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MARCHA PELA EDUCAÇÃO NO CHILE | 150 mil pessoas, rumo à mobilização do dia 21 de maio

sexta-feira 15 de maio de 2015 | 01:21

Há menos de um mês se desenvolveram duas marchas em Santiago, com 150 mil pessoas em cada uma, com um objetivo claro: continuar a luta pela educação gratuita e expressar o rechaço contra um regime político totalmente deslegitimado pelos conhecidos casos de corrupção. Nesta quinta-feira, 14 de maio, voltou a se repetir uma jornada cheia de energia, luta e combatividade que não esteve isenta de uma forte repressão por parte dos Carabineros, efetuada ao final do ato principal próximo do monumento de “Los Heroes” e também das cercas da Universidade de Santiago. Além disso, em Valparaíso, foram assassinados dois jovens que estavam participando da mobilização, e que, quando aparentemente estavam colando uma tela ou cartaz em uma parede, receberam tiros do dono de um local. A resposta da população não se deixou esperar e já foram convocadas “Velassos” pelas redes sociais em distintas regiões do país como Valparaíso, Santiago e Temuco.

Por lá, se respira um ar de luta, questionamento, exigência e um ambiente de querer transformar as coisas, pois ninguém mais está conformado com o tipo de sociedade que nos rodeia. A vontade de recuperar cada um dos direitos fundamentais das pessoas, arrebatados na Ditadura, percorreram uma vez mais as ruas de Santiago e das principais cidades do país. Mas esta jornada de luta não é um fato isolado, é expressão de anos de combatividade nas ruas, de organização, de assembleias, marchas, ocupações e paralisações.

É assim que a marcha do 14M foi precedida por processos de mobilização a nível local em distintas estruturas estudantis, como foi a paralisação de dois dias da Faculdade de Filosofia e Humanidades da Universidade do Chile ou a paralisação indefinida que estão levando adiante os estudantes da Faculdade de Humanidades da USACH.

A estas mobilizações se somaram cortes de rua e protestos na Universidade Alberto Hurtado, uma massiva marcha interna na Universidade do Chile e a posterior ocupação da Casa Central desta instituição [espécie de Reitoria], a ocupação exercida pelos estudantes da Universidade Central e a ocupação na Faculdade de Humanidades da Universidade da Fronteira.

A este descontentamento se soma o rechaço nacional dos professores contra a Carreira Profissional Docente, proposta pelo Governo, fato que é parte da mobilização nacional que os professores protagonizaram no ano passado e das constantes manifestações que vem exercendo ao longo do país.

Milhares de estudantes e professores ombro a ombro lutando pela educação gratuita

A marcha, que partiu por volta do meio dia, esteve encabeçada por estudantes da Universidade Católica que foram enfáticos em manifestar que Ricardo Sande (presidente da federação estudantil) não os representa, com inclusive um dos gritos de rechaço ao dirigente estudantil fazendo alusão a proximidade política de Sande com Jaime Guzmán (professor colaborador de Pinochet, na Ditadura).
Além disto, a frente da marcha estavam também estudantes da Universidade Do Chile, de distintas carreiras e faculdades: história, filosofia, artes plásticas, história da arte, veterinária, direito, faculdade de engenharia, odontologia, entre outras.

Após esta coluna marcharam os estudantes do “Ex pedagógico” tanto de carreiras como artes, filosofia, castelhano, acompanhados por estudantes da USACH, onde as carreiras da Faculdade de Humanidades se encontram em greve como jornalismo, inglês, história, filosofia. Também marcharam cursos e carreiras da USACH como química, pedagogia em física, engenharia de alimentos, administração pública, faculdade tecnológica entre outras.

Uma das características da marcha foi a massiva presença de professores de distintos municípios e estabelecimentos educacionais, que se mobilizaram de mãos dadas com os estudantes, expressando fortemente seu rechaço a atual proposta do Governo sobre a questão docente e educacional. Neste sentido, Daniel Faúndez, professor do colégio Jorge Huneeus Zegers, do município de La Pintana, se referiu a proposta da Carreira Profissional Docente, colocando que “é parcial e insuficiente e a verdade é que o fato de que não seja universal, já que por exemplo a proposta do Colégio de Professores não leva em conta os docentes de colégios particulares, deixa de fora muitos professores que deveriam todos ter a mesma estrutura salarial, as mesmas condições trabalhistas e os mesmos direitos”.

A agrupação de professores “Nossa Classe” se fez presente mais uma vez, exigindo uma Carreira Profissional Docente discutida de maneira universal, desde as bases, em assembleias, colocando a importância de lutar por uma educação gratuita, pelo pagamento da dívida história, pelas 50/50 horas letivas e não letivas, por melhores condições de trabalho, onde enfatizaram muito a importância da sindicalização e a recuperação do Colégio de Professores para lutar por todas as demandas do grêmio docente.

Os cartazes, faixas e gritos contra a educação de mercado e contra a “casta penta” [Casta de políticos de direita envolvidos em escandalo de corrupção com a empresa PENTA NdT], percorreram as ruas a todo momento com gritos como “tem dinheiro para boletos e não para estudar”, “não a pentacarreira docente”, “que a casta penta não decida por nós”, ou “este 21 a atrapalhar o parlamento”, escutaram-se durante toda a mobilização, demonstrando assim o rechaço pelas autoridades e as instituições que mantém intactas as privatizações aos direitos básicos e a educação de mercado e desigual. Ao final da marcha também estiveram presentes os ex-presos políticos da Ditadura, há semanas em greve de fome exigindo suas justas demandas.

A massiva mobilização estudantil e de professores terminou perto do monumento “Los Héroes” com um ato que foi interrompido pela repressão dos Carabineiros que atacaram os estudantes tanto neste local como também na USACH, onde um estudante teve uma grave lesão ocular como produto do disparo de uma bomba de gás lacrimogêneo dentro da Universidade, situação que já se repetiu em outras oportunidades.

Também, como foi mencionado, em Valparaíso, dois jovens estudantes da Santo Tomás foram assassinados por um inquilino, que lhes atirou em plena tarde, fato que ainda está sendo investigado e que já ganhou o repúdio do conjunto da população.




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