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PT E O GOLPE | 38 dias de governo golpista, 38 dias que o PT aceita o golpe

sábado 25 de junho de 2016 | Edição do dia

Dirigentes presos, outros intimados a depor, uma operação de busca e apreensão no apartamento funcional de Gleisi Hoffmann e outra, com direito a grande aparato militar, na sede paulista do PT. Frente a isso, uma tímida nota do partido dizia apenas que “O Partido dos Trabalhadores condena a desnecessária, midiática, busca e apreensão realizada na sede nacional de São Paulo. (...) monta-se uma operação diversionista na tentativa renovada de criminalizar o PT.”

No parlamento, os deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous criticaram a “espetacularização” da operação, seguindo o tom da nota oficial do partido, e o líder do partido no Senado, Paulo Rocha, afirmou que a operação contra o PT surge exatamente quando estão vindo à tona denúncias contra os adversários do partido, numa alusão às recentes investidas da Lava Jato contra PSDB e PMDB. Gleisi Hoffmann adotou o mesmo tom, dizendo que “Não me cabe outra explicação que não o desvio de foco da opinião pública deste governo claramente envolvido em desvios, em ataques aos direitos conquistados pela população. Garantir o impeachment é tudo o que mais lhes interessa neste momento”.

O PT “muda de ideia” sobre a Lava-Jato

Contudo, não se ouviu nenhuma declaração de Lula nem Dilma. Se no dia de sua condução coercitiva Lula fez bravatas contra a operação Lava Jato, hoje o que se vê é um discurso muito diferente: já não há a condenação da Lava Jato como uma manobra política, mas sim a sua defesa, desde que pegue também os políticos aliados aos golpistas.

Como já dissemos em outros artigos, há de fato uma disputa no judiciário sobre a melhor forma de conduzir a Lava Jato, com setores como Janot querendo “limpar a cara” do golpe por meio de avançar sobre essa ou aquela figura do PMDB e PSDB (sempre preservando o tucanato paulista), e Gilmar Mendes querendo preservar os golpistas até o fim, centrando fogo sobre os petistas.

Vendo a brecha de táticas distintas no judiciário, o PT muda seu discurso a respeito da Lava-Jato e adota uma linha que lembra mais os discursos da Luciana Genro e outros setores do PSOL, louvando a operação desde que ela "aja corretamente". Um duplo discurso se cria: quando as prisões são realizadas contra políticos golpistas, a Lava-Jato é muito boa; quando é contra os petistas, é um descalabro midiático. É isso que vemos na declaração do deputado Paulo Pimenta, que disse que “Não se vê esse espetáculo quando o alvo prioritário é o PMDB, que teve seu presidente de honra, do Senado e da Câmara denunciados num esquema de milhões de dólares e contas no exterior”. Ou no de Gleisi Hoffmann e no da nota anteriormente citados, que condenam a ação contra o PT como "distração" diante da "parte boa" da Lava-Jato que foi pra cima de seus adversários golpistas.

De fato, a “operação midiática”, com militares fortemente armados entrando na sede do partido e grandes conduções coercitivas foi reservada ao PT, e possuía o claro intuito de pavimentar o caminho do golpe e, agora, de consolidá-lo frente às seguidas debilidades que vem mostrando o governo Temer. Por que, então, a resposta do PT se limita a notas de internet e declarações pífias e rotineiras no parlamento? O PT não tem força para mais do que isso?

Um silêncio sobre o golpe digno de uma “oposição bem comportada”

Por mais que tenha sido vencido pelos golpistas, o PT não perdeu ainda seu lugar como um partido de sólida inserção no movimento de massas, com o peso de MST, UNE, CUT e CTB a serviço de sua política. A possibilidade de mobilizar essas bases para contundentes ações contra o golpe, como paralisações e greves, era concreta e estava ao alcance da mão do poderoso aparato partidário e sindical petista.

Mas, como bons burocratas, os petistas temem muito mais os de baixo do que os de cima. É preferível aos dirigentes petistas ver membros de seu alto escalão sendo presos e tentar explorar alguma divisão no poderoso “partido judiciário”, que cada vez mais vem se consolidando como árbitro político da crise instaurada, do que tentar mobilizar suas bases operárias, de sem terras e camponeses e de juventude para derrubar os golpistas com o braço vigoroso da ação das massas. Porque, uma vez despertado o gigante que é a classe trabalhadora brasileira, ele não vai voltar a dormir facilmente, nem aceitará mais passivamente os ataques que o PT terá que implementar para seguir sua estratégia de conciliar as classes e tirar com a mão direita tudo aquilo e muito mais do que deu com a mão esquerda.

