGBTfóbicas vem encontrando eco em parcela cada vez mais significativa da opinião pública e por isso devem ser categoricamente repudiadas. Mas não menos ofensivo com as LGBT’s é o discurso majoritário que outros tantos representantes políticos e religiosos têm propagado: a ideia de que a LGBTfobia existe, mas seria apenas fruto do extremismo islâmico, de grupos minoritários de ódio, ou de próprios LGBT’s que não saberiam lidar com sua sexualidade. Ou seja, tentam apagar a existência da LGBTfobia social e transformar suas vítimas em parte das estatísticas criminais de fanáticos ou doentes mentais.

O problema é que casos como o massacre de Orlando, ou as vítimas mortais diárias por esses crimes no Brasil (só esse ano duas pessoas trans tem sido assassinadas por dia), são apenas a expressão mais violenta de uma construção cotidiana de invisibilização, preconceito e ódio aos LGBT’s. Essa construção opressora se dá a partir de todas as instituições sociais – família, igreja, escola, trabalho, mídia – e com respaldo de todos os Poderes do Estado – Legislativo, Judiciário e Executivo.

Temos que evidenciar que a LGBTfobia não se limita aos casos extremos de violência e agressão. Quando não se discute educação sexual e de gênero nas escolas a sociedade avança para formar novos Omar Matten. Quando o Estado impede que as pessoas trans possam ter acesso ao nome social sem burocracia, quando os órgãos médicos caracterizam a transsexualidade como doença ou quando não existe centros de saúde referenciados para o cuidado e tratamento de mulheres lésbicas ou pessoas trans, a sociedade avança para uma legalização da inferioridade social das LGBT’s. Quando as leis do Estado punem ou criminalizam a homossexualidade ou impede a união estável, casamento e direitos iguais – como a adoção – para casais homossexuais, a sociedade avança para uma estigmatização e perseguição das LGBT’s.

Quando a mídia reproduz piadas e ironias com práticas sexuais e estereótipos relacionados as LGBT’s, quando os pais inibem as expressões naturais da infância dos seus filhos por pré-conceitos moralistas acerca de como deve se portar um menino e uma menina (tratando de maneira pejorativa aquilo que fuja da norma), a sociedade avança em construir sujeitos sexualmente reprimidos e politicamente reacionários. E o mais importante, quando as instituições religiosas se fundem totalmente com o Estado, toda essa opressão alcança um poder de polícia contra as LGBT’s, e o próprio Estado passa a atuar, na sua totalidade, como Omar Matten. Seja em países católicos, como Uganda, seja em países muçulmanos, como Arábia Saudita e Irã.

Quanto maior a vinculação entre a Igreja e o Estado, maior a opressão social contra as LGBT’s. É necessário exigir a separação da Igreja do Estado. Para isso, as LGBT’s precisam resgatar os métodos e os debates de estratégia das organizações LGBT’s dos fins da década de 60 e 70, a partir da batalha de StoneWall para planificar as relações de produção social e, assim, soltar as amarras das relações de reprodução impostas nessa sociedade.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias