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TRABALHO PRECÁRIO | 45% dos trabalhadores dos bandejões da USP estão doentes

Republicamos aqui, matéria de 04 de agosto de 2015 e, infelizmente, ainda atual.

terça-feira 4 de agosto de 2015 | 16:04

Os bandejões da USP servem cerca de 10.000 refeições todos os dias. Uma produção em escala industrial feita há anos sem a contratação do quadro de trabalhadores necessários ao atendimento da demanda que não para de crescer com as filas quilométricas.

Esta situação, somada à ausência das medidas mais elementares para preservar as condições de saúde dos trabalhadores leva a um cotidiano de trabalho alucinante que vem provocando ano a ano o adoecimento de boa parte dos trabalhadores em decorrência de movimentos repetitivos, queimaduras, exposição do corpo ao calor e ao frio etc. É assustadora a quantidade de casos de trabalhadores com tendinite, bursite, problemas de coluna, cistos nos membros superiores, quedas com fraturas e outros tipos de lesões decorrentes da falta crônica de trabalhadores, agravada com as demissões no PIDV e o fim da contratação de funcionários determinada pelo reitor Marco Antônio Zago, a sobrecarga de trabalho, que aumentou com o fechamento do restaurante da Prefeitura.

Além disso, muitos trabalhadores se queixam todos os dias do assédio moral das chefias e das dores que sentem em casa depois do trabalho. Segundo Vilma Maria que trabalha há 26 anos no bandejão “Aqui falta muita gente pra dar conta do trabalho. No passado já foi muito pior, a gente tinha que descascar na mão caixas e caixas de batata, mandioca, chuchu e outras verduras, foi assim que eu fiquei doente. Isso não quer dizer que hoje esteja bom, porque vejo muitos funcionários mais novos que com pouco tempo já acabam adoecendo. Até pra descansar somos maltratados, fizeram nosso lugar de descanso do lado de um motor.”

De acordo com Elenice Rocha, trabalhadora do bandejão há 8 anos “Já se tornou comum ouvir colegas reclamando de dores nos braços, nas pernas e coluna porque o trabalho aqui é muito pesado, eu mesmo sempre ando com analgésicos e anti-inflamatórios pois sinto muitas dores. Deixamos nossa saúde no trabalho e levamos dores e doenças para o resto da vida.”

Uma trabalhadora que pediu para não se identificar por medo de represália das chefias disse que “O congelamento da contratação de funcionários feita pelo reitor agora significa aumentar mais o risco de vida de cada funcionário, aumentar mais as doenças, isso quer dizer que cada um vai ter que fazer o serviço por uma duas ou três pessoas, todos os serviços que nós fazíamos aqui foram sendo terceirizados e com a terceirização foram se extinguindo os funcionários.”

No “Relatório da análise ergonômica do trabalho realizada no Restaurante Central da USP” realizado no ano de 2014 pelo Departamento de Engenharia da Produção da Fundação Carlos Alberto Vanzolini, ligada a Escola Politécnica concluem que:

“nos diversos processos de higienização, pré-preparo e cocção dos alimentos os trabalhadores tem uma alta exigência dos membros inferiores e superiores uma vez que as atividades ocorrem predominantemente em pé, exercendo um grande desgaste físico nos funcionários. (...). O desconforto térmico também aparenta ser constante uma vez que o ambiente tem temperaturas elevadas e umidade excessiva, provenientes do vapor no preparo dos alimentos bem como as torneiras que permitem a saída de água do caldeirão que além de aumentar a temperatura ambiente podem oferecer riscos de queimadura no contato próximo do trabalhador (...). As situações de sobrecarga física durante a jornada de trabalho somam-se ás condições de exposição que podem se apresentar de forma simultânea, gerando riscos físicos, biológicos e químicos, tais como ruídos, temperaturas elevadas, umidade, pouca ou nenhuma ventilação, vapores, reação no contato com produtos de limpeza, choques elétricos, etc, além das exigências de tempo, ritmo, vigilância e percepção para de um lado não se acidentar e de outro garantir a qualidade e quantidade de alimento.”

Esforço repetitivo: 2.500 movimentos por dia somam 12.500 repetições por semana

Estas condições de trabalho contrariam até mesmo as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e a legislação trabalhista que responsabilizam os patrões e instituições empregadoras pela implementação obrigatória de medidas “visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho (...).” (NR09).

De acordo com Marcello Pablito que trabalha no bandejão há 8 anos e é integrante da CIPA “São cerca de 206 trabalhadores espalhados por 6 bandejões, destes, 45% estão comprovadamente doentes por causa do trabalho!! É uma absurdo que na USP os trabalhadores tenham que pagar a crise da universidade com a sua saúde física e mental. Na semana passada mesmo, mais uma companheira de trabalho quebrou o braço em uma queda dentro do restaurante, foi ao HU e teve que voltar com o braço pendurado porque não tinha sequer material para fazer uma tipóia. Os responsáveis por esta situação são o Superintendente da SAS e o reitor que estão desmontando a USP, proibindo as contratações e demitindo trabalhadores condenando os que sobraram a uma condição completamente insustentável de trabalho, estes trabalhadores estão sendo largados à própria sorte adoecendo por trabalhar.”




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