O que o PT quer é tentar voltar por meio de um acordo no Senado, talvez o de convocar eleições antecipadas; ou ainda como alternativa eleitoral em 2018, frente a um governo golpista que certamente se desgastará cada vez mais para implementar os duros ataques exigidos pela burguesia e pelo imperialismo. Dessa forma, ele ainda pode manter seus privilégios. A Lava-Jato, afinal, por mais que vá pegar seus bodes expiatórios, não pode sair do controle e vai acabar sendo suprimida por negociações nas alturas mais cedo ou mais tarde, como bem demonstraram os áudios de Romero Jucá e Sérgio Machado, entre outros.

Dessa forma, os burocratas sindicais e a maior parte da cúpula petista ainda pode manter seus privilégios e, com sorte, ser uma “carta na manga” da burguesia para quando PMDB e PSDB não conseguirem mais dar conta do recado. Uma bravata aqui e outra ali contra a Lava-Jato e o golpe, para “posar na foto” para sua base à esquerda; conter as greves no movimento operário por meio de sua burocracia sindical, sabendo manejar essa força para poder negociar melhor nas alturas; e esperar o momento certo para voltar ao poder pela via eleitoral, sem jamais abrir mão de negociar com os setores mais podres da burguesia e da política nacional, como fez em seus treze anos de governo.

A prisão dos dirigentes petistas ligados a milionários esquemas de corrupção e propina é mais uma mostra de até que ponto o PT se adaptou ao esquema da política burguesa. Corrupção e enriquecimento ilícito, favorecimento em licitações em troca de financiamento de campanhas: tudo vale em nome de seus privilégios e da manutenção de seus cargos. O tempo passou e o PT que defendia ser o "partido da ética" já não se distingue de seus adversários de ontem, tendo mergulhado de cabeça na lama da política burguesa.

Construamos uma alternativa dos trabalhadores e dos de baixo frente aos golpistas e à "oposição bem comportada" petista

Dessa direção não podemos esperar nada. A organização dos de baixo, como nas lutas dos secundaristas, na greve das universidades estaduais paulistas, nos massivos atos de mulheres contra a cultura do estupro, mostram o caminho a seguir. O exemplo que vem da França, com a juventude despertando para ser seguida pela colossal classe trabalhadora, que paralisou usinas, trens e diversos setores chave da economia, e vem dizendo ao governo de Hollande que a reforma trabalhista não passará. No México, os professores de Oaxaca travam uma luta duríssima contra a assassina repressão policial, que já fez ao menos oito mortos. E no Chile a juventude continua nas ruas, lutando contra os carabineiros do governo pela educação gratuita.

É somente com esse tipo de luta que poderemos derrotar os ataques de Temer, e seus primeiros recuos, como na recriação do Ministério da Cultura ou na manutenção do Minha Casa, Minha Vida Entidades são uma pequena demonstração disso. Mas nossos sindicatos seguem nas mãos dos burocratas da CUT, ou, ainda pior, dos sindicalistas assumidamente golpistas, como o canalha Paulinho da Força. É necessário exigir em cada local de trabalho que os sindicalistas da CUT e CTB botem nossas entidades na linha de frente da luta contra o golpe. Não aceitaremos sua postura passiva enquanto seus dirigentes fazem a “oposição bem comportada” dos parlamentos e dos elogios à Lava-Jato.

E, a partir das lutas, temos que dar um passo a mais. Para acabar com os privilégios dos políticos, os ataques dos patrões para nos fazer pagar pela crise, a corrupção, os estupros, os assassinatos da polícia, só botando de pé uma Assembleia Constituinte a partir de nossos combates. A partir dela poderemos colocar nossas propostas para mudar efetivamente o regime político. Não será pelas mãos da Polícia Federal que virá nenhum tipo de justiça para os trabalhadores. A revogabilidade de cargos políticos e eleição dos juízes, os salários como os de uma professora, o confisco de todos os bens dos corruptos, todas essas e outras medidas só podem ser tomadas pela organização dos explorados e oprimidos dessa sociedade. Como parte desse combate, nós do MRT lançaremos candidaturas operárias e de juventude nas eleições para alçar nossas lutas ao patamar político, e convidamos todos a tomar para si esse combate junto conosco.




